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Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal

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Uns gaiatos cariocas estão correndo um abaixo assinado pedindo ao Vaticano a canonização de Mr. Willis Carrier, o norte americano que inventou o ar condicionado.  Fala-se até em colocá-lo como padroeiro da cidade, numa dobradinha com São Sebastião.

Não há como negar que W. Carrier é merecedor de muitas homenagens, principalmente por ter propiciado um aumento exponencial no nível de conforto de milhões de seres humanos, mundo afora – um verdadeiro milagre da tecnologia.

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Brincadeiras a parte, um eventual abaixo assinado desse tipo jamais sensibilizaria o papa Francisco, que parece não concordar com os benefícios humanos do ar condicionado.  Na Encíclica “Laudato Si”, o atual ocupante do trono de Pedro escreveu de forma taxativa:

“Um exemplo simples [de hábitos nocivos do consumo] é o uso crescente  e a força do ar condicionado”. Os mercados, que se beneficiam imediatamente das vendas, estimulam a demanda cada vez maior. Um alienígena, ao olhar para o nosso mundo, ficaria espantado com tal comportamento, que às vezes parece autodestrutivo.”

Com todo respeito que Sua Santidade merece, ele deveria vir ao Rio dizer isso às famílias faveladas, que moram sob lajes escaldantes e não medem sacrifícios para conseguir adquirir um aparelho de ar-condicionado que possa aliviar-lhes o calor intenso e dar-lhes agradáveis noites de sono.

Ademais, ao contrário do que imagina Sua Santidade, o ar-condicionado, longe de ser o vilão da história, é uma poderosa ferramenta para salvar vidas. Dois anos atrás, o “National Bureau of Economic Research” publicou um estudo concluindo que o ar-condicionado reduziu as mortes relacionadas ao calor nos Estados Unidos em 80 por cento, e poderia salvar ainda mais vidas em países quentes, muitas vezes mais pobres.

O problema do Papa é que, ao contrário do que ele gostaria, no capitalismo pessoas como Carrier são movidas pelo lucro e pelo auto-interesse, não pelo altruísmo, mas logo percebem que só conseguirão prosperar caso seu esforço e seu trabalho beneficiem um número crescente de pessoas.  Não por acaso, a grande maioria dos homens que mais benefícios trouxeram à humanidade não eram movidos por ideais altruístas, mas pelo desejo de prosperidade individual.

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De acordo com o site “Science Heroes”, os dois indivíduos que até hoje mais contribuíram para salvar vidas humanas foram Carl Bosch e Fritz Haber.  Trabalhando juntos para as Indústrias BASF, um dos ícones do capitalismo ocidental, os dois cientistas foram responsáveis pela criação de fertilizantes à base de amônia, a partir da sintetização do nitrogênio e do hidrogênio presentes na atmosfera.

Vaclav Smil, em seu livro “Enriquecendo a Terra”, diz que a importância para o mundo moderno do processo criado por Haber e Bosch é maior do que… o avião, a energia nuclear, o voo espacial ou a televisão. A expansão da população mundial, de 1,6 bilhão de pessoas em 1900, para 6 bilhões em 2000 simplesmente não teria sido possível sem a descoberta de Bosch e Haber.

Como esta, a imensa maioria das criações humanas, que beneficiam bilhões de indivíduos mundo afora, e muitas vezes representam a diferença entre a vida e a morte (vacinas, remédios e equipamentos hospitalares, por exemplo), é resultado não de intenções altruístas e benevolentes, mas pura e simplesmente de lucro e interesses próprios.  Em outras palavras, como magnificamente descreveu Adam Smith, nas economias de livre mercado, os indivíduos, na busca de seus próprios ganhos, são levados, por uma espécie de “mão invisível”, a trabalhar pelo bem geral.

Por outro lado, a ignorância histórica e econômica, bem como as ideologias igualitárias retrógradas, como as encampadas pelo Papa Francisco, só produziram miséria e sofrimento.