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Os obstáculos ao novo e ao liberalismo: as concessões indevidas à esquerda
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Sempre acompanho os artigos de Joel Pinheiro com interesse. Trata-se de um liberal com viés “progressista”, com quem muitas vezes concordo, outras tantas discordo. Mas, em geral, é alguém que tenta trazer argumentos para um debate civilizado, e isso está em falta em nosso país.

Na coluna de hoje, concordei com quase tudo. Ele fala, afinal, das dificuldades burocráticas criadas pelo “sistema” para atrapalhar a vida de empreendedores, na economia e na política, citando o exemplo específico do Partido Novo e as regras que inventaram para impedir seu processo de seleção de candidatos. Diz Joel:

Quem quer se lançar pelo Novo tem que apresentar currículo e passar por rodadas de entrevistas em que são avaliadas coisas como capacidade de gestão, alinhamento ideológico com a legenda e estratégia para a campanha. 

Aqueles que passam pelo crivo dos avaliadores vão então para a decisão na convenção partidária. É uma boa maneira de unir escolha política e alguns critérios técnicos, e por isso tem despertado interesse inclusive de partidos e movimentos distantes das ideias do Novo.

O TSE discorda, e por isso rejeitou a alteração no estatuto do Novo que instauraria o processo seletivo (“comissões prévias de seleção de candidato”) como regra interna. 

Segundo o relator, o ministro Jorge Mussi, o processo seletivo constitui um “grave risco de escolha antidemocrática”. A convenção partidária não pode ter sua escolha limitada.

A decisão, segundo Joel, é “ridícula”, e estou de acordo. “Ninguém é forçado a integrar um partido; e com 35 deles no Brasil, opção não falta”, lembra o autor. Que cada um possa ter seu próprio processo de seleção, portanto, para que o “consumidor” julgue o que faz mais sentido. Joel conclui:

O ambiente brasileiro é ruim para quem quer criar algo novo. Assim como um empresário tem que se haver com impostos complicados e regulações estapafúrdias em vez de focar em conseguir clientes, partidos que poderiam estar focados em transmitir sua mensagem e conquistar eleitores e filiados (o que, para o Novo, um partido sem deputados no Congresso, será um grande desafio) têm que ficar a todo momento resolvendo dificuldades burocráticas e jurídicas que o próprio sistema coloca. 

Para os interesses encastelados no poder, é ótimo. Um sistema que permita liberdade e concorrência entre diferentes modelos de partido, isso sim nos tornaria mais democráticos.

Tudo perfeito. Onde foi, então, que Joel escorregou? Foi na concessão absolutamente indevida, feita logo no começo, à Rede de Marina Silva. Entendo que seu pai, Eduardo Giannetti da Fonseca, seja próximo da ex-petista, um consultor econômico da turma. Mas colocar a Rede lado a lado do Novo como exemplos bons na política é o tipo de concessão absurda, indevida, que só um “liberal” de esquerda faria. Diz Joel logo no primeiro parágrafo:

“Num cenário de saturação com a política, é muito positivo ter opções realmente novas no cenário, partidos sérios como o Novo e a Rede Sustentabilidade, que lutam para crescer sem jogar o jogo do troca-troca e que trazem ideias inéditas”.

Opções realmente novas? Ideias inéditas? Partidos sérios? Marina Silva, que aparece de quatro em quatro anos posando acima da política e da “polarização” entre PT e PSDB, mas que respeita muito seus colegas petistas e quer governar usando o que cada partido tem de melhor? O que mesmo o PT tem de bom? Quem no PT merece participar de um governo sério?

Marina Silva, a mesma que veste literalmente o boné do MST, que convidou para seu partido esquerdistas radicais como Heloísa Helena, Alessandro Molon, Randolfe Rodrigues? Marina Silva, que se inspira no “teólogo da libertação” Leonardo Boff, o mesmo que defende Cuba e Lula? Quais ideias “inéditas” a Rede traz para o debate nacional mesmo? O velho socialismo embalado à clorofila?

Joel não diz. Mas ele solta lá essa bomba, essa pérola, logo na abertura de sua coluna, colocando Novo e Rede bem juntinhos, como se fossem equivalentes, como se ambos representassem, de fato, uma novidade desejável, uma lufada de ar fresco na política brasileira. Marina, ex-ministra de Lula, ex-petista que saiu morrendo de saudades e com muito orgulho de sua trajetória nesse “partido”, essa Marina seria o novo na política, segundo nosso ilustre liberal.

Assim não dá! Liberal que enaltece a empreitada do Novo, partido criado por trabalhadores e empresários que nunca foram políticos, que pregam uma agenda efetivamente liberal, faz todo sentido. Mas liberal que elogia a Rede de Heloísa Helena, Molon e Randolfe Rodrigues?! Isso não dá para engolir, nem em nome de um suposto pragmatismo para desarmar espíritos à esquerda na hora de defender o Novo. Com concessões inaceitáveis como essa, o liberalismo segue com obstáculos intransponíveis em nosso país…

Rodrigo Constantino

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