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As escuras e solitárias ruas de Caracas não são, às 4h da manhã, o melhor cenário para passear. Mas é a hora em que Daniela, de 27 anos, uma filha dela de 7 e outra de 11 iniciam uma peculiar jornada laboral, junto com seis “companheiras”. Durante três horas, percorrem seis ou sete mercados e mercearias. Já há pessoas nas filas, mas Daniela sabe que vai furar a frente, que vai “colear” (“cola” significa fila em espanhol). Há um ano e meio, elas vêm criando uma rede que lhes permite burlar a lei — algo que, na Venezuela, faz tempo se converteu em algo que se finge cumprir. Daniela é uma bachaquera (bachaco é uma formiga que carrega folhas e gravetos nas costas, típica da fronteira com a Colômbia, região de grande atuação de contrabandistas), uma revendedora de produtos, pelos quais pode conseguir cem vezes mais do que gastou — o negócio mais rentável de uma Venezuela a caminhos do Guinness da inflação.

— Eu não sou má — afirma Daniela, que, como as outras bachaqueras entrevistadas, pede para ocultar o sobrenome por segurança, argumentando não ter sobrado outra solução, mas sem tampouco ocultar um sorriso maroto ao continuar a explicação: — É dinheiro fácil. Agora já nem procuro trabalho, e nem vão poder me dar um. E as pessoas necessitam dos produtos.

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O governo cubano deu mais um passo rumo à abertura econômica. Documentos publicados nesta terça-feira mostram o acréscimo de micro, pequenas e médios negócios ao plano de desenvolvimento social e econômico na ilha. A medida favorece a entrada de investimentos privados num dos últimos países comunistas em todo o mundo.

Até 2016, o governo só permitia o empreendimento privado através de trabalhadores “autoempregados” e incluídos em várias categorias. Na prática, eles formaram pequenos negócios empregando outros cubanos.

Nos empreendimentos cubanos, uma das principais críticas é a excessiva dificuldade e as burocracias dentro de um sistema que não reconhece formalmente a iniciativa privada. Desde o processo de degelo diplomático com os EUA, no entanto, o país mostrou disposição para aceitar gradualmente o ingresso de investimentos do antigo rival.

Recentemente, rebati um texto de Leandro Narloch em que ele inocentava os brasileiros pelo “jeitinho”, colocando a culpa em nossas instituições. Narloch tem um ponto, claro. As instituições podem sim empurrar milhões de pessoas para a informalidade e ilegalidade, tendo de se virar para sobreviver. Foi assim em todo país comunista. Mas o outro lado é que tais instituições não surgem num vácuo de valores. Elas dependem justamente do povo, da cultura disseminada na sociedade.

É a cultura que permite o avanço do socialismo. Esse, por sua vez, cria as instituições perversas que incentivam todo tipo de malandragem, de jeitinho, de “salve-se quem puder”. O socialismo fomenta o mercado negro. O excesso de burocracia é um câncer e a informalidade é, muitas vezes, o ar rarefeito que os indivíduos e empresas são obrigados a respirar pela asfixia estatal.

Mas tudo isso é cria de uma mentalidade que desconfia da iniciativa privada, do lucro, e deposita no estado uma fé infantil, boboca. É essa cultura que permite o surgimento do socialismo, que acaba jogando todos no mercado negro. Esse é o tema que disseco com mais profundidade em meu novo livro Brasileiro é otário? – O alto custo da nossa malandragem, que será lançado em breve pela editora Record.

Ou mudamos a cultura do povo brasileiro, e concomitantemente nossas instituições perversas, ou viveremos sempre reféns dos “malandros” que se destacam num cenário hostil de “mercado negro”, já que o mercado formal não funciona direito. O socialismo é o caminho dos “espertos” e criminosos; o liberalismo é o dos trabalhadores e empreendedores.

Rodrigo Constantino

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