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Todos sabem das minhas diferenças com Olavo, que vêm de longe, mas pergunto: por que a mídia nacional não consegue fazer uma só reportagem sobre ele em que ao menos tente realizar um trabalho jornalístico sério, sem tantos preconceitos na largada? O filtro ideológico salta aos olhos!

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Na grande reportagem da revista Época sobre o pensador, fica claro o esforço em tratar tudo como um circo, cujo palhaço bate palmas para malucos dançarem. Por que não falam da “espiral de silêncio” nos tempos em que o filósofo denunciava – praticamente sozinho – a corrupção da “inteligência” brasileira, tão bem descrita no imperdível livro de Flavio Gordon? O autor destaca, por exemplo, esse trecho de Olavo sobre Gramsci e sua influência no Brasil, que deve ser levado muito a sério:

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Dá para ridicularizar esse alerta, por acaso? Por que não entrevistam Rodrigo Gurgel, Bruno Garschagen, Flavio Morgenstern, Alexandre Borges, Paulo Antônio Briguet e tantos outros pensadores sérios e importantes, que assumem abertamente tanto a influência de como a admiração por Olavo? Por que distorcem a entrevista que fizeram com Carlos Andreazza?

É muito desejo de “desconstruir” o filósofo e deixar só o “personagem” do Facebook. Olavo e Bolsonaro precisam ser ridicularizados pela imprensa, pois “ultraconservador”, para ela, já é o PSDB. E nada além dessa “direita” é permitido, como sabemos. Tudo muito bem explicado, aliás, no livro do Gordon.

Quem fala em globalismo, em pedofilia como estratégia deliberada de socialistas, no intuito da esquerda de destruir a família tradicional e a civilização ocidental, só pode ser um “reacionário paranoico”, motivo de piada, não é mesmo?

Olavo não é meu guru, e reconheço que se tornou essa figura mítica e quase folclórica que influencia uma ala estranha da “direita” – aliás, ele mesmo admite isso, e diz que essa gente não fala em seu nome (apesar de o esforço mimético do estilo estar evidente). Até sobre o “socialismo fabiano” ele andou lamentando ter ensinado o que era para alguns imbecis, que agora enxergam o troço em todo lugar.

Mas daí a ignorar totalmente o outro lado, do autor de análises acuradas sobre o esquerdismo nacional e global, vai uma longa distância, que separa o jornalismo do proselitismo, da campanha difamatória. Eu consigo deixar minhas desavenças de lado – e quem fala isso foi apelidado pelo homem de “Rodrigo Cocô Instantâneo” (ele tem senso de humor, convenhamos) – para avaliar o pensador sério e culto por trás dessa figura meio patética, com obsessão pelo orifício que usamos para defecar, que se sobressai nas redes sociais.

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Por que, então, jornalistas que deveriam buscar a imparcialidade não conseguem fazer o mesmo? Por que só conseguem enxergar esse Olavo, e deixar o outro, bem mais interessante, de lado? Seria porque, no fundo, querem justamente avacalhar com a parte séria da mensagem e da análise, aquela que denuncia, por exemplo, o esquerdismo quase hegemônico presente na nossa imprensa? Se for isso, não percebem que confessam seu crime ao agir assim, provando o ponto do filósofo? Cada nova tentativa de tratá-lo como guru de seita circense é mais uma evidência de que, ao menos nisso, Olavo tem razão!

Rodrigo Constantino