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Tem uma turma grande – e crescente – nas redes sociais que, infelizmente, diz-se de direita, repete que é conservadora, mas que, na prática, quer mesmo é ver o circo pegar fogo, insuflar as massas e ter uma revolução para chamar de sua. Para essa turma, estamos numa guerra de vida ou morte contra o “sistema podre”, e “algo deve ser feito”. Temer seria nosso Maduro, por tal ótica, e o pessoal, sem se dar conta, faz o jogo da extrema esquerda, pregando o caos na véspera das eleições.

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A quantidade de “revolucionário de Facebook” que vibrou com o caos instalado no Brasil esses dias não foi brincadeira. Cheguei a escrever vários comentários nas redes sociais como alerta para esse clima jacobino incentivado por esses “intelectuais”. Não adianta: o maior desafio de mudança será mesmo alterar a mentalidade do povo – e das elites. Lembrar que não se constrói uma nação da noite para o dia, e que é preciso tomar muito cuidado com essas saídas mágicas, paridas na violência.

Conversando com familiares que estão estocando enlatados em casa no Rio, me dei conta de que é a mesma situação que enfrento aqui na época dos furacões. A diferença, claro, é que o responsável, num caso, é a natureza, e no outro, o próprio povo. O Brasil, definitivamente, não precisa de furacões…

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Quando o gigante acorda, sempre acorda meio abobalhado, indignado (com razão) e movido por paixões. Aí quebra algumas coisas, queima alguns pneus, prega uma solução mágica para os males que o próprio gigante causou (não foram alienígenas que votaram nesses políticos, certo?), e volta a dormir o sono eterno novamente, sem qualquer mudança estrutural, sem deixar qualquer legado duradouro. Esse gigante…

“Mas alguma coisa tem que ser feita”. E o sujeito diz isso ignorando que “alguma coisa” pode ser “qualquer coisa”, ou seja, que mudança pode ser para pior também. Começo a respeitar mais os grevistas quando na pauta deles estiver reforma da previdência, corte estrutural de gastos públicos, menos intervenção estatal na economia, fim de privilégios corporativistas, livre mercado. Algo parecido nessa paralisação?

Agora os petroleiros resolveram entrar em greve. Deu certo para os caminhoneiros, não? É o que dá negociar sob a condição de refém. Quem não chora não mama! Os grupos dos chorões organizados vão apresentar suas demandas, como se fossem as do povo brasileiro, e o povo brasileiro, “malandro” como sempre, vai pagar o pato. Vão acabar derrubando o presidente da Petrobras, que vinha dando uma melhorada no troço dentro das possibilidades como estatal. Falar em privatização essa turma “patriota” não fala, não é mesmo? Querem resolver o problema da alta dos preços internacionais na marretada, na canetada do governo. Devem sentir saudades de Dilma, que foi por esse caminho e deu no que deu. Detalhe bobo para essa gente revoltada. O Brasil cansa…

Deixa eu desenhar: não é conservador quem aposta na quebra institucional e na revolução pelo caos; não é de direita, ao menos não de boa estirpe, quem quer ver o circo pegar fogo pois “pior que tá não fica”; não é liberal quem pede governo definindo preço de produtos na canetada; não é defensor de princípios quem usa o argumento petista de que a vida está dura para justificar crimes; e jamais será estadista quem, de forma oportunista, aproveita esse clima para insuflar as massas e tirar casquinha eleitoral de uma greve. Quem age assim pode ser irresponsável, jacobino ou até fascista, mas não espalhe por aí que é conservador ou liberal de direita, por favor.

A história se repete. Vários “guerreiros machões” me acusando de nada fazer pelo país, porque eles são os “patriotas do bem” ao apoiar grevistas que querem derrubar na marra o goveno. Exatamente como 2013, cujo resultado foi a vitória de Dilma em 2014. Mas esses “corajosos” juram ser um Thomas Jefferson desafiando britânicos, um Washington liderando seu exército da independência, e não um bando de desesperados ignorantes liderados por oportunistas irresponsáveis. Tá “serto”…

