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Quando o gato é preguiçoso, os ratos tomam conta do armazém
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O preço da liberdade é a eterna vigilância. Cochilou, o cachimbo cai. Quando o gato é preguiçoso, os ratos tomam conta do armazém. Os “representantes” do povo, quando deixados em paz, normalmente vão legislar em causa própria, muitas vezes na surdina, pois são seres humanos suscetíveis aos interesses e às paixões, como todos os demais.

Por isso liberais e conservadores entendem a importância do mecanismo de pesos e contrapesos, da divisão de poderes, da descentralização, da liberdade de imprensa etc. Defendem as instituições republicanas, por mais imperfeitas que sejam, sempre tentando melhora-las, mas sabendo que jamais serão perfeitas.

O combate à corrupção e aos abusos de poder deve ser constante, e não haverá jamais vitória definitiva. A narrativa messiânica ou jacobina é utópica e perigosa: não há bons atalhos, e por isso é preciso ser realista, não relaxar na luta, pressionar.

Já vejo alguns bolsonaristas usando a votação de ontem, um escárnio da Câmara, para legitimar a fala de Olavo de Carvalho (aquele que “está sempre certo”) e de Carluxo. Recapitulando: o filho do presidente reclamou da lentidão da democracia para “nossos” anseios almejados. Então já podemos reinterpretar a coisa como golpista mesmo, como a defesa de um atalho a essa democracia não só lenta, como capenga, podre? Quando sairão do armário golpista, com cores fascistas?

A defesa de um líder “popular” que incorpora a “vontade geral” e vai atropelar as instituições carcomidas é um discurso totalmente fascista, e quem estudou história sabe. Parece ser cada vez mais o discurso bolsonarista, o que é assustador.

Não há saída fora da política, por mais que ela seja podre muitas vezes. E é aí que entra a pressão das redes sociais, da mídia, das ruas. Lembro bem da narrativa: Maia liderou a reforma previdenciária, reconhecido por Paulo Guedes e Bolsonaro pelo importante papel, só por pressão das ruas, medo do povo. Ué, mas então por que agora ignorou nossa opinião?

O buraco é mais embaixo. No caso da reforma previdenciária, houve grande apoio popular, a mídia martelando a favor, explicando a importância, e os próprios deputados desenvolveram um senso de sobrevivência ali: se votassem contra, estariam liquidados politicamente, e faltaria recurso público amanhã.

No caso da minirreforma partidária e eleitoral, houve alguma pressão também, mas tudo foi feito mais às pressas, e talvez não tenha dado tempo de uma forte reação. Os deputados julgaram que valia a pena o risco, de olho nos recursos. O que deve ficar claro agora é que estavam errados, que o custo será muito alto. Não a “ucranização”, mas a rejeição nas urnas. Há gente séria ali contra esses abusos. Vide a bancada do Partido Novo.

Por fim, só lembrando aos minions que o guru mandou deixar os “camundongos” como Maia para depois, já que a real ameaça é a soberania nacional na Amazônia, o “comunismo globalista”, não a corrupção:

Pois é. Maia é comunista, por acaso? Todos aqueles que seguem o “guru” e estão revoltados com Maia e companhia hoje deveriam lembrar do foco de Olavo, mais preocupado com Macron e fantasmas comunistas do que com a corrupção da velha classe política.

São prioridades esquisitas. Se todos fossem adeptos de teorias conspiratórias, como o próprio Olavo, poderiam até suspeitar de que é uma tática para desviar a atenção, já que tudo indica um acordão entre Bolsonaro e as velhas figuras do pântano…

Rodrigo Constantino

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