Fonte: G1| Foto:

Os nadadores americanos que prestaram queixa de um suposto assalto no Rio mentiram sobre o crime e, na verdade, brigaram com seguranças de um posto de gasolina que fica a caminho da Vila dos Atletas, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, segundo as investigações da Polícia Civil.

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Agentes da Delegacia de Especial de Apoio ao Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat) estão com imagens do circuito interno do estabelecimento que mostram a confusão entre Ryan Lochte, James Feigen, Gunnar Bentz e Jack Conger e os funcionários do posto.

Segundo o vídeo e relatos dos funcionários, os medalhistas olímpicos chegaram por volta das 6h, já alterados, possivelmente por já estarem com nível etílico alto e começaram a fazer bagunça no estabelecimento, que fica ao lado de uma unidade hospitalar. Com isso, os funcionários reclamaram, e teve início a confusão.

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De acordo com os investigadores da Deat, os americanos estavam muito alterados. Taambém há informações de que eles teriam quebrado a porta do banheiro do posto de gasolina. A briga terminou por volta das 6h30m, quando os atletas embarcaram num táxi e deixaram o local. Os policiais disseram que a qualidade das imagens não é boa, mas ajudarão no inquérito.

Toda essa história está muito estranha, os depoimentos são contraditórios, e a polícia brasileira tem todo o direito de impedir a saída dos que ainda estão no Brasil do país, até se esclarecer esse caso todo. Não importa se são atletas olímpicos: a igualdade de todos perante as leis é um valor da civilização liberal, e os americanos, ícones dessa civilização, serão os primeiros a compreender isso.

Mas calma! Já tem um monte de gente nas redes sociais usando o caso isolado para transformar tudo numa batalha entre Brasil e Estados Unidos, como se os “malditos gringos” levassem uma imagem ruim – e falsa – para fora. Vejo a coisa de forma diferente: os americanos, sabendo da nossa realidade, usaram a violência do Rio como pretexto para suas “aventuras”, sabendo que havia boa chance de colar.

Reinaldo Azevedo escreveu um texto bom sobre o assunto. Nele, levanta as suspeitas sobre o caso, com as várias contradições, e conclui:

É claro que não é o caso de criar uma celeuma internacional, mas tudo indica que os quatro rapazes resolveram apenas se divertir um pouco. Só que apelaram a uma coisa séria.

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A violência na cidade no Rio, em período não olímpico, é proverbial. Casos escabrosos correram o mundo nos dias antecederam o início do evento. E mesmo depois disso. Esse tal assalto, por exemplo, mereceu ampla cobertura internacional.

Não é o caso de bater o pezinho e dizer: “Essezamericânu tão pensânu o quê? Isso aqui não é uma bagunça, não!”. Vamos ser claros, né? O país é meio bagunçado, mas o trabalho de segurança dos Jogos Olímpicos parece que tem sido feito com seriedade e competência.

Talvez o quarteto imaginasse que ninguém iria se importar muito com um assalto a mais ou menos no Rio. Ou que isso já faz parte da nossa “cultura”, integrando, como diria aquele técnico francês, as nossas “bizarrices”.

Pois é… Pode-se arriscar a sorte achando isso e atuando como se fosse verdade absoluta. Mas é preciso arcar com as consequências.

Os nadadores devem explicações, precisam contar a verdade, e podem ser processados por falsa queixa de crime. Dito isso, os ufanistas mais assanhados devem tomar muito cuidado para: 1) não transformar o ato isolado de alguns americanos bobões em uma disputa entre nações, o que seria ridículo; e 2) não achar que, por esse caso aparentar ser mentira, a ideia de que o Rio é muito inseguro e violento seja falsa também. Leandro Ruschel resumiu bem a coisa:

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Se os nadadores americanos mentiram sobre serem assaltados, que sejam punidos pela falsa comunicação de crime. Agora, dizer que os estrangeiros em geral exageram sobre a criminalidade na cidade e no país é de uma hipocrisia tremenda. Todo mundo sabe que o Brasil virou zona de guerra. Ao invés de ficar ofendidinhos com essa simples constatação, temos que resolver o problema.

Exato. De nada vai adiantar tapar o sol com a peneira, dizer: “Estão vendo? São uns mentirosos esses caras que detratam nosso querido Rio de Janeiro!”. Não. O Rio é um cenário de guerra civil velada, dominado pelo crime. Os americanos, sabendo disso, provavelmente inventaram uma mentira achando que iam se safar, justamente porque o contexto é absolutamente crível.

Nosso foco deve ser em mudar o contexto, em torná-lo inverossímil para gaiatos que vão farrear e depois tentam jogar a culpa para cima da alta criminalidade da cidade. Se tudo tivesse acontecido na Suíça, os nadadores continuariam sendo mentirosos, mas poucos acreditariam em suas histórias. Eis o ponto!

Rodrigo Constantino