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Os revolucionários broncos e ignorantes, petistas de sinal trocado, precisam do verniz intelectual dos pensadores de direita, para sua força bruta ter uma justificativa mais teórica. Mas se essa gente tivesse mesmo o poder, os intelectuais conservadores, esses “frouxos que ficam atrás dos computadores”, seriam os primeiros a ir para o paredão. Intelectuais sempre alimentando o monstro que quer devora-los, da esquerda à direita…

Resgatei uma passagem de Olavo de Carvalho também: “A essência da mentalidade contra-revolucionária ou conservadora é a aversão a qualquer projeto de transformação abrangente, a recusa obstinada de intervir na sociedade como um todo, o respeito quase religioso pelos processos sociais regionais, espontâneos e de longo prazo, a negação de toda autoridade aos porta-vozes do futuro hipotético.”

Dúvida: por que quem lidera as pesquisas e está tão seguro de uma vitória – a ponto de muitos seguidores falarem em vitória já no primeiro turno – jogaria tanta lenha na fogueira revolucionária num clima jacobino claramente de melar qualquer saída pelo próprio sistema, dentro das regras do jogo? Vários repetindo que querem “derrubar o sistema” e ao mesmo tempo confiando numa vitória do seu mito pelo sistema? E tudo isso meses antes da eleição? Faz sentido, José? Ou seria racional especular que a turma não está tão segura assim dessa vitória, pois percebeu que uma coisa é ter um nicho de uns 20% garantido, e outra, bem diferente, é ter a maioria?

Pela reação de alguns, não ficou claro que não estou demonizando os caminhoneiros em si, cuja revolta, cansei de repetir, compreendo bem; estou condenando o oportunismo irresponsável de quem se aproveita disso para jogar lenha na fogueira e tenta “derrubar o sistema”, achando que vai entrar em seu lugar um paraíso qualquer, ou quem pretende extrair vantagens indevidas dessa comoção nacional.

Renan Calheiros foi um dos que tentaram tirar uma casquinha da revolta, alegando ser necessária a mudança de política de preços da Petrobras ainda que, para isso, seja preciso afastar a direção da Petrobras e a equipe econômica. Renan afirma que a população “não aguenta mais pagar preços abusivos” do óleo diesel, da gasolina, do etanol e do gás de cozinha.

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Randolfe Rodrigues foi outro, gravando vídeo pedindo a cabeça de Temer. Os “revolucionários de Facebook” dando pauta para socialistas meses antes das eleições, sendo que Jair Bolsonaro lidera as pesquisas: faz sentido? Bolsanaro, porém, foi outro que agiu de forma oportunista e irresponsável, jogando lenha na fogueira, gravando vídeo em apoio aos grevistas, e enviando o presidente do PSL para discursar aos caminhoneiros, pedindo votos. Que coisa feia!

Se alguma crítica fosse feita aos métodos dos grevistas, você era logo um inimigo da Pátria. A galera ignorava alguns alertas importantes que fiz questão de resgatar: “Todo o problema com o mundo é que tolos e fanáticos estão sempre tão certos de si mesmos, mas pessoas mais sábias estão tão cheias de dúvidas”, disse Bertrand Russell. Também dele: “O grau de emoção varia inversamente com o conhecimento dos fatos – quanto menos você souber, mais acalorado você ficará”. E do poeta Yeats, na mesma linha: “Aos melhores falta convicção, enquanto os piores estão cheios de intensidade apaixonada”.

Tem esse aqui de Thomas Sowell também: “Poucas coisas são mais perigosas do que deixar algumas pessoas tomarem decisões pelas quais outras pessoas pagam os custos”. Paulo Cruz escreve algo nessa linha em seu Twitter: “Disseram que estamos numa guerra — o que, para mim, é um desrespeito tremendo com quem passou por tamanha tragédia. Mas, ainda que estivéssemos, meu herói seria um Desmond Doss (que se sacrifica) e não um Thanos (que sacrifica os outros)”.

Resgatei, ainda, uma passagem de Gustave Le Bon sobre a psicologia das massas: “Uma massa é como um selvagem; não está preparada para admitir que algo possa ficar entre seu desejo e a realização deste desejo. Ela forma um único ser e fica sujeita à lei de unidade mental das massas. Como tudo pertence ao campo dos sentimentos, o mais eminente dos homens dificilmente supera o padrão dos indivíduos mais ordinários. Eles não podem nunca realizar atos que demandem elevado grau de inteligência. Em massas, é a estupidez, não a inteligência que é acumulada. O sentimento de responsabilidade que sempre controla os indivíduos desaparece completamente. Todo sentimento e ato são contagiosos. O homem desce diversos degraus na escada da civilização. Isoladamente, ele pode ser um indivíduo; na massa, ele é um bárbaro, isto é, uma criatura agindo por instinto”.

