Arnaldo Jabor é um tipo curioso: quando resolve fazer um mea culpa de sua juventude comunista, escreve ótimos artigos dissecando o modus operandi dos velhos companheiros e sua mentalidade. Com isso, virou inimigo dos petistas.
Mas quando o assunto é política americana, todo seu ranço de juventude vermelha vem à tona, turvando sua capacidade de raciocínio e o guiando por preconceitos enraizados. A imagem que ele faz dos Republicanos é totalmente caricata, ridícula.
Em sua coluna de hoje, comentando o último filme de Spielberg com Tom Hanks, que eu também comentei aqui, Jabor destila todo esse preconceito à direita americana, vista por ele como um bando de malucos autoritários, de fascistas paranoicos.
Mesmo no clima da Guerra Fria, ele acha que o problema maior estava no anti-comunismo, não no próprio comunismo. Para ele, Joseph McCarthy era o grande perigo para a nação, não os simpatizantes da União Soviética e todos que estavam a soldo do regime totalitário. Chamar Obama de “esquerdista”, para Jabor, já é coisa de paranoico fascista.
Jabor não foi capaz de deixar para trás sua época de high school na cidade da Flórida que parecia com o cenário de Truman Show, como eu também já descrevi Weston, onde moro. Para ele, tudo aqui é feito para obsessivos paranoicos, para uma classe média estúpida que não sai da frente da TV, a menos que seja para comer hambúrguer ou torcer como um imbecil para seu time de football ou baseball.
Talvez Jabor esteja comparando a média da média americana, já de forma caricata, com a elite do Leblon ou de Paris. Será que se ele for ao Maracanã num clássico ele verá leitores de Schopenhauer e Nietzsche debatendo o pessimismo na filosofia? A visão que Jabor tem do americano conservador é lamentável, patética.
Ele resolveu demonizar Bush, um presidente que de fato não foi grandes coisas (ainda assim melhor do que Obama, idolatrado por Jabor). Enxerga-o como um cowboy idiota. Mas o que ele tem a dizer de Ben Carson, o neurocirurgião religioso? E de Ted Cruz, o texano defensor da Constituição? E de Marco Rubio, da Flórida, descendente de cubanos que limpavam pratos para sobreviver? Talvez Carly Fiorina seja realmente muito pior do que Hillary Clinton…
A análise que Jabor faz da política americana é totalmente enviesada e furada. Ele coloca o problema na direita republicana, nos conservadores “fascistas” e “paranoicos”, em vez de olhar como os Democratas migraram para a esquerda desde o seu tempo de menino. Ele ignora que Obama é um Lula mais moreno que só não causou maior estrago porque as instituições republicanas resistiram. Não diz nada sobre a crise dos emails envolvendo Hillary Clinton, o que atesta contra sua honestidade. Não emite uma palavra sobre o socialista assumido Bernard Sanders, que disputa a vaga com Clinton.
Enfim, quando se trata de política americana, Jabor é como um típico eleitor do PT no Brasil: um ignorante, cego por ideologia, incapaz de enxergar um palmo diante do nariz. Alguém que realmente se preocupa com o futuro americano por conta daqueles que desejam resgatar os valores dos pais fundadores da América, e não por conta daqueles que mais parecem os típicos populistas latino-americanos que só falam em “desigualdade”, colocando pobres contra ricos, não entendeu absolutamente nada do que está acontecendo por aqui.
É impressionante que Jabor tenha conseguido abrir um dos olhos para ver tudo de errado que defendeu quando se trata de Brasil, e continue com o outro olho fechado quando olha para a terra do Tio Sam, alimentado ainda por um claro antiamericanismo patológico dos tempos de comuna.
PS: Se Jabor sofreu bullying no high school da Flórida, ou se pegaram a menina que ele amava, ou se aconteceu qualquer outro trauma marcante naquela época para deixar cicatrizes profundas que afetam a forma de ver o mundo e os Estados Unidos, o lugar certo para lidar com isso é num divã, não cuspindo na grande nação que os “pais fundadores” americanos criaram e que os conservadores desejam preservar, contra o avanço populista.
Rodrigo Constantino
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