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Primeiro fato importante: há um claro viés “progressista” na grande imprensa. E isso é relevante porque a imensa maioria dos jornalistas adotou, desde o começo, uma postura mais torcedora do que independente quando se trata de Bolsonaro. O grau de perseguição é desproporcional ao que se viu em candidatos ou governos anteriores, há má vontade com quase tudo que ele faz, pululam rótulos depreciativos e os elogios são escassos. Tudo isso é verdade.

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E, claro, essa postura de boa parte da mídia mainstream alimenta a reação bolsonarista. Passam a acusar toda a “extrema imprensa” de inimiga do governo e do país – o que é bobagem, até porque a imprensa, em geral, está muito mais a favor da necessária, urgente e fundamental reforma previdenciária do que a militância do presidente ou mesmo o próprio, que preferem bater em temas secundários. Mas o viés da mídia permite a narrativa de perseguição por parte dos bolsonaristas, eis o segundo fato importante.

Nesse contexto, é justo e legítimo que o presidente use as redes sociais como uma alternativa. O mesmo fenômeno ocorre aqui nos Estados Unidos com Trump contra as “fake news” – e o caso do “conluio russo” expôs o grau de distorção por parte dos jornalistas. Logo, por causa de um viés escancarado da imprensa, nada mais natural do que Trump e Bolsonaro utilizarem as redes sociais como arma de legítima-defesa. Nada contra isso.

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O que muitos que não são simples torcedores do contra reclamam, porém, não é do uso em si das redes, mas de qual uso tem sido feito delas. Especialmente no caso de Bolsonaro, o que vemos é muita tentativa de desviar o foco das questões importantes. O presidente não está usando as redes sociais para esclarecer pontos distorcidos pela mídia, mas sim para criar factoides, inimigos constantes, polêmicas desnecessárias. E isso merece ser criticado!

Quando o filho do presidente usa o Twitter para justificar o uso das redes sociais, portanto, ele ignora o que está realmente sendo condenado aqui. Sim, Bolsonaro deve usar as redes sociais. Mas quem não deveria usa-las tanto é o próprio Carlos, seu filho rebelde, justamente o que controla essa parte do governo – para desespero dos adultos. A melhor resposta que o vereador recebeu foi esta do ILISP:

A campanha terminou, Bolsonaro venceu, foi eleito e está no poder. Não pode “governar” como se ainda estivesse em campanha. Entende-se a necessidade de manter a militância mobilizada, o que justifica inclusive a escolha desses temas como Maio de 1964 como destaque. Mas há um país a ser governado, reformas importantes para serem aprovadas, e esse clima constante de guerra, que atiça os militantes virtuais, é péssimo para o Brasil.

Sim, parte da imprensa também não saiu da fase da campanha, e luta contra Bolsonaro, não importa o que ele faça. Mas se pautar por essa gente é tudo aquilo que a esquerda quer, e que os militantes desejam. Não é, porém, o que o Brasil precisa! E o Brasil é muito maior do que essas alas minoritárias, do que os militantes disfarçados de jornalistas na mídia e os militantes bolsonaristas das redes sociais. Se essa turma ditar o rumo do país, estamos perdidos!

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Pedro Menezes, em artigo na Gazeta, resumiu bem o risco: “A ala olavista do governo brinca com fogo ao subestimar os custos de um eventual fracasso da sua estratégia. E brinca com o país ao defender que o presidente instabilize a política, com eficácia duvidosa, como meio para estabilizar a economia. Não é surpreendente que Guedes, Moro e cia estejam se afastando da turma de [Filipe] Martins: eles são os adultos na sala, trabalhando para pôr ordem no país, enquanto os olavistas lutam diariamente para confirmar que são tão malucos quanto a esquerda diz que eles são”.

O presidente Bolsonaro precisa encontrar um equilíbrio entre manter a militância mobilizada a seu favor e governar um país complexo como o Brasil. O uso que faz das redes sociais é um canal importante e direto entre ele e seus eleitores. Mas é preciso cautela aqui, para não errar na dose. Ao delegar essa tarefa ao seu filho Carlos, o mais despreparado dos três, o presidente tem afastado muita gente boa e criado um clima prejudicial para o avanço da pauta reformista. É hora de dar um playstation para Carlos, ou então manda-lo de volta para o Rio, para atuar como o vereador que é, e cujo cargo justifica seu salário pago pelos cidadãos.

Rodrigo Constantino