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Recessão Brasileira (2014-2016): a culpa foi da “Nova Matriz Econômica”
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Por Marcel Balassiano, publicado pelo Instituto Liberal

No 46º Encontro Nacional de Economia, promovido pela ANPEC, apresentei o artigo “Recessão Brasileira (2014-2016): Uma Análise por Meio do Método do Controle Sintético do PIB, PIB per capita, Taxa de Investimento e Taxa de Desemprego”, uma continuação de um artigo meu apresentado no Encontro da ANPEC de 2017, sob o título “Desempenho da Economia Brasileira entre 1980 e 2016: Uma Análise da Desaceleração Brasileira Pós-2010”.

Trago ao leitor do Instituto Liberal o resumo do artigo apresentado neste ano.

O Brasil passou por um processo de desaceleração muito forte da sua economia, e, de acordo com o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CODACE), a recessão durou do segundo trimestre de 2014 até o quarto trimestre de 2016. Diante desse quadro, um dos grandes debates na economia (e política) brasileira nos últimos tempos foi sobre os motivos que levaram o país a uma das piores recessões de sua história. Uma parte credita mais a fatores internos (principalmente derivados da chamada “Nova Matriz Econômica” dos governos Lula e Dilma). Outra parte acredita que fatores externos também tiveram contribuição relevante para essa desaceleração da economia. Dessa forma, o objetivo deste artigo é analisar, por meio do método do controle sintético, como se deu o descolamento dos dados efetivos do Brasil com os dados estimados do “Brasil sintético” para a taxa real de crescimento anual do PIB e do PIB per capita em dólares, da taxa de investimentos (% do PIB) e da taxa de desemprego, colocando o ano de 2013 (ano anterior do começo da recessão) como evento ou intervenção. Os resultados estão em linha com os resultados encontrados em Balassiano (2017) e Matos (2016), mostrando que, relativamente aos fatores externos, os fatores internos foram os principais responsáveis pela forte deterioração recente da economia brasileira, já que, principalmente no triênio recessivo (2014–2016), a desaceleração foi bem mais forte do que nos anos anteriores, e também quando se compara com os outros grupos de controle.

O Gráfico 1 mostra o gap entre os valores observados e estimados para as taxas reais de crescimento do PIB no Brasil nesta última recessão (2014-2016). Para as outras variáveis analisadas (PIB per capita, taxa de investimento e taxa de desemprego), a história é a semelhante. Ou seja, durante o período analisado (2000-2016), os valores efetivos e estimados pelo modelo apresentam uma trajetória similar, sendo que, nos anos mais recentes, essa diferença ficou bastante acentuada.

No método do controle sintético, é recomendável fazer os mesmos exercícios com uma outra unidade (no caso, país) que não foi afetada pelo evento (a recessão brasileira de 2014-2016), nela fazendo exatamente a mesma análise. O país escolhido como “placebo” foi o Chile, país identificado como seguidor das políticas macroeconômicas tradicionais no âmbito da América Latina. E, as diferenças entre os valores efetivos e estimados foi bem maior no Brasil do que no Chile, levantando a hipótese de que fatores internos tiveram uma contribuição significativa para a última recessão brasileira.

Na Tabela 1 há um resumo das comparações do Brasil e Brasil sintético para três variáveis analisadas (PIB, PIB per capita e taxa de investimento), além de uma comparação com a América Latina e os países emergentes. Pode-se observar que o Brasil apresentou um desempenho muito aquém dos grupos de comparação no período 2013–2016, se acentuando ainda mais no triênio recessivo (2014-2016).

Por fim, o Gráfico 2 mostra a comparação entre os dados efetivos e estimados para a taxa de desemprego, variável mais sensível para a população de uma maneira geral. Antes do início da recessão (primeiro trimestre de 2014), a taxa de desemprego estava em 7,2%, e chegou aos 12,0% no fim da recessão (final de 2016). Já os valores estimados pelo modelo indicam que a taxa de desemprego deveria ser próxima de 8,0% em 2016. Ou seja, dos mais de 12 milhões de desempregados em 2016, por volta de quatro milhões de pessoas poderiam não estar nessa situação, de acordo com o modelo.

Então, o artigo mostrou, por meio do método do controle sintético, o descolamento do desempenho da economia brasileira (taxas reais de crescimento do PIB e do PIB per capita em dólares) durante a recessão (2014-2016) com alguns grupos de comparação (“Brasil sintético”, além da América Latina e das economias emergentes), o que não ocorreu em outros períodos do passado, reforçando a visão de que essa perda de ritmo recente decorre, em grande medida, de fatores específicos da nossa economia. As taxas de investimento (em % do PIB) também tiveram um gapmaior com os grupos de controle no período recessivo (2014-2016) do que no período 2000-2012, assim como a taxa de desemprego cresceu mais fortemente do que o estimado no período recessivo.

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