Essa passagem, aliás, consta num texto meu de 2013, “Brincando de revolução”. Só para constar aos que estão “decepcionados” comigo com essa postura “nova”: meus mesmos alertas foram feitos naquela época, quando “não era só pelos 20 centavos” e pediam “desculpas pelo transtorno, mas estavam construindo um novo Brasil” (aquele que elegeu Dilma no ano seguinte). Se é black bloc ou caminhoneiro importa menos para mim, que foco mais nos métodos e no risco da aventura revolucionária sair de controle. Já as manifestações “coxinhas” de 2015, aos domingos, pacíficas e familiares, resultaram no impeachment de Dilma, mesmo com os “revolucionários de Facebook” contra.

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Divulguei dois excelentes textos do Bernardo Santoro sobre o assunto também. Esse aqui, que diz:

A nova grande onda dos pós-conservadores revolucionários nas últimas 24 horas foi acusar os conservadores tradicionais de covardia quando estes defendem a prudência no processo político e denunciam que o ato de desabastecimento é errado e criminoso.

O comentário óbvio sobre isso é que, igual a um esquerdista (e é incrível como os pós-conservadores andam chancelando táticas de esquerda ultimamente), o que se está criando aqui é um espantalho.

Em nenhum momento qualquer pensador conservador tradicional brasileiro defendeu a ausência de luta política. Nós defendemos com veemência a ausência de luta revolucionária. Isso são coisas completamente distintas.

E esse outro aqui, que refuta a comparação absurda de que esses caminhoneiros em greve seriam nossos “pais fundadores” como os americanos na “festa do chá” em Boston, que diz:

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Há mais de um ano, venho alertando sobre o ciclo institucional do Brasil, onde a nossa democracia nunca perdura por muito tempo. Estamos realmente vivendo um período pré-revolucionário, e lideranças intelectuais da direita tem a obrigação moral de buscar promover uma mudança de sistema baseado nos compromissos da Revolução Inglesa, e não no terror da Revolução Francesa. O estamento atual vai cair, isso é uma inevitabilidade, agora o modo como vai cair, se de maneira girondina ou jacobina, depende totalmente das lideranças desse processo.

Quando leio importantes representantes da direita jacobina, muito influentes, muito mais do que eu, criando justificativas e fomentando conflitos sociais, inclusive de atos tão graves quanto o desabastecimento de cidades, não posso deixar de pensar que estamos realmente num momento de divisão entre a direita nacional. Faço um chamamento à responsabilidade aqui.

Porque é muito fácil comemorar a festa do chá dos EUA, mas é difícil contar a morte das 150 mil pessoas ocorrida no processo iniciado pela festa do chá. É fácil ser um jacobino contemporâneo, mas é difícil prestar contas das pessoas injustamente abatidas por aqueles que te inspiraram.

Enfim, como fica claro, tentei trazer um pouco mais de luz para o debate, em vez de calor. Não sou um agitador, um ativista irresponsável, um “revolucionário”, e não creio que esse papel combine com quem se diz liberal ou conservador. Perdi algumas dezenas de seguidores, o que considero uma depuração natural e saudável: quem não aceita críticas e não tolera o contraditório não tem o que fazer me seguindo mesmo. Afinal, cheguei a desabafar:

Para um petista, quando se ataca o PT só pode ser um tucano. Para um bolsominion, se você faz crítica ao “mito” só pode ser novete (fã do Novo). Para um novete, qualquer consideração pragmática sobre quem tem chances reais de vencer é aderir ao bolsonarismo fascistoide. E para muitos, se você critica seus gurus só pode ser por intere$$e$ obscuros. Essa cambada toda em busca de um Osho para chamar de seu nunca vai entender o que é independência intelectual? Que preguiça…

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E dá preguiça mesmo. Afinal de contas, o Brasil cansa!

Rodrigo Constantino