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O “sincericídio” de Paulinho e o pragmatismo antipatriótico do “centrão”
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Os partidos do chamado “centrão” discutem a aprovação de uma reforma da Previdência que não garanta a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PSL), afirmou Paulinho da Força, deputado federal pelo Solidariedade e ligado à Força Sindical.

“[Uma economia de] R$ 800 bilhões, como ele [Bolsonaro] falou, garante de cara [a reeleição do presidente]. Nos últimos três anos de mandato ele teria R$ 240 bilhões para gastar, ou seja, garantiu a reeleição”, afirmou.

Paulinho está no Vale do Anhangabaú, na região central de São Paulo, acompanhando o ato do 1º de Maio, Dia do Trabalho, desta quarta-feira (1º).

Segundo ele, é preciso desidratar a economia com a reforma para algo em torno de R$ 500 bilhões.

“”Com esse discurso, tenho certeza que a gente traz todo mundo do centrão, porque ninguém quer a reeleição do Bolsonaro”, disse Paulinho.

Para ele, não há força suficiente para derrotar a reforma. “Se não temos força para parar, a rua nos dá força de negociação para fazer uma reforma justa, que garanta direitos e combata privilégios.”

A fala de Paulinho é um típico “sincericídio”. Ele diz a verdade, o que muitos ali pensam, mas não têm coragem de dizer, ou não podem dizer por motivos óbvios. O cálculo político sempre fez parte do pragmatismo de deputados. Estão ali, afinal, para se manter no poder, na maioria dos casos. Poucos são os que demonstram efetivamente senso de dever público e patriotismo.

Logo, é compreensível que deputados não queiram dar de bandeira para adversários reformas que sabem serem positivas para a economia. É compreensível, mas não é aceitável. É uma traição ao país. É um ato covarde, mesquinho, míope. É um pragmatismo antipatriótico, que trai o discurso mentiroso de muitos, de que a reforma é “impopular” e afeta os mais pobres.

Também expõe a falácia de que o governo vai muito mal. Se fosse o caso, ninguém teria tanto medo de uma reeleição, especialmente no começo do governo. Janaina Paschoal comentou em alguns tweets sobre isso:

Olá, Amados! Eu não entendo. Leio o tempo todo que o Governo de Bolsonaro vai mal… No entanto, ao que parece, querem trocar a Reforma da Previdência pela aprovação de mudanças na reeleição.

Ora, mas se há medo de ele concorrer à reeleição, forçoso concluir que o Governo vai bem… Se ele fosse tão ruim assim, com Reforma, ou sem Reforma, não haveria o que temer. Estou errada?

Vamos pensar no Brasil e deixar as eleições para depois. O foco no presente é o que falta. A Reforma da Previdência será a maior Reforma Social dos últimos tempos. Ela é necessária, todos sabem, apesar de não reconhecerem.

Todos deveriam estar unidos em prol do Brasil, que corre o risco de naufragar sem uma reforma profunda. Desidratar a reforma de Paulo Guedes só para atingir Bolsonaro é um ato de traição. O único argumento “legítimo” para isso seria uma preocupação sincera com uma eventual escalada autoritária do governo.

Explico: se a ala mais radical dentro do governo, comandada pelos filhos do presidente, tratam aliados próximos como Bebianno e Mourão da forma que todos viram, então como vão tratar ícones da “velha política” depois da aprovação da reforma? Hoje Bolsonaro até faz afago a Rodrigo Maia e ao Congresso, mas muitos sentem que se trata de necessário jogo de cena.

O bolsonarismo depende do conflito constante e do ataque ao establishment, pois seu discurso é o da antipolítica, mesmo vindo de um deputado que teve sete mandatos. É o que mobiliza sua base militante. Os deputados temem, portanto, que uma vez aprovada a reforma sejam massacrados pelos aliados do presidente, e talvez por ele mesmo.

Há alguma razão nesse receio. Mas ele não pode justificar uma traição à Pátria. Que se aprove a reforma, pois o Brasil precisa dela. E, depois, que se enfrente o risco autoritário, se ele realmente surgir.

O Brasil é maior do que Bolsonaro. E o governo é mais do que Carlos e Eduardo. Podemos compreender o medo de apunhalada nas costas após garantida a reforma. Mas esse é um risco que todos devem correr. Pelo bem da nação!

PS: Esse caso mostra duas coisas, basicamente. Como o “centrão” é mesmo, em grande parte, fisiológico e oportunista. E como a postura de Carluxo e Dudu faz mal ao governo. Não fosse esse clima constante de combate ao Congresso, o medo de Paulinho e companhia seria menos justificado. Mas da forma que trataram Bebianno e tratam Mourão, qualquer um associado à “velha política” tem direito de se sentir fragilizado e com um alvo nas costas. É questão de tempo – e de aprovar a reforma – até que sejam detonados pelos bolsonaristas, descartados como lixo.

Rodrigo Constantino

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