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Por Roberto Rachewsky, publicado pelo Instituto Liberal

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Foi a sociedade civil, apoiada pelas forças armadas, que resolveu dar um basta à aventura dos trabalhistas em direção ao comunismo que se avizinhava. O golpe de 67, no entanto, fez o Brasil rumar para outros lados. A supressão dos direitos individuais, que visava conter os marxistas, acabou mesmo foi com os liberais.

Foram décadas de ditadura política com desvarios na economia. Poucas vozes condenavam a tecnocracia militarista que transformou o país num laboratório dirigido por engenheiros sociais, especialistas em planejamento central, no qual os cidadãos brasileiros se tornaram cobaias. Duas delas foram especialmente para mim fundamentais: Henry Maksoud e Donald Stewart Jr.

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Henry Maksoud trouxe para o Brasil ninguém menos do que Friedrich Hayek. Trouxe-o não apenas em pessoa, na década de 70, mas também, na década seguinte, através da publicação de suas principais obras: “Fundamentos da Liberdade”, “Direito, Legislação e Liberdade” e “Arrogância Fatal”.

Maksoud ainda escreveu, ele próprio, uma série enorme de obras mostrando os problemas éticos, políticos e econômicos brasileiros, além de prescrever soluções, inclusive ao editar uma Constituição Federal para o Brasil, antes da estrovenga que nos foi outorgada em 1988.

Donald Stewart Jr. nos trouxe Ayn Rand em 1987 com a publicação de “A Revolta de Atlas”, entitulado na época de “Quem é John Galt?”. Foi assim que Donald nos apresentou o alerta que Ayn Rand fazia aos americanos com o seu romance distópico, uma impressionante descrição pormenorizada do que seria o futuro político e econômico dos Estados Unidos da América se seguissem o caminho em direção ao coletivismo e à social-democracia. Donald vira naquele livro o que acabamos vendo na realidade, um esboço perfeito do que se transformara o Brasil.

Ayn Rand não foi a única figura genial que Donald nos apresentou, toda uma escola de pensamento liberal inédita no Brasil nos foi apresentada por ele e seu Instituto Liberal, inclusive os pensadores austríacos, monetaristas e anarcocapitalistas, hoje tão em voga.

Henry Maksoud e Donald Stewart Jr., além disso, ainda se tornaram ativistas em prol da liberdade e entendiam os caminhos que o Brasil seguia mais do que ninguém. Alertavam sobre nossos descaminhos com veemência, com verve, com elegância intelectual, valendo-se de vasto conhecimento, sem proferir impropérios, como os gentlemen verdadeiros que eram.

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Eram diletantes que enriqueceram criando valor real para uma sociedade com a qual ainda contribuíam com seu escasso tempo para conscientizá-la, sem auferir qualquer ganho monetário, muito antes pelo contrário. Maksoud ainda editava uma revista semanal espetacular e tinha um programa de televisão. Lembrem-se que naquela época não havia internet.

Na sua esteira surgiram outros, entre os quais Roberto Campos, que antes de ser defensor do capitalismo era mais um pretensioso socialista.

Eu fico pasmo quando vejo gente tratando os gurus, blogueiros, youtubers, influencers de hoje em dia como se fossem gênios iluminados que viriam a derrocada do Brasil antes de todos, como se monopolizassem bolas de cristal. Quem afirma isso não sabe nada de Brasil, não sabe nada de como as ideias liberais e a oposição ao coletivismo estatista surgiu por aqui.

É uma ofensa a toda uma geração de intelectuais, empresários e ativistas que foram perseguidos pelo estado, quando o estado era ditatorial. Muitos tiveram seus negócios prejudicados por causa de suas posições, inclusive Maksoud e Stewart Jr. Nenhum desses esperou a abertura para fazer críticas, nenhum desses esperou a maré virar para desafiar o establishment. Não apenas buscaram educar as antigas gerações, como investiram em instituições para difundir, através da literatura, os princípios, valores e ideais que desafiavam opiniões.

Há mais de 35 anos esses pioneiros já condenavam o corporativismo das elites empresariais e sindicais, o estatismo, o positivismo e o marxismo, defendendo, sem medo, a liberdade individual, a propriedade privada, o estado verdadeiro de direito e o livre mercado como tem que ser defendido.

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Editora Visão, com Maksoud e Jose Stelle; Instituto Liberal do Rio de Janeiro, com Donald Stewart Jr e Og Leme; IEE, com William Ling, comigo, com Carlos Smith e seu Fórum da Liberdade e com Carlos Biedermann; Instituto Liberal do Rio Grande do Sul, com Winston Ling, comigo de novo, com Leonidas Zelmanovitz e com Andre Loiferman, toda essa gente, mas não apenas eles, construiu um arcabouço literário e institucional que não existia até então no Brasil.

Quase todos os que vieram depois beberam dessa fonte, os que não o fizeram não sabem o que perderam. Geniais foram o velho Henry e o velho Donald que, se estivessem vivos hoje, estariam ainda lutando pelo liberalismo no Brasil. Porém, certamente, estariam mais confiantes porque as ideias que eles nos trouxeram estão se espalhando exponencialmente, influenciando jovens de todo o país.

É claro que homens como Roberto Civita, Paulo Guedes, Salim Mattar, Helio BeltrãoRodrigo Constantino, Roberto Demeterco, Jorge Simeira Jacó, entre dezenas de outros, foram e são fundamentais para catalisar aquilo que foi plantado por aqueles dois sonhadores e por quem veio logo após. Os que hoje navegam nessa onda devem saber que tudo começou ali.

Esses que se dizem videntes, que propagam terem lido as estrelas antes que ninguém, prestam um desserviço à história do Brasil. Tentam reescrever os fatos para criar narrativas auto elogiosas para satisfazer um narcisismo doentio.

É importante ter autoestima, saber o seu valor, mas ninguém vale mais diminuindo o que os outros fizeram. Pelo contrário, quando alguém quer parecer maior diminuindo quem está em volta, mostra um sério transtorno: sobra narcisismo e falta autoestima.

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