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(Eduardo Munoz Alvarez/Reuters)
(Eduardo Munoz Alvarez/Reuters)| Foto:

Alguns leitores devem lembrar do meu “episódio” com a bela atriz Scarlett Johansson. Escrevi há mais de ano que até uma beldade como ela tinha “embarangado” por conta do feminismo. Uma página do Facebook resgatou a postagem e usou uma foto (terrível) minha, ao lado de uma maravilhosa dela, para insinuar que um macho feio estava criticando a beleza da atriz (como se homem que é homem de fato ficasse se comparando com mulher).

Lembro disso só para dizer que, no mundo moderno, mesmo para atores e atrizes politicamente corretos há o dia de pombo e o dia da estátua (Bruno Gagliasso que o diga). Alimentaram tanto o monstrinho que ele inevitavelmente irá devorar a todos, inclusive aqueles que se julgam protegidos, pois fazem sempre o discurso “correto”. Não dá para ser “correto” o tempo todo, já que a loucura campeia cada vez mais depois que abriram as portas dos manicômios.

E eis que Scarlett Johansson, sim, a linda atriz que faz a Viúva Negra dos Vingadores, tornou-se alvo dos “guerreiros da justiça social” que falam em nome das “minorias”. O motivo? Ela vai interpretar um trans num filme chamado “Rug and Tug”. Pelo visto ela não pode atuar como um homem trans, pois o papel deveria ir para… algum trans real. Não importa que fingir ser outra pessoa seja a própria definição de atuar. Hello!

O pior ainda está por vir: a revista Business Insider publicou um texto em defesa da atriz, lembrando dessa obviedade ululante – que atores e atrizes sempre se passam por outras pessoas. Daniella Greenbaum aparentemente tomou a ousada posição de sustentar que atores precisam fingir que são quem não são, e concluiu: “Scarlett Johansson foi o mais recente alvo da multidão dos guerreiros da justiça social. A atriz está sendo castigada por, bem, atuar”.

O óbvio precisa ser dito no mundo atual, mas eis o realmente espantoso: a revista passou a ser alvo da turba, e cedeu à pressão! Em vez de Scarlett ser o alvo mais recente, Daniella passou a sê-lo. Em resposta a essa chuva de ataques coordenados, a revista achou melhor retirar do site o artigo. Inventou um padrão de qualidade qualquer do editorial para tanto, o que trai apenas a covardia dos editores.

Agora, então, como diz Jonah Goldberg, temos três “polêmicas”: 1) pode um ator que não é trans fazer o papel de um trans? 2) pode um colunista defender o ator por simplesmente atuar? 3) pode um veículo de comunicação decidir de forma retroativa apagar aquilo que acabara de defender?

Goldberg passa, então, a responder as questões. Primeiro, lembra que do ponto de vista legal é claro que atores podem se passar por qualquer um, mas que reclamações de “grupos de minoria” não são novidade. No entanto, na era do racismo institucionalizado podia fazer mais sentido atacar atores brancos que se passavam por negros pois os negros estavam impedidos de atuar, ou então eram ridicularizados. Nada parecido existe hoje.

A reclamação da comunidade trans não é que Scarlett Johansson estaria ridicularizando os trans, e sim de que ela estaria roubando seus empregos. É pura reserva de mercado. Um trans tinha que ser escalado para o papel de um trans, ponto, pois assim mais um trans teria destaque em Hollywood.

Essa forma de pensar, com base em políticas de identidade, tem afetado o mundo todo, infelizmente. É preciso criar cotas, ainda que informais, para tudo: desfile, novelas, propagandas etc. Cada grupo minoritário organizado vai pleitear a sua parcela de “representatividade”. E pro inferno com o talento individual, a demanda do público, a meritocracia, a liberdade de escolha e o direito de propriedade.

Quem manda é a patota barulhenta. Mas onde isso vai terminar? Para fazer o papel de Shylock é preciso ser judeu? Para atuar como um gay deve ser mesmo gay? A premissa é tão absurda que sequer deveria ser colocada. Vivemos, porém, num mundo absurdo, cada vez mais absurdo. E nesse mundo insuportavelmente chato, uma atriz não pode se passar por trans num filme, pois o papel deve estar reservado a um trans.

Scarlett Johansson ajudou a alimentar uns Gremlins, ao aderir ao movimento feminista radical. Mal sabia ela que os Gremlins crescem, ficam mais agressivos, saem de controle, e agora voltam para devora-la. O esquerdismo politicamente correto com sua divisão com base em grupos de identidade, ignorando a existência do indivíduo, ainda vai destruir nossa civilização…

Rodrigo Constantino

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