O presidente Obama merece muitas críticas, e eu as tenho feito. Ele representa uma esquerda ultrapassada, intervencionista, arrogante. Dito isso, para os padrões brasileiros ele talvez fosse tachado de “neoliberal” (para vermos o baixo nível de nosso debate político). A recente fala dele sobre as fomentadores de hipoteca mostra isso.
Obama quer fazer reformas no setor que reduzam o papel da Fannie Mae e Freddie Mac, gigantes hipotecárias no epicentro da crise de 2008, devolvendo espaço para a iniciativa privada. Nada mal, ainda que bem tardio. Essas empresas, afinal, causaram tanto estrago justamente por conta da própria intervenção estatal.
O setor contava com uma agência exclusiva para protegê-lo: a Office of Federal Housing Enterprise Oversight (OFHEO). A missão da OFHEO era promover o setor imobiliário e um sólido sistema de financiamento de casas, garantindo a segurança e solidez da Fannie Mae e Freddie Mac. O OFHEO tinha como meta preservar uma estrutura de capital adequada para estas duas government-sponsored enterprises.
Onde estavam então esses poderosos burocratas, já que o epicentro da crise se deu justamente nesse setor e nessas empresas semi-estatais? Para uma base de capital de apenas US$ 100 bilhões, estas empresas, contando com garantidas do governo, levantaram US$ 5 trilhões em dívidas. Será que faltou mesmo regulação do governo?
Isso sem falar das ações diretas do governo americano, tentando artificialmente inflar o setor imobiliário. Em 1977 foi criado o Comunity Reinvestment Act (CRA), com o objetivo de obrigar bancos a emprestar uma parte dos seus ativos às comunidades carentes. Em 1994, o governo estendeu as metas do CRA, e em 2005, após um escândalo contábil envolvendo a Freddie Mac, o governo resolveu punir a empresa demandando mais crédito hipotecário para as classes de baixa-renda.
Esses são apenas alguns exemplos, entre muitos, que mostram como o governo e sua extensa burocracia tinham suas impressões digitais em todas as cenas do crime nessa crise. Quando a bolha estourou, o governo veio resgatar as empresas, limpar a sujeira que ele mesmo criou. Agora, ao menos, Obama reconhece que esse setor deve respirar mais livre, ficar sujeito às leis do próprio mercado. Antes tarde do que nunca!
E o Brasil? O Brasil vai à contramão. A presidente Dilma deveria aprender essa lição com Obama. Por aqui, o próprio governo está fazendo de tudo para fomentar uma bolha imobiliária. Escrevi um artigo para o GLOBO com dados que mostram como a Caixa Econômica Federal tem atuado nesse papel irresponsável que coube à Fannie Mae nos Estados Unidos:
A Caixa Econômica Federal expandiu em 45% sua carteira de crédito em apenas 12 meses. Trata-se de um crescimento espantoso, boa parte voltada para o programa “Minha Casa, Minha Vida”. O Banco do Brasil, por sua vez, aumentou em 20% a carteira no mesmo período. Juntos, esses dois bancos possuem uma carteira acima de R$ 750 bilhões!
Sempre aprendi que há duas formas de aprender: a inteligente e a burra. Aquela é pela observação, e esta é apanhando na própria pele. Temos o privilégio de poder observar o estrago que o governo fez ao assumir o mercado de crédito imobiliário nos Estados Unidos. Vamos aprender com essa observação? Ou teremos que sofrer a mesma dor para, finalmente, compreender que governo e crédito hipotecário não combinam?
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