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Sobre os terroristas do Hamas, nem uma palavra desses "humanitários"...
Sobre os terroristas do Hamas, nem uma palavra desses "humanitários"...| Foto:

Ríspido e com poucas palavras, o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), repreendeu nesta terça-feira os líderes do governo no Congresso e na Câmara, Joice Hasselmann (PSL-SP) e Vitor Hugo (PSL-GO). No cafezinho da Câmara, ao passar pelos dois, Moreira demonstrou sua revolta com uma mensagem nas redes sociais postada por Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro. Flávio escreveu“Quero que vocês se explodam” , em resposta a uma nota de repúdio do grupo extremista islâmico Hamas, classificado como terrorista por EUA e Israel, à abertura de um escritório de negócios pelo governo brasileiro em Jerusalém.

— Chega! Chegamos ao limite! Não dá mais! Acabou a paciência! — disse Alceu Moreira, em tom de enfrentamento, ao citar a mensagem do senador.

A cena foi presenciada pelo GLOBO. Joice e Vitor Hugo ainda tentaram acalmar o presidente da frente ruralista, mas ele saiu em disparada rumo a um dos elevadores privativos da Câmara. Desde que Bolsonaro prometeu mudar a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, a Frente Parlamentar da Agropecuária negocia um recuo do Planalto. Na viagem presidencial a Israel, Bolsonaro decidiu abrir apenas um escritório de negócios em Jerusalém.

A preocupação do setor é com uma possível retaliação de países árabes à exportação de carne brasileira. O Brasil é hoje o maior exportador global de proteína halal — preparada de acordo com as tradições islâmicas. O mercado consumidor do produto reúne 1,8 bilhão de muçulmanos.

Depois de ter feito a publicação no Twitter, Flávio Bolsonaro apagou a mensagem.

Menos mal que o senador tenha apagado a mensagem. Entende-se a preocupação prática com o comércio por parte dos ruralistas, da mesma forma que é compreensível o desejo da bancada evangélica de ver a mudança da embaixada para Jerusalém. E política é isso mesmo: contemporizar, priorizar, aparar arestas, buscar consensos, nunca perfeitos. Jamais será possível agradar a gregos e troianos.

Já comentei sobre a importância simbólica da visita a Israel, principalmente para o resgate da clareza moral, tão em falta no mundo multiculturalista de hoje. Também compreendo, porém, a questão comercial, já que o mundo árabe é importante consumidor de nossos produtos, especialmente aves. Delicada situação, sem resposta fácil, pois é um dilema entre a moral e o material.

Dito isso, não acho que o Hamas fale em nome dos árabes. É um grupo terrorista, como também já argumentei, e vários países dominados por árabes repudiam seus métodos. Comprar briga com o Hamas, portanto, não é o mesmo que atacar muçulmanos, nem mesmo palestinos. Estes são reféns do Hamas!

Mas, mesmo pensando assim, não acho correto Flávio Bolsonaro se expressar nesses termos. E eis o ponto aqui: não dá mais para confundir governo com rede social, governo com campanha. A família Bolsonaro agora é poder, situação, e isso envolve certas obrigações, liturgia do cargo, deveres para com toda a nação.

O presidente fala em nome do Brasil, e mal ou bem, por culpa do próprio, o que seus filhos dizem também acaba associado ao que o pai pensa: foi ele que permitiu tal aproximação promíscua, e basta pensar se Carlos Bolsonaro age como vereador carioca ou como braço-direito do pai, especialmente nas redes sociais.

Eu, que sou apenas um formador de opinião, um analista independente, tenho todo o direito de expressar minhas ideias sem muito freio, apenas levando em consideração a responsabilidade como influenciador. Eu, então, posso dizer que quero mais que o Hamas se exploda mesmo. Mas não um Bolsonaro. Não um senador, filho do presidente.

Os bolsonaristas precisam aprender logo sobre os limites dos cargos que agora ocupam. Não estão mais só como “lacradores” de redes sociais, alimentando a militância virtual. O que eles falam tem repercussão no mundo real, pelo poder que possuem. No limite, se eu desejar abertamente o fim do Hamas, posso apenas atrair terroristas malucos contra mim; se o presidente ou um filho dele diz o mesmo, pode colocar o Brasil numa guerra ou como foco do terrorismo internacional.

Com o bônus do poder, vem o ônus da responsabilidade maior. A verborragia da família precisa ser contida, mesmo – ou principalmente – na era das redes sociais…

PS: Aos que ainda culpam Israel pelos problemas na região, como se fossem desaparecer se Israel também desaparecesse do mapa (ou dali), segue trecho escrito em importante relato por ninguém menos que Mosab Hassan Yousef, cujo pai foi um dos fundadores do grupo terrorista como já diz o título de seu ótimo livro, O filho do Hamas:

Perguntei a mim mesmo o que os palestinos fariam se Israel deixasse de existir, se as coisas não apenas voltassem a ser como antes de 1948, mas se todo o povo judeu abandonasse a Terra Santa e voltasse a se espalhar pelo mundo. Pela primeira vez, eu sabia a resposta. Ainda lutaríamos. Por nada. Por causa de uma garota que não estivesse usando um véu. Para saber quem era mais durão e importante. Para decidir quem ditaria as regras e quem conseguiria o melhor lugar.

Rodrigo Constantino

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