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Qual foi o real motivo para a recente valorização da Petrobras?
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Por Roberto Ellery, publicado pelo Instituto Liberal

Esta semana foi registrado que a Petrobras ultrapassou a AMBEV e voltou a ser a empresa mais valiosa na Bolsa de Valores de São Paulo. Reportagem do UOL mostra que o valor da Petrobras chegou a R$ 358,9 bilhões, deixando para trás a AMBEV (R$ 342,6 bilhões) e se afastando ainda mais do Itaú Unibanco (R$ 295,6 bilhões), Vale (R$ 267,6 bilhões) e Bradesco (R$ 217 bilhões). Muita gente creditou a valorização da Petrobras à gestão de Pedro Parente, alguns foram além e viram a notícia como sinal que a Petrobras está recuperada.

A análise que segue reforça a tese que a gestão de Pedro Parente foi fundamental para o processo de recuperação da Petrobras, por justiça creio que devo registrar que, a despeito de outras questões, as mudanças começaram ainda na gestão de Ademir Bendine, porém, ao contrário de Parente, Bendine sofreu com restrições impostas pela agenda política/ideológica do governo Dilma. Basta uma olhada nos jornais da época para ver os esforços de Bendine para fazer o ajuste na Petrobras com a inevitável venda de ativos. Ocorre que além da mudança na gestão iniciada com Bendine e aprofundada por Parente outros fatores afetam o desempenho da Petrobras e podem explicar a alta no preço das ações e o consequente aumento de valor da empresa. O objetivo deste artigo é jogar luz na separação entre os efeitos causados por fenômenos comum ao setor e efeitos específicos da Petrobras.

Comecemos do começo. A figura abaixo mostra a evolução das da Petrobras (PETR4.SA) e da AMBEV (ABEV3.SA) na Bolsa de São Paulo. É fácil ver a recuperação que ocorre a partir de 2015, ano que Bendine assumiu a presidência e parou a política insana das gestões anteriores, da mesma forma é visível a sequência de altas que levou o valor da Petrobras a ultrapassar o da AMBEV (lembre que o valor é o preço multiplicado pelo número de ações). Repare que a partir de 2016 tanto a AMBEV quanto a Petrobras apresentam uma série de alta nos preços, isso é verdade para várias empresas, porém a Petrobras subiu mais que a AMBEV, o que sugere que além do efeito da subida generalizada no valor das empresas brasileiras a partir de 2016 existe algo específico que a afeta a Petrobras ou a AMBEV que justifique a diferença na performance das duas. Alguém pode alegar que foi a gestão, mas meu primeiro candidato é o preço do petróleo.

O barril de petróleo que começou 2016 valendo menos que US$ 30 já está próximo a US$ 80, me parece claro que tal valorização tenha efeitos no preço das ações da Petrobras. Como separar o que foi gestão do que foi aumento do preço do petróleo? Para fazer tal comparação precisaríamos de ter os preços das ações de outras petroleiras na Bolsa de São Paulo, não é o caso. Dessa forma fui buscar o preço das ações da Petrobras na Bolsa de Nova Iorque (PBR) e comparei com o de outras petroleiras, especificamente: BP (BP), Royal Dutch Shell (RDS-A), Exxon Mobil (XOM), PetroChina (PTR) e Chevron (CVX). A figura abaixo mostra as ações dessas empresas.

Até 2010 a Petrobras andava bem perto da Shell e da BP, a partir daí a Petrobras e a BP, essa última por conta do grande vazamento que ocorreu no Golfo do México em 2010, ficaram para trás. Em 2011 a Petrobras descola da BP e começa uma trajetória de queda que dificilmente pode ser explicada por fatores que atingiram o mercado de petróleo como um todo, alguém mais cínico do que eu diria que a combinação de gestão ruim e corrupção que atingiu a Petrobras fez mais estrago que o desastre da Deepwater Horizon. Para ver melhor esses fenômenos a figura abaixo repete a figura anterior considerando apenas a Petrobras, a BP e a Shell.

Se é fácil perceber visualmente o descolamento da Petrobras das demais petroleiras o mesmo não pode ser dito da recuperação. Como ser visto os preços das ações de várias empresas subiram desde 2015, isso sugere que parte do aumento do preço da Petrobras foi por conta de fatores que afetam o setor como um todo, o principal candidato é o preço do petróleo. Para ir além disso é preciso fazer contas, a diferença entre os preços torna quase impossível determinar visualmente qual preço teve uma variação maior que os outros.

Pedro Parente foi indicado para presidente da Petrobras em 19 de maio de 2016, no dia 20 de maio daquele ano a ação da Petrobras na Bolsa de Nova Iorque custava US$ 6,45. Naquele mesmo dia a ação da BP custava US$ 28,05, da Shell custava US$ 43,18, da Exxon Mobil custava US$ 83,26, da PetroChina custava R$ 64,81 e da Chevron custava US$ 93,11. No dia 11 de maio de 2018, última dia de dados disponíveis, os preços eram US$ 16,90 para Petrobras, US$ 45,83 para BP, US$ 71,99 para Shell, US$ 81,28 para Exxon Mobil, US$ 76,95 para PetroChina e US$ 129,84 para Chevron. Se calcularmos a variação de cada preços vamos ver que a Petrobras valorizou 151%, a BP valorizou 63,4%, a Shell valorizou 66,7%, a Exxon Mobil desvalorizou 2,4%, a PetroChina valorizou 18,7% e a Chevron valorizou 39,5%.

A valorização da Petrobras ter sido muito superior a valorização de outras empresas sugere que fatores específicos à Petrobras tiveram um papel relevante no desempenho da empresa. É difícil não imaginar que tais fatores estão relacionados a mudança de governo no Brasil e a mudança na gestão da Petrobras. Por outro lado, mesmo com toda a valorização, as ações da Petrobras ainda estão longe do nível da BP e da Shell, empresas que estavam bem próximas da Petrobras até 2010. Isso sugere que a recuperação da Petrobras ainda tem um longo caminho pela frente. Se pensarmos a Shell como uma Petrobras que não sofreu desastres o impacto da má gestão na Petrobras combinada com intervenções do governo e corrupção custou US$ 55,8 (a diferença entre o preço da ação da Shell e da Petrobras) por ação negociada na Bolsa de Nova Iorque. Se formos além e considerarmos a Shell como empresa que não sofreu desastre, a BP como a empresa que sofreu desastre ambiental e a Petrobras como a empresa que sofreu o desastre combinado de má-gestão, intervenções do governo e corrupção vamos ver que o custo do desastre ambiental foi menor que o custo do desastre sofrido pela Petrobras, mais precisamente: o desastre da Petrobras custou US$ 29.6 por ação a mais que o desastre da BP.

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