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“Nossas esquerdas não gostam dos pobres. Gostam mesmo é dos funcionários públicos. São estes que, gozando de estabilidade, fazem greves, votam no Lula, pagam contribuição para a CUT. Os pobres não fazem nada disso. São uns chatos…” (Roberto Campos)

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Confesso meu lado sombrio: divirto-me com a reação da esquerda diante dessa acachapante derrota nas eleições municipais. Os coitados estão revoltados… com os eleitores! E mais: com os eleitores pobres! Sim, foram esses “ingratos” que se recusaram a eleger os candidatos do PT e do PSOL. Onde já se viu? A esquerda faz “tanto” pelos mais pobres, vive para defendê-los, e na hora H a turma vota num mauricinho como Dória ou num bispo como Crivella?!

Alguns “democratas” de esquerda já estão saindo do armário, atacando o “povo burro”, essa “gente alienada”, “manipulada”, essa cambada de “imbecis”. Aos poucos, os iludidos vão descobrindo o que os demais já sabem: que quem gosta da esquerda é burguês, “intelectual” entediado, “estudante” mimado, artista lesado. Pobre não quer saber de socialismo. Desde Marx foi assim.

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Hélio Beltrão comentou sobre os resultados: “Assim como no Brexit, os perdedores da eleição no Rio acusam e xingam os pobres que fizeram a diferença no resultado. Dizem que os pobres ‘não sabem votar’, que são ‘burros’, ‘manipulados’. Para estes maus perdedores, a democracia só deveria contar quando o resultado é aquele que desejam”.

Exato: a esquerda não gosta da democracia. Tanto que elogiam a ditadura mais longeva e assassina do continente até hoje, idolatrando o facínora Fidel Castro. Socialismo e democracia são como óleo e água: não se misturam. Os socialistas falam em nome dela, mas só como tática para chegar ao poder, da mesma forma que é só estratégia de narrativa bancarem os defensores dos mais pobres. Onde?

Flavio Morgenstern escreveu um ótimo artigo no Senso Incomum sobre isso, mostrando como foi por água abaixo a narrativa de que os pobres votam na esquerda, citando justamente os casos de São Paulo e Rio de Janeiro, duas das mais importantes capitais do país:

Derrotas da esquerda foram a grande tônica nacional (e talvez continental) de 2016. A distinção das duas cidades é o mapeamento bairro a bairro. Fernando Haddad, o “modernizador” do PT que escondeu o vermelho, foi derrotado em toda a cidade. O tucano João Dória, chamado de “candidato dos ricos” e alguém muito mais à direita do restante do PSDB, sem esconder seu patrimônio, só não foi o mais votado na região de Parelheiros, a mais pobre da cidade, onde a vencedora foi Marta Suplicy, agora do PMDB.

O discurso do PT e da esquerda, aprendido em cursos universitários ligados ao lazer, é o de que a direita, que só conteria “ricos”, não conhece a periferia. O bairro em que Fernando Haddad teve mais votos foi a região de Pinheiros, cuja renda média é de R$ 7 mil (sic), com o segundo melhor IDH da cidade. Parelheiros possui 7,8 vezes mais negros do que Pinheiros.

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Sem perceber que falam de pobres e negros como de ratinhos em um laboratório, acreditando que entendem seus sofrimentos, seus anseios e seus valores por vê-los no Esquenta com Regina Casé, os ricos da cidade adotam um discurso pobrista para votar em Haddad, no PT e na esquerda, ignorando que os pobres de verdade, de carne e osso, não usufruem de “ciclofaixas” hiperfaturadas, acham “grafite” e “street art” uma emporcalhação da cidade que estraga seu ambiente, que a Paulista fechada aos fins de semana como se fosse um parque é só uma idéia distante de sua realidade concreta, que sua retórica de aborto e Parada Gay tem muito mais a ver com a Vila Madalena do que com o Jardim Danfer.

A lição que a esquerda quer dar é a de que é pobre, ou se não é, os entende. A lição que os pobres deram à esquerda nas urnas é a de que a esquerda e suas preocupações hedonistas não poderia estar mais distante de seu cotidiano.

É exatamente isso. Em minha análise do resultado no Rio, comentei: “Enquanto os artistas e ‘intelectuais’ repetirem que ser transexual é a coisa mais normal do planeta, que fumar drogas é liberdade, que rebolar até o chão seminua aos 11 anos num baile funk é diversão, lá estará um bispo ou um crente para reagir, para intuitivamente, sem a necessidade de tantos argumentos racionais, contestar essa depravação toda e remar contra a maré vermelha.”

O fenômeno mais relevante da política nacional, quiçá mundial nos dias de hoje, é justamente a bolha dos “progressistas”, tão bem ilustrada no livro Coming Apart de Charles Murray. Essa elite da esquerda caviar, a tal da “GNT People”, acha que conhece o povão porque assiste “Esquenta” da Regina Casé e dá “bom dia” para sua empregada e seu motorista, mas não sabe absolutamente nada do que o povo de carne e osso quer.

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O povo quer segurança, transporte, empregos, saúde, educação decente para seus filhos e valores morais (religiosos). Em vez disso, a pauta dos “progressistas”, a julgar por seus ícones como Greg, resume-se ao direito de tomar drogas, ser gay e abortar o filho como quem corta o cabelo. Essa gente realmente acha que fala em nome dos mais pobres?! Está aí a resposta nas urnas: não falam!

PS: Não dá nem para os esquerdistas alegarem que foi manipulação da “mídia golpista”, pois no Rio tanto o GLOBO como a VEJA tomaram claramente partido, e foi o de Freixo!

Rodrigo Constantino