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É mais fácil um Camelo passar pelo crivo da Lei Rouanet do que um artista abandonar a esquerda. E essa atração fatal entre nossos artistas – ou o que se chama de artista por aí com elasticidade maior do que a do Dr. Fantástico – e o estado costuma ter explicação bem comezinha.

Sim, há também o romantismo dos utópicos. Sim, a síndrome de Peter Pan se faz presente, e coroas bancam o eterno rebelde revolucionário sem qualquer noção do ridículo. Mas muitas vezes é mais simples seguir a sugestão dos detetives: follow de money!

A coluna de Ancelmo Gois noticiou neste domingo: “Vem aí um musical sobre os Los Hermanos, a banda carioca. O nome provisório do espetáculo é “Pormenores” e deve ter direção de João Falcão. A Sapo Produções acaba de ser autorizada a captar R$ 8.374.290, pela Lei Rouanet”. Mais de oito milhões?! Eu não sabia que havia tanto interesse pela banda cuja única canção marcante, “Ana Júlia”, data de 1999…

Eu sei, eu sei: de gustibus non est disputandum. Há quem goste de Mozart, e há quem aprecie MC Bin Laden. Assim como há quem goste de música e quem prefira barulho. Deveria haver um limite, sem dúvida, mas sou liberal, e que cada um possa curtir o que der na telha – ainda que a telha seja de barro.

Mas daí a liberar mais de R$ 8 milhões em benefícios fiscais para um musical sobre os Los Hermanos vai uma longa distância. Se é para isso que existe a lei, então é melhor acabar com ela. Se é isso que o Minc chama de “fomentar a cultura”, então é melhor um povo “inculto”.

Até porque, convenhamos, qual a cultura de Camelo? O vocalista da banca, não custa lembrar, declarou voto… em Dilma Rousseff! É um povo “culto” assim que desejamos? Mas o “artista” só pensa no vil metal, o mesmo que denuncia quando vem do duro trabalho de empreendedores, por exemplo. Quando Maria Bethânia levantou mais de um milhão para um blog de poesias, Camelo saiu em sua defesa da seguinte forma:

O compositor acusa, no fundo dessas questões, o que chama de “fundamentalismo materialista”. Um pensamento que sustentaria a reação (“De uma classe média dateniana, com um caráter denuncista escroto”) à autorização dada pelo Ministério da Cultura para que o blog de poesia de Maria Bethânia captasse R$ 1,3 milhão. E o recente debate em torno dos direitos autorais.

– As pessoas entendem o valor de uma barra de ouro, mas não entendem o valor de Bethânia declamando poesia – afirma. – Da mesma forma, pensam que é justo baixar música de graça, não pagar direito autoral em baile de carnaval… Sem música de Braguinha você não faz baile! O segurança ganha, o cara que vende confete ganha, só o autor, que dá sentido àquela festa, não ganha. Nesse debate, estou à direita da direita. Se for questionar propriedade, questiono primeiro a da barra de ouro, um elemento químico que existe independentemente de nós.

Eis aí a “direita da direita”: pro inferno com a propriedade dos outros, dos ricos empreendedores, daqueles que criam empregos e riqueza, mas não venham mexer nos privilégios dos “artistas”, nas tetas estatais em que eles mamam, nas vantagens concedidas pelo estado, especialmente aos mais engajados na defesa da concentração de poder e recursos no mesmo estado.

A paixão pelo estatismo socialista é irresistível, não é mesmo? São milhões e milhões de motivos para tanto amor. Já num mundo liberal, essa turma teria que viver apenas do gasto voluntário do público. Já pensou que coisa terrível para alguns?

Rodrigo Constantino

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