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Os ludistas “modernos” e o Brasil na vanguarda do atraso
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Um protesto de taxistas em frente ao prédio da Prefeitura do Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (27), terminou em confronto entre manifestantes e policiais militares. O ato seguia sem registro de confusão até 11h15, quando o tumulto começou e rapidamente se intensificou.

Os motoristas lançaram garrafas, morteiros e outros objetos em direção aos PMs, que responderam com bombas de gás lacrimogêneo e disparos de bala de borracha.

O ato –convocado em repúdio aos aplicativos de transporte de passageiros, tais como Uber e Cabify– começou durante a madrugada e, por volta das 8h, motoristas saíram em carreata com destino ao prédio da administração municipal, no centro da capital.

Apesar do tumulto criado pela máfia dos taxistas, apenas quatro deles foram multados, mostrando a leniência das autoridades.

No Brasil, o ludismo ainda vinga. Para quem não lembra, os ludistas (e o corretor automático insiste em mudar para “budistas”, que seriam talvez o seu oposto, ao menos no que diz respeito ao pacifismo) eram aqueles que depredavam as máquinas a vapor durante a Revolução Industrial, temendo o desemprego que elas gerariam.

Todo avanço tecnológico gera mudanças no mercado de trabalho, muitas vezes rupturas violentas. Não é confortável para quem se vê como vítima delas. Mas os economistas já cansaram de provar que são benéficas para a imensa maioria, e que, com o tempo, novos e melhores empregos são criados para todos.

O problema maior é a fase de transição. É preciso apostar no dinamismo do livre mercado, investir em treinamento constante, ter mobilidade. Nem sempre os trabalhadores aceitam isso. Em países que ficam mais atrasados, eles conseguem se organizar para impedir os avanços, preservar por meio de intervenções estatais o status quo, o atraso.

Quando a indústria chegou para revolucionar as sociedades agrárias, muitos chiaram, acreditando que seria o fim. Hoje, menos de 3% da população americana trabalha no campo, o país é um dos maiores produtores rurais do mundo, e a riqueza geral aumentou de forma exponencial. Não há o MST para atazanar a vida dos produtores, que investem pesado em máquinas modernas. Da indústria para os serviços ocorre fenômeno parecido.

Mas claro que o ritmo de crescimento não é igual para todos. Aqueles mais especializados e preparados colhem os frutos com seus trabalhos mais produtivos, agregam mais valor para a sociedade, enquanto os demais, ainda que tenham acesso a produtos mais baratos e maior conforto material, sentem o peso da desigualdade, e podem ser seduzidos pelo discurso da inveja (o socialismo), que foca apenas na relação entre os mais ricos e mais pobres, nunca na relação entre os “pobres” de hoje e os de ontem, ou então pelo discurso nacionalista, que culpa a globalização e o livre mercado por essa fase dura de transição.

Diante desse cenário cada vez mais fluido e global, quem vai sobreviver e prosperar são aqueles que investirem pesado em tecnologia, educação de ponta (não “humanas”, pois “estudar” a importância do ânus no funk ou feminismo não agrega absolutamente nada), e facilitarem o funcionamento do livre mercado.

O Japão, por exemplo, resolveu declarar guerra à área de “humanas” para focar em conhecimento prático e objetivo na produção científica. Está ciente do que vem pela frente. Os Estados Unidos ainda possuem áreas de excelência em tecnologia, como o Vale do Silício, além de um mercado de capitais avançado para permitir o financiamento desses projetos inovadores. Elon Musk, o bilionário da Tesla e da SpaceX, tem investido pesado na robotização, tanto que parece já viver no mundo de “Blade Runner” em sua cabeça, apostando que robôs farão tudo melhor do que humanos e que podem ser até uma ameaça em alguns sentidos.

Enquanto isso, o que faz nosso querido Brasil? Permite que máfias organizadas infernizem a vida de milhões de trabalhadores, em cenário com 15 milhões de desempregados, para “protestar” contra o Uber! E pior, muito pior: como sempre estamos na vanguarda do atraso, nosso governo resolveu aumentar a tributação de empresas de “venture capital” e anjos, ou seja, aquelas que justamente investem nas startups, normalmente de tecnologia.

Mas também, como esperar algo muito diferente de um país que teve, como ministro da ciência, ninguém menos do que o comunista Aldo Rabelo, o mesmo que apresentou projeto de lei contra a automação nos postos de gasolina? Segundo o autor do projeto, deputado Aldo Rebelo (PC do B-DF), a proibição da automação dos postos garante cerca de 300 mil empregos de frentistas. “O projeto garante empregos, saúde e segurança”, afirmou.

Sim! Tanto que eu mesmo abasteço meu carro toda semana sozinho aqui nos Estados Unidos, um país sem dúvida com muito mais problema de emprego do que o Brasil. Ops! Seguindo a “lógica” do comunista, se proibíssemos a eletricidade salvaríamos vários empregos dos produtores de velas e lampiões! Bastiat deve estar se revirando no túmulo ao constatar que, no Brasil, aquilo que ele ensinou em 1850 ainda é tido como “revolucionário” e “radical”.

O Brasil cansa. E os ludistas “modernos” podem espernear à vontade, brigar contra o destino, mas não serão capazes de impedir o progresso para sempre. Vão conseguir apenas manter o Brasil lá na rabeira, na miséria, na mediocridade, até que mais e mais gente alienada aponte para a globalização ou o capitalismo como culpados por nossa triste condição.

O que não dá é alguém achar que, em pleno século XXI, está em condições favoráveis de enriquecer e competir com uma banana em uma mão e uma saca de café na outra. Depois não adianta ficar reclamando dos baixos preços de nossos produtos no mundo, enquanto os “imperialistas” nos “empurram” produtos caros, como computadores e outros bens de alta tecnologia.

Aí, quando o mundo ocidental capitalista estiver vivendo a realidade imaginada nos filmes de ficção, com um R2-D2 ou um C-3PO ajudando seres humanos no trabalho, lá estaremos nós, brasileiros, montando em jegues ou pagando mais só para um sujeito colocar gasolina no nosso carro, como se fôssemos retardados.

O ressentimento será inevitável, como já é para milhões de muçulmanos do Oriente Médio, que vivem no século XVIII em pleno século XXI, e pior: podendo ver com os próprios olhos a outra realidade possível que os “malditos” ocidentais criaram. O ódio é apenas natural, mas não venham culpar aqueles que progrediram por mérito próprio!

Rodrigo Constantino

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