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O filósofo Olavo de Carvalho foi tido por muitos como uma espécie de “guru” do presidente Bolsonaro, ideia reforçada pela presença do seu livro no primeiro pronunciamento do presidente após a vitória nas urnas. O simbolismo era evidente, já que tinham apenas outros três livros na pilha, entre eles a Bíblia. Além disso, ao menos dois ministros foram escolhidos após indicação de Olavo, e um dos seus alunos virou uma espécie de chanceler do B no Itamaraty, como o PT teve o seu em Marco Aurélio Garcia. A tese de que Olavo é ou pretende ser um Rasputin do presidente eleito não parece maluca, portanto.

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E é justamente por isso, pelo peso aparente que a opinião do filósofo de Virgínia tem sobre Bolsonaro, que este tem a obrigação moral de se pronunciar após as acusações gravíssimas que Olavo fez contra o vice-presidente Mourão. Que Mourão andou escorregando é algo que eu também apontei. Cheguei inclusive a alertar que a vaidade era um perigo e que os elogios da esquerda e da imprensa eram táticos e hipócritas, só porque Mourão não está no comando. Mas daí a acusa-lo de conspiração aberta contra o presidente vai uma longa distância, aquela que Olavo resolveu cruzar. Eis alguns comentários que ele fez:

Mourão, você provou que é valente o bastante para combater um homem que está com o ventre aberto numa cama de hospital. Você é uma vergonha para as Forças Armadas, para a Maçonaria e para o Brasil.

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Todos os que tramam contra o Bolsonaro enquanto ele está no hospital são psicopatas de mentalidade assassina. Sua presença em qualquer posto de governo é intolerável.

Estará o Mourão planejando livrar-se do Bolsonaro e usar a eleição dele como mera camuflagem para dar ares de legalidade eleitoral a um golpe militar?

O Mourão
(1) dá ares de coisa séria às mentirinhas bobas do Jean Wyllys sobre as “ameaças” que recebe (de um presidiário maluco que já ameaçou também a mim e à Joice Hasselmann). 
(2) Tentou dar um palanque para o Lula, que o rejeitou.
(3) Pensa em dar uma saída honrosa para um ditador cujo povo quer ver na cadeia ou no cemitério.
(4) Aprova o direito ao aborto, que a campanha eleitora do Bolsonaro anunciou proibir.
(5) Fala mal de um ministro e quer investigar outro, mas parece não ter pressa nenhuma de descobrir os mandantes do Adélio.
Que é que falta para alguém entender que ele é INIMIGO E COMPETIDOR do presidente em vez de seu auxiliar?

O Mourão obviamente se considera autoridade superior ao presidente por estar acima dele na hierarquia militar e maçônica. Ele JÁ mandou a Constituição às favas e instituiu um novo regime do qual nem deu sequer a menor ciência aos brasileiros.

Repito: achar que Mourão foi longe demais no papel de vice é legítimo, mas o que Olavo diz é algo bem diferente: ele está acusando Mourão de conspirar para derrubar Bolsonaro, sendo que ambos são amigos de longa data e, não custa lembrar, Bolsonaro escolheu Mourão como seu vice. É até irônico ver Olavo e olavetes desprezando o papel do vice e afirmando que os eleitores votaram em Bolsonaro, não em Mourão, quando lembramos que os mesmos jogavam na cara dos petistas que eles tinham eleito Michel Temer (e estavam certos, claro).

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O vice-presidente foi escolha direta do presidente, Bolsonaro e Mourão, pelo que todos sabem, sempre desfrutaram de longa amizade e confiança mútua. Olavo faz denúncias muito sérias sem qualquer prova concreta, apenas com base em ilações levianas. Criticar Mourão por declarações infelizes, repito uma vez mais, é algo legítimo e até necessário. Mas declarar essa guerra aberta e pedir a cabeça do vice, criando intriga extra dentro de um governo já dividido e que precisa aprovar reformas fundamentais, soa como a verdadeira traição. De qual lado Olavo de Carvalho está? Quem está realmente jogando contra o Brasil?

Bolsonaro pode ignorar as “farpas” trocadas por vários motivos, entre eles achar que Olavo não merece tanta atenção assim, ou então preferir torcer para o clima se acalmar. Mas como ele mesmo deu trela para Olavo, como resolveu misturar o bolsonarismo ao olavismo num coquetel quase impossível de distinguir um do outro, tem o dever moral de se pronunciar e rechaçar as suspeitas lançadas contra seu vice. A alternativa é um silêncio cúmplice, que dará ar de legitimidade aos ataques de seu “guru”.

Rodrigo Constantino