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O fascista interior de Marcelo Coelho, editor da Folha, e as inversões da esquerda
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O Brasil cansa. Pessoas que lutam por decência e valores morais básicos são consideradas “golpistas” ou “fascistas” por aqueles que defendem bandidos ou promiscuidade. É tanta inversão que dá até preguiça de rebatê-las. Mas são os ossos do ofício, então vamos lá.

Em sua coluna de hoje, Marcelo Coelho, que é membro do Conselho Editorial da Folha de SP, revela seu “fascista interior”. E de onde veio esse lado obscuro? Ele viu um jovem descolado em sua “bike”, com óculos modernos, e bateu aquela raiva, aquela inveja, algo ainda maior, que ele tentou descrever como  mais profundo, vindo das entranhas: o fascismo.

Coelho usa o termo como sinônimo de autoritário e intolerante. Ele assume que a simples visão daquele ciclista despertou nele algo irracional, uma vontade de xingar, pois colocava em xeque todo o seu “eu”, quem ele é. Eu até poderia recomendar um divã, mas meu receio é que o escritor saísse ainda pior, pois poderia cair no consultório de um Contardo Calligaris da vida, colega de coluna no caderno Cultura da Folha, e que também escreve coisas parecidas.

Onde começam as inversões grotescas? Coelho usa esse episódio bobinho para transformar em potenciais fascistas “brucutus” todos aqueles seres normais que estão meio saturados da indecência, da degradação de valores morais, da sexualização precoce promovida pela imprensa, do hedonismo irresponsável, das campanhas promíscuas dos movimentos de “minorias” etc. Aquela velhinha que sente cheiro de podre no ar da modernidade: ela seria a fascista terrível pela ótica do autor, que diz:

O brucutu contemporâneo diz, por exemplo, não ter nada contra os homossexuais, os crossdressers, os transgênero.

“Nada contra, mas…”. Mas não quer, por exemplo, que eles andem pela rua, que “façam propaganda” de seu modo de ser, que façam a “apologia” de seu próprio estilo.

Fundamentam esse veto com uma desculpa. Toda aquela “publicidade” terá o efeito de desorientar crianças e adolescentes, levando-os a um caminho que não iriam seguir sozinhos.

É mentira, claro. Ninguém se tornará transexual se não quiser. O que perturba o intolerante não é isso. Talvez ele se ressinta da superioridade do homossexual, da drag queen.

Reparem que não aprovar a apologia aos transgêneros, que a TV Globo tem promovido, por exemplo, equivale-se a desejar que gays não andem mais nas ruas! É com essa mistura maluca que Coelho vai pintando cada cidadão comum como fascista brucutu, para incutir culpa nele.

E notem a pior parte: a preocupação dessa gente toda não é com os efeitos nocivos dessas campanhas de libertinagem e baixaria na TV, mesmo em horários voltados para o público infantil, pois no fundo escondem o que realmente lhes perturba: a superioridade da drag queen!

Sim, somos todos uma cambada de ressentidos, pois olhamos um transsexual e obviamente vemos alguém muito superior a nós. E com base em quê Coelho diz isso? Ora, ele usa o exemplo bobinho do ciclista e do seu próprio complexo para projetar em todos que essas pessoas são “bem resolvidas”, ao contrário de quem não soltou a franga ou não descobriu (ainda) que, no fundo, é uma mulher em corpo de homem:

Afinal, como no caso do ciclista, essas pessoas pensaram no que deveriam ser. Encontraram-se depois de buscar o seu caminho. “Optaram”, como se dizia antigamente.

Já o autoritário está na estaca zero: sempre foi como é, num mundo em que as coisas sempre foram como são. Por que surge tanta invencionice agora?

A situação é desconfortável. Ele se vê sem argumentos, está perplexo, o mundo lhe parece estar sendo tomado das mãos. A rua não mais lhe pertence. A cidade, o país tampouco.

