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Comentei aqui a ótima coluna de Denis Rosenfield hoje, sobre os mitos históricos e a importância da narrativa sobre a verdade dos fatos. Soube que neste sábado mesmo a propaganda eleitoral do PT disse que Dilma trocou sua juventude pela luta para restabelecer a democracia em nosso país. Tal narrativa é insustentável e inadmissível, e pretendo elaborar melhor a questão.

Eram outros tempos, sem dúvida, e muito do horror comunista ainda era desconhecido. Havia um encanto de muitos jovens da classe média e de “intelectuais” com a ilusão comunista. O contexto era o da Guerra Fria, e muitos tomaram o partido soviético por ignorância ou romantismo. Pode-se perdoá-los por sua visão míope, por seu idealismo juvenil, mas não é razoável pintá-los como democratas. Especialmente os militantes engajados!

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Alain Besançon, em A Infelicidade do Século, em que compara o nazismo ao comunismo e traça inúmeras semelhanças, conclui: “O comunismo é mais perverso que o nazismo porque ele não pede ao homem que atue conscientemente como um criminoso, mas, ao contrário, se serve do espírito de justiça e de bondade que se estendeu por toda a terra para difundir em toda a terra o mal. Cada experiência comunista é recomeçada na inocência”.

Há controvérsias. Muitos acham que o comunismo é apenas a idealização da inveja, e conquista corações por motivos menos nobres e mais prosaicos – talvez o ressentimento diante de alguém mais bem-sucedido em uma economia livre de mercado. Mas é inegável que há uma parcela atraída por uma sensibilidade mal-calibrada diante das injustiças do mundo. Ignorando o que produz de fato a riqueza para tirar essa gente da miséria, o estado natural da humanidade, essas pessoas se encantam com as receitas utópicas dos igualitários: basta tirar de João e dar para Pedro.

Comparando os “gêmeos” nazismo e comunismo, que disputavam o mesmo tipo de alma, Besançon afirma que “eles pretendem ser filantrópicos, pois querem, um deles, o bem de toda a humanidade, o outro, o do povo alemão, e esse ideal suscitou adesões entusiásticas e atos heróicos”. Mas o que os aproxima mais é que “ambos se dão o direito – e mesmo o dever – de matar, e o fazem com métodos que se assemelham, numa escala desconhecida na história”.

Para seu fim ulterior, quaisquer meios são aceitáveis ou mesmo desejáveis. Cada um se vê como a encarnação do Bem, e os empecilhos precisam ser eliminados para o alcance de um fim tão “nobre”. Os governos nazista e comunista fecham suas fronteiras, controlam a informação, substituem a realidade por uma pseudo-realidade e eliminam os opositores. Acabam gerando uma completa destruição da moral, difundindo o sentimento de repugnância de si mesmo nas pessoas. Alain Besançon conclui: “Não vale mais a pena praticar o duplo pensamento, procura-se na verdade não pensar em nada”. Ambos desembocam no niilismo.

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Alimentamos uma visão de que os adeptos do nazismo eram bárbaros, enquanto os comunistas eram seres bondosos. Mas Michael Polanyi é certeiro quando diz: “É um erro encarar o nazista como um selvagem não-instruído; sua bestialidade foi adornada cuidadosamente com especulações que refletiam de forma muito estreita a influência marxista”. Muitos da classe média alemã, assim como “intelectuais”, flertaram com o nazismo.

Se alguém declarar ter sido simpático ao nazismo em sua juventude, isso vai gerar uma grande revolta, e essa pessoa será alvo de críticas, de forma merecida. Curiosamente, se a pessoa declarar sua adesão ao comunismo em sua juventude, isso será visto como sinal de sua bondade, de seu romantismo, de seu desejo de mudar o mundo para melhor. Não faz muito sentido.

Ainda que o comunismo tenha embalado melhor seu ódio, o fato é que ambos, nazismo e comunismo, cativaram pessoas ressentidas, hipócritas ou alienadas. Hoje, vemos que o mesmo tipo de gente se encanta com “soluções” violentas e revolucionárias, aplaudem os black blocs, os “movimentos sociais” que invadem propriedades e desrespeitam as leis, flertam com tiranos que pretendem mudar “tudo isso que está aí” na base do porrete autoritário. Hugo Chávez não enfeitiçou apenas as massas ignaras, assim como Fidel Castro desperta suspiros até hoje em muita gente da elite por aí.

Os comunistas praticavam “justiciamentos” entre eles mesmos, e qualquer desvio da cartilha fanática era visto como traição. Qualquer um com olhos para enxergar saberia que aquilo jamais levaria a um modelo democrático de liberdade. Aqueles jovens faziam vista grossa a todas essas barbaridades, como artistas e “intelectuais” fazem hoje ao elogiar vândalos e agitadores.

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Podemos, como já disse, dar um desconto por sua imaturidade. Mas jamais podemos tratá-los como heróis, como pessoas que lutavam pela democracia. Nada mais falso. Vários reconheceram isso, inclusive, fizeram uma dolorosa mea culpa, assumiram que sonharam o sonho errado, que se tivessem tido sucesso seria o pesadelo da nação. Fernando Gabeira, Ferreira Gullar, Arnaldo Jabor foram alguns que admitiram o enorme equívoco de suas lutas na juventude.

Alguns jovens comunistas podem ter sido vítimas do estado, de torturas indefensáveis, e isso merece nosso repúdio. Mas não podemos encará-los como totalmente inocentes, pois lutavam por uma ideologia nefasta que, se posta em prática por aqui, levaria ao caos, à miséria e à escravidão, como foi em todo canto do mundo. Heróis? Nem pensar! Na melhor das hipóteses, idiotas úteis transformados em massa de manobra pelos canalhas oportunistas e os fanáticos niilistas.

Rodrigo Constantino