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Não esperem que a oposição seja governo
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Esses são os pais da criança, da crise econômica. Quem pariu Mateus que o embale!

A sobrevivência do ministro Joaquim Levy no cargo esteve ameaçada esses dias, e o sinal de alerta veio quando Levy faltou ao anúncio do ajuste fiscal por uma suposta gripe. Nesse ambiente de incerteza, muitos cobram da oposição uma postura mais amigável, ou seja, querem que os tucanos ignorem a política e ajudem a presidente Dilma a aprovar as medidas dos ajustes, que têm em vários petistas uma forte resistência. Mas será que a oposição deveria agir assim? E será que ao não agir assim, ela estaria indo contra o Brasil?

Não acho que seja tão simples, e escrevi aqui um texto sobre isso, rebatendo argumentos do professor Denis Rosenfield. Nele, concluí: “Que Brasília dê o exemplo, cortando na carne. Que o governo acabe com vários ministérios inúteis, que venda estatais usadas como cabides de emprego ou fontes de recursos partidários, que corte o cordão umbilical com ONGs e “movimentos sociais” igualmente partidários, que termine com diversas regalias dos políticos, etc. Aí sim, a oposição seria muito irresponsável se ficasse contra só para torcer pelo quanto pior, melhor”.

Não sou o único a achar que é hora de a oposição, que já é um tanto uma “oposição”, agir com mais firmeza contra o governo e deixar que os “gregos” se entendam. Ou seja, quem pariu Mateus que o embale! Em seu blog hoje, o economista Mansueto Almeida, ligado aos tucanos, seguiu linha semelhante de raciocínio, lembrando que o mundo não é preto ou branco como querem muitos economistas. Os políticos precisam levar em conta outros fatores. Diz ele:

Se a oposição fosse seguir a risca a sugestão de alguns dos meus amigos, excelentes economistas que se preocupam com o futuro do Brasil, talvez fosse melhor a oposição se coligar ao PT e ajudar, com muita paciência, os políticos do PT entenderem o que é responsabilidade fiscal.  Claro que uma parte da oposição teria que deixar a política porque o governo talvez não queira na sua base aqueles com discurso mais liberal.

Estabelecer que aqueles que votam contra ou a favor do pacote de ajuste fiscal é o mesmo que votar “contra” ou a “favor” do Brasil é de um simplicidade espetacular e fere o cálculo politico de deputados e senadores de oposição. O PT com a sua política de confronto e com o seu discurso dúbio em relação ao pacote de reformas, a insistência que a crise é fruto de problemas externos e não de erros de política econômica, e ainda um Ministro da Casa Civil que é tido pelos seus ex-colegas do Senado como excessivamente arrogante impossibilita, pelo que observo nas minha andanças no Senado, qualquer acordo multipartidário “a favor” do Brasil.

[…]

A crise atual decorre de irresponsabilidades do governo nos últimos anos, de sua política econômica desastrada, além do uso politico das estatais. O PT deveria estar em uma cruzada para dar apoio ao ajuste fiscal e convencer a oposição de ajudá-lo no que “é melhor para o Brasil”. Sem uma atuação mais firme do PT e da Presidente da República na defesa do ajuste fiscal, acho que muitos dos senadores da oposição votarão contra as medidas que serão apreciadas no Senado esta semana (MP 664 e MP 665) e outras medidas que estão por vir, em especial, as medidas de aumento de carga tributária que é a preferência do PT como falam os jornais hoje.

[…]

Em resumo, em um momento que alguns senadores do PT começam uma cruzada aberta contra o ajuste e o ministro da fazenda, não esperem que o socorro venha da oposição, a mesma que, por tantas vezes, defendeu o governo de 2003 a 2005.

[…]

Ou seja, chegamos em um ponto no qual para ser otimista alguns se negam a acreditar na presidente e esperam que o PT critique as medidas de ajuste publicamente mas volte ao governo.

E tem gente que quer ver a oposição defendendo as medidas do governo pensando no futuro do Brasil? Por favor, há situações que um pouco mais de crise, algo muito ruim no curto prazo, pode ter um efeito benéfico tanto institucional quando de longo prazo. É claro que se as coisas piorarem todos os partidos precisão sentar a mesa par negociar, mas ainda estamos longe desse ponto como alertou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em palestra que escutei dele em Fevereiro.

Cabe ao governo liderar o esforço do ajuste fiscal e abrir canal de comunicação com a oposição como fez de 2003 a 2005. Não esperem que a oposição seja governo.

Acho que Mansueto está coberto de razão. O que pedem do PSDB é algo um tanto absurdo: querem que o partido ajude Dilma nos bastidores, enquanto o PT continua posando de oposição ao doloroso ajuste fiscal. Querem que a oposição seja mais realista que o rei. Querem que todo o fardo das medidas impopulares recaia sobre quem não os criou, enquanto o PT segue fingindo que não tem nada a ver com o caos econômico. Querem que a crise seja colocada na conta do “neoliberalismo”. Agir assim não seria agir em prol do Brasil, mas sim agir de forma estúpida, ao menos do ponto de vista político.

A crise sem os ajustes será ainda maior? Que seja! Talvez essa represente nossa única alternativa para efetivamente limpar as sujeiras deixadas pelo “desenvolvimentismo” petista. Há males que vêm para o bem. Demandar que a oposição seja governo é pedir demais da conta. Que o governo se vire com o monstro que criou…

Rodrigo Constantino

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