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Os “salvadores do povo” estão sempre certos. Ou: Gabeira e os populistas de esquerda
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Fernando Gabeira é um daqueles casos que alimentam nossas esperanças no amanhã. Era comunista “revolucionário”, chegou a participar do sequestro do embaixador americano pela “causa”, e hoje é um escritor sensato e lúcido que vem combatendo com bons argumentos o avanço da esquerda populista e radical no país. Assim como Ferreira Gullar, que passou por transformação semelhante, e mereceu o epílogo do meu Esquerda Caviar justamente para terminar com uma mensagem de otimismo, de que há cura para o esquerdismo.

Em sua coluna no Estadão, Gabeira tocou no cerne da questão ao rebater aqueles que ainda alimentam alguma expectativa de diálogo com a esquerda radical no poder: como conversar com quem tem sempre a razão e demoniza o adversário como se inimigo mortal fosse? Não há conversa possível com quem monopoliza as virtudes e ataca sempre quem discorda de seus meios com base em suas supostas intenções malignas.

É um resumo perfeito da postura petista, arrogante e cínica, hipócrita e messiânica, de quem vai deixando um rastro de destruição por onde passa ao mesmo tempo em que se coloca como a solução dos problemas que causou e cria bodes expiatórios para assumirem a culpa em seu lugar. Conclui Gabeira:

O problema dos salvadores do povo é que não percebem outra realidade exceto a de permanência no poder. Quanto pior a situação, mais se sentem necessários. Os irmãos Castro acham que salvaram Cuba e levaram a um patamar superior ao da Costa Rica, por exemplo. O chavismo levou a Venezuela a um colapso econômico, marcado pelas filas para produtos de primeira necessidade, montanhas de bolívares para comprar um punhado de dólares. Ainda assim, seus simpatizantes dizem, mesmo no Brasil, que a Venezuela está muito melhor do que se estivesse em mãos de liberais.

O colapso, a ruína, a decadência, nada disso importa aos populistas de esquerda. Apenas ressaltam suas boas intenções e a maldade dos críticos burgueses, da grande mídia, enfim, de qualquer desses espaços onde acham que o diabo mora. O Lula tornou-se o símbolo desse pensamento. Na semana em que se suspeita de tudo dele, do tríplex à compra de caças, do petrolão às emendas vendidas, chegou à conclusão de que não existe alma viva mais honesta do que ele.

Aqueles que acreditam num diálogo racional com o populismo de esquerda deveriam repensar seu propósito. Negar a discussão racional pode ser um sintoma de intolerância. Existe uma linha clara entre ser tolerante e gostar de perder tempo. O mesmo mecanismo que leva Lula a se proclamar santo é o que move a engrenagem política ideológica do PT. Quando a maré internacional permitiu o voo da galinha, eles se achavam mestres do crescimento. Hoje, com a maré baixa, consideram-se os mártires da intolerância conservadora. Simplesmente não adianta discutir. No script deles, serão sempre os mocinhos, nem que tenham de atacar a própria Operação Lava Jato.

Considerando que Cuba é uma ditadura e a Venezuela chega muito perto disso com sua política repressiva, como explicar a aberração brasileira? Certamente algum mosquito nos mordeu para suportarmos mentiras que nos fazem parecer otários. Não foi o Aedes aegypti. A tsé-tsé, quem sabe?

Só há uma possibilidade de diálogo construtivo com marxistas: quando eles deixam de ser marxistas! Só quando aceitam a falibilidade da verdadeira ciência no lugar das profecias dogmáticas de sua seita é que pode haver conversa séria. Só quando abandonam o messianismo e o monopólio das virtudes e passam a debater com foco em argumentos e fatos é que o debate pode produzir avanços mútuos. Do contrário, marxistas e petistas devem ser tratados como inimigos do debate construtivo, pois é exatamente isso que são.

Gabeira, que já foi um deles, abriu os olhos. Até quando você vai manter os seus fechados, ilustre petista (sim, eu sei que você vem aqui no blog, talvez por puro masoquismo)? A luz pode machucar um pouco no começo, incomodar, mas garanto que é muito melhor do que a escuridão dos que insistem em dogmas ridículos e se protegem de sua incapacidade de argumentar por trás da demonização dos adversários.

Rodrigo Constantino

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