A luta dos liberais num país como o Brasil é bastante inglória, já que, como sabia Roberto Campos, a estupidez tem um passado glorioso e um futuro promissor em nosso país. A mentalidade é estatizante, muitos olham para o estado como um deus salvador da Pátria e para o empreendedor como um explorador, vários querem só fazer concurso em busca de estabilidade, empresários ficam de olho em privilégios estatais e a cultura da malandragem em nada ajuda.
A ignorância é brutal, a máquina de doutrinação ideológica é enorme, e a educação é controlada pela extrema-esquerda há décadas. Um povo mais tribal deixa as emoções falarem mais alto também, e se torna refém do populismo e do sensacionalismo com maior facilidade. A ladainha esquerdista seduz uma legião de incautos.
E, como se tudo isso não bastasse, ainda há o “fogo amigo”, ou seja, o dispêndio de energia daqueles que supostamente defendem o liberalismo como conceito, mas na prática só fazem atacar os liberais que efetivamente tentam fazer alguma coisa para mudar o país. Priscila Chammas Dáu, do Livres (PSL), sentiu isso na pele ao ingressar na política, e escreveu um desabafo em sua página de Facebook:
O que mais atrapalha o movimento liberal no Brasil não é a esquerda. Ter hater esquerdista já é esperado, e até ajuda a tornar a discussão mais acalorada e empolgante. Destruir argumento esquerdista é relativamente fácil e, na verdade, isso é o que mais tem colaborado para o nosso crescimento. Ainda arrisco dizer que a maioria dos esquerdistas não o são por maldade, mas porque cresceram ouvindo essas asneiras, e ainda não conheceram a palavra de Mises. Prova disso é que é comum ter ex-esquerdista no movimento liberal, mas não conheço um único que era liberal e virou esquerdista.
O que mais atrapalha o movimento liberal é a parte do próprio movimento liberal que parece torcer contra. É aquele cara, metido a intelectual que, ao ver surgir qualquer iniciativa de disseminação, tem como primeira atitude dizer que não vai dar certo, que não vamos conseguir, que “logo ele tropeça” ou – pior – que o movimento não é sério. Não digo pra ser Alice e acreditar em qualquer coisa. Mas criticar por criticar, sem nem se dar ao trabalho de procurar entender mais sobre o alvo, ou sobre os efeitos que ele vem causando, é uma atitude burra.
Ainda tem os famosos ancaps agoristas, muitos dos quais gastam todo o seu tempo livre (e também o tempo que não deveria estar tão livre assim) xingando os outros no Facebook e vendo vídeos de um tal de Kogos (que adora xingar os outros no Youtube). Eles direcionam o seu ódio não aos estatistas, que estão por aí pedindo mais intervenções do governo. O alvo são os que querem diminuir o Estado, em vez de extingui-lo. Putz… o Estado atual é gigante! Será que a gente não poderia reduzir ele primeiro, pra depois discutir se o tamanho ideal é 0 ou é 5? Minha esperança é que esses são, em sua maioria, adolescentes, que logo devem amadurecer e descobrir que bitcoins são ótimos, mas não suficientes para derrotar o Estado.
O fogo amigo é muito pior do que a patrulha ideológica dos inimigos, e o que peço, encarecidamente, é que quem não quer fazer nada para ajudar, pelo menos faça o favor de não atrapalhar. A Revolução Liberal no Brasil é uma realidade, e ela vem acontecendo graças a uns liberais e APESAR de outros liberais (ou libertários).
Não chegaria a tanto, colocando esses “haters da direita”, libertários, ancaps ou reacionários, como “o que mais atrapalha”. O maior obstáculo é mesmo a ignorância geral do povo e a organização da esquerda pérfida, que conta com vastos recursos e a máquina estatal. Mas é inegável que esse “fogo amigo” em nada ajuda. São pessoas que, no fundo, vivem numa Torre de Marfim ideológica, pensam ter descoberto a “pedra filosofal”, e só querem cuspir em tudo e todos em busca da sensação de superioridade moral.
Já comprei briga com muitos desse tipo, e sei como funciona seu modus operandi. São infantis, raivosos, intolerantes, arrogantes. O liberalismo precisa de toda ajuda, até porque está perdendo de goleada ainda, tendo passado mais longe do Brasil do que Plutão da Terra. Por isso creio que há espaço para várias estratégias e perfis diferentes. Gosto da metáfora do time de futebol, que conta com goleiro, zagueiros, laterais, meio-campo e ataque, além do técnico e da torcida. Não gosto de diminuir uns para enaltecer outros: são todos importantes!
Há espaço para os mais teóricos, para os mais libertários e também os mais conservadores, para os mais práticos, para “think tanks” e para partidos, para grupos ativos nas redes sociais, para sites e blogs, enfim, para toda uma gama de participação de acordo com as habilidades de cada um. Só não há espaço mesmo é para derrotistas, para imaturidade e para quem, no fundo, torce contra, para continuar posando de “único defensor da verdadeira liberdade”. Esses precisam amadurecer para entrar para o liberalismo.
Rodrigo Constantino