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Quando um Liberal clássico trocou Amoedo por Bolsonaro
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Por Claudir Franciatto, publicado pelo Instituto Liberal

“O que não me destrói me fortalece”. – Friedrich Nietzsch

Uma faca cruza, lepidamente, o ar efusivo de um dia de glória e, numa estocada, penetra nas entranhas do futuro. É assim que acontece um corte epistemológico nas eleições de 2018. O Brasil se volta para as mudanças. Tudo começa com reflexões mais profundas. Lembramo-nos de que absolutamente tudo o que acontece neste mundo, em termos de política, mercado, realidade social, passou antes pela mente de um ser humano.

Aquele a quem chamam de fascista nunca atacou ninguém, mas é atacado. O Adélio da faca operou em mim uma decisão: eu, um liberal clássico, iria de João no dia 7 de outubro. Agora, vou de Jair. A rapidez da estocada abreviou meu processo de reflexões. O “mito”, como é chamado por seus seguidores mais inflamados, como político, tem enfrentado praticamente sozinho a ditadura do politicamente correto. Ele vem sofrendo a mais sórdida, ampla e caudalosa enxurrada de difamações, ofensas e acusações infundadas de que se tem notícia na história deste país. É a “ditadura da colagem” imposta pela esquerda. O que ela cola, pega. Assim como, para eles, as provas contra Lula não existem, as evidências de que Bolsonaro seja um monstro são desnecessárias. Basta apregoar que ele seja.

Bolsonaro é humilde em reconhecer suas próprias limitações. E chamou, em primeiro lugar, Paulo Guedes. Suas lacunas vão sendo preenchidas. Torna-se mais e mais confiável. Além do mais, os conservadores aguerridos, como ele, conseguem adotar o caráter incisivo nos discursos que nós, liberais, não temos. E há que se admitir: essa união é bem-vinda. Muito mais do que a promessa da ordem com o progresso, trata-se da junção da liberdade econômica com o conservadorismo indispensável para este momento. É um fenômeno estratégico.

Em O Poder do Mito, Joseph Campbell nos mostra que todos somos heróis. O ato de nascer, por si só, já nos impõe desafios duríssimos. Deveríamos ser mitos de nós mesmos, porque há um pouco de Hércules, de Aquiles em cada um de nós. Homens e mulheres. Mas ele expõe também outros aspectos do mito. Segundo ele, “mitos são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de significação, através dos tempos. Todos precisamos contar nossa história, compreender nossa história. Todos precisamos compreender a morte e enfrentar a morte, e todos necessitamos de ajuda em nossa passagem do nascimento à vida e depois à morte. Precisamos que a vida tenha significação, precisamos tocar o eterno, compreender o misterioso, descobrir o que somos”. Os mitos são amados justamente por serem imperfeitos, carregados de humanidade, como todos nós. E, a despeito disso, conseguem ultrapassar desafios que, supomos, jamais conseguiríamos.

No meu livro A Façanha da Liberdade, publicado em 1985, em artigo e colaboração exclusiva, o escritor Mário Vargas Llosa pondera: “Haver chegado a esse ponto – o de reivindicar o homem individual como uma entidade dona de direitos e deveres, em torno e ao serviço do qual deve originar-se a vida comunitária – é, sem dúvida, a culminância ética da História, definida por Benedeto Croce como uma façanha da liberdade”. Direitos e deveres. O mercado como engrenagem inclusiva. O Estado como coadjuvante agindo no básico. Tudo em torno de e para o indivíduo.

É Paulo Guedes quem nos lembra de que, depois de tantas décadas de estatismo e socialdemocracia, criou-se no Brasil uma legião de prisioneiros cognitivos. Acostumou-se tanto aos disseminadores da política viciada de esquerdismo que quando surge um candidato popular de direita, o assombro é gigantesco. Dessa forma, o mito terá de ser demonizado, desconstruído e demolido, à base de qualquer injúria à mão. E essa legião acaba contando com a leniência conformista dos verdadeiros liberais. Também acostumados a décadas de inexpressividade e irrelevância. Não seria esta a hora de os liberais seguirem um de seus principais intelectuais orgânicos: Paulo Guedes?

Com ênfase, esse economista-conselheiro – que poderá ser alçado ao cargo de ministro da Fazenda -, depois de se tornar bem próximo ao candidato, carrega nos elogios. Que esse mito de carne e osso é íntegro, corretíssimo, agora completamente determinado a uma sociedade aberta do mercado livre construtor de riquezas, além da ideia fixa de combater a verdadeira violência. O mito é humano. Capaz de ser ferido à morte. Mas sobrevive e nos liberta pela esperança.

Só não muda, agora, quem se tornou prisioneiro cognitivo.

Sobre o autor: Claudir Franciatto é jornalista e escritor.

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