Como sair dessa estaca zero? Como se defender dessa invasão?

No século passado, a resposta foi engenhosa. Já que “os outros” pareciam superiores ao pobre coitado –os judeus eram claramente superiores a ele–, a solução era oferecer-lhe, justamente, uma oportunidade de “optar”, de “transformar-se”.

O uniforme, a suástica, o braço estendido, a mitologia romana propiciavam ao cretino uma “nova identidade”, quase tão boa quanto uma mudança de sexo.

Recapitulando: quem se incomoda com tanta campanha a favor da transexualidade, como se fosse a coisa mais cool e descolada do mundo, está apenas ressentido com a evidente superioridade do transsexual, que é bem resolvido pois se decidiu.

E Coelho ainda traça um paralelo com o nacional-socialismo, indício de desespero argumentativo, comparando esses transsexuais com os judeus! Os recalcados nazistas queriam eliminar o “outro” pelo complexo de inferioridade, exatamente como os “fascistas” conservadores querem fazer com a drag queen, segundo o editor da Folha. E ele elenca valores que denotam claramente o fascismo:

Tornava-se militante do “novo”, em proveito de manter a mesma coisa –as tradições, a pureza da pátria, a ordem, a hierarquia e, dentro disso tudo, a própria humilhação que sempre sofreu.

Primitivismo e animalidade, antes o “default”, a base neutra de seu modo de pensar, ganhavam as cores do futuro, o brilho do metal polido, a luz das tochas na noite ancestral.

O fascista contemporâneo não conta com esses recursos.

Verdade que, no shopping, há insígnias para todos os gostos. Lacoste, Hugo Boss, Ferrari: é uma esplêndida oferta de opções. Nisso ele é liberal.

Sai então para ver a rua. Quanta pichação! Quanto ciclista! Quanto mendigo! Quantos dependentes de crack! Quer limpar tudo, evidentemente, com jatos d’água, tinta branca e gás lacrimogêneo. Assim, ninguém o ameaça.

Alguém reparou na sutileza do “novo”? Sim, se você defende o Novo, você só pode ser um fascista! Se você quer manter certas tradições, o patriotismo, a ordem, as desigualdades naturais dos homens, você só pode ser um fascista buscando vingança pela humilhação que sempre sofreu.

O “coxinha” também está “sutilmente” na lista de fascistas modernos: Lacoste, Hugo Boss, Ferrari. Essas são as marcas que o recalcado pode comprar para tentar compensar sua humilhação. Aí ele sai com o crocodilo estampado na camisa polo e se depara com pichação, com mendigos, com “cracudos”. E não gosta! E quer acabar com isso! Logo, só pode ser um… fascista!

Se defende gás lacrimogêneo da polícia em cima de mascarados com rojões, óbvio que só pode ser fascista. Ele quer apenas apagar o “outro”, que tanto o ameaça (perguntem ao cinegrafista Santiago Andrade se a ameaça é de mentira no caso dos black blocs que a esquerda caviar adora).

Se Sartre dizia que o inferno são os outros, cabe aqui adaptar: o fascista é sempre o outro. Nunca o esquerdista totalitário que não suporta as diferenças. Sim, porque o defensor da “pluralidade” pode até fingir que aprecia a diversidade, mas está claro que não suporta os conservadores, que não engole nem mesmo o mais tímido dos direitistas.

É tanta besteira, tanta baboseira psicanalítica de quinta categoria, tanta inversão, tanta mistura sem sentido, tanta projeção de recalque pessoal, tanta mentira, que realmente nos questionamos: como alguém com uma mentalidade tão equivocada, tão absurda, pode ser do Conselho Editorial do maior jornal brasileiro em tiragem?

Aí lembramos que é a Foice de SP. Aí lembramos que é o Brasil. E tudo parece fazer sentido de repente. O Brasil cansa…

Rodrigo Constantino

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