• Carregando...
Rodrigo Maia pode abandonar protagonismo na reforma previdenciária: qual o efeito disso?
| Foto:

Assim que soube da prisão não só de Michel Temer, mas de Moreira Franco, sogro de Rodrigo Maia, uma das primeiras preocupações foi como iria reagir o presidente da Câmara. Há uma turma barulhenta nas redes sociais que parece adotar a máxima fiat justitia, pereat mundus, ou seja, que se faça justiça mesmo que o mundo pereça.

É corrupto? Então só isso que importa: cadeia! Essa gente, cuja indignação com o estado de coisas no país é perfeitamente legítima, não quer saber de “detalhes” como se a prisão preventiva está de acordo com o estado de direito ou quais seus efeitos para a reforma necessária. Se a economia tiver que afundar para pegarmos mais alguns corruptos, que seja!

Pois bem: ontem, ao fazer alertas sobre isso, não só sobre as consequências práticas dessa prisão, lembrando que pode muito bem ser justamente esse o objetivo da Força Tarefa – boicotar a reforma previdenciária que afeta a categoria -, mas também sobre a forma pela qual se deu uma estranha prisão preventiva – lembrando que Lula, muito mais fanfarrão e perigoso, só foi preso após condenação em segunda instância -, umas duas centenas de seguidores desapareceram da minha página. Faz parte: não me importa ser seguido por quem quer um agitador de massas, e não um analista independente que diz o que realmente pensa.

Mas eis o ponto: os alertas parecem ser válidos, e isso fica mais claro com o passar do tempo. Rodrigo Maia já poderia estar retaliando, não só ao indicar gente do PSOL para grupos de trabalho sobre o projeto anticrime na Câmara, mas ao dar sinais de que pretende tirar suas mãos da articulação pela reforma previdenciária. Hoje ele retuitou uma mensagem cujo alerta não poderia ser mais transparente:

Alguns acham que Maia não importa, ou que não largaria o protagonismo da reforma por questões pessoais (santa ingenuidade!). Maia, que vinha tendo papel preponderante nesse esforço sim, poderá fazer muita falta ao governo nessa hora. Não por acaso os investidores, que não vivem de “lacradas” nas redes sociais, acusaram o golpe: o Ibovespa caiu de forma acentuada e o dólar disparou para perto de R$ 3,90. Maia é relevante, e muito. É o que constata o deputado Paulo Eduardo Martins, conservador, da base governista, e cuja prioridade declarara é aprovar essa reforma:

Noto muita gente dizendo que o Rodrigo Maia está atrapalhando a reforma. É uma visão equivocada. Maia tem trabalhado muito para viabilizar a aprovação. Você pode não gostar dele, mas é fato que ele tem feito esse trabalho. Desgastar um aliado da reforma é atrapalhar a mesma.

A mensagem é um tanto óbvia, mas o clima no país, especialmente nessa ala mais bolsonarista que endeusa a Lava Jato, não está propício para reflexões sérias e ponderadas. O pessoal quer sangue! E se você não oferecer isso, eles vão embora, não sem antes te xingar, postar imagens te ridicularizando e te acusar de defensor de bandido.

Nem todos que festejaram a prisão de Temer são jacobinos, claro, assim como nem todos que ficaram preocupados defendem corruptos. A mentalidade jacobina é justamente aquela que não liga para possíveis desdobramentos de ordem prática e ainda acusa quem se preocupa com isso de “vendido” ou esquerdista. Todos que dizem “dane-se o Rodrigo Maia”, e por tabela a reforma previdenciária, devem ao menos admitir o teor radical da mentalidade. Estão realmente prontos para as consequências de suas ideias?

Carlos Andreazza, Vera Magalhães e Joel Pinheiro da Fonseca destrincharam o despacho do juiz Marcelo Bretas no programa 3em1 da Jovem Pan ontem, mostrando o arbítrio da prisão preventiva do ex-presidente Michel Temer e também os riscos para a reforma. Por mais que se queira ver supostos corruptos atrás das grades, todos aqueles preocupados com o estado de direito, em vez de um estado policialesco, deveriam ver o programa. Desarmados de preconceitos. Fiz essa recomendação aos meus leitores, e vários vieram como chacais ou hienas para o ataque. Só ataques pessoais, nenhum contraponto ou argumento. Gente supostamente de direita!

É um ambiente tóxico para o debate, para construção de instituições mais sólidas, para o avanço de reformas. É um clima revolucionário, ou pré-revolucionário. O editorial da Gazeta do Povo de hoje também reconheceu que o despacho contém furos, e que “a decisão do juiz Marcelo Bretas pecou pela falta de clareza, o que é particularmente preocupante em um caso desta gravidade”. Mas vai ver a Gazeta é parte do time comunista que conspira contra o combate à impunidade…

Muitos querem ver Maia se ferrando, sem qualquer preocupação prática, pois deve ser corrupto também. Eduardo Cunha é corrupto, mas foi fundamental para o impeachment de Dilma. Articulação necessária que gente pragmática, como a turma do MBL, soube fazer, enquanto “gurus jacobinos” queriam só ver o circo pegar fogo, jogando para a plateia e atiçando a turba. É bom lembrar disso, e do que realmente deu bons resultados para o país. Imaginem se o PT tivesse continuado no poder…

É muita bobagem escrita, muita militância revoltada, muito desejo de “justiça” no matter what, e pouca reflexão, ponderação, cautela e prudência, valores claramente conservadores. Essa “direita” está muito mais para Robespierre do que para Burke. E essa “direita” está no poder. Deus salve o Brasil, se for mesmo brasileiro!

Rodrigo Constantino

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]