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O episódio envolvendo o Banco Central e seu ex-diretor Alexandre Schwartsman foi um dos mais pitorescos dos últimos tempos. E olha que concorrência não faltou! O BC, conforme Veja divulgou, entrou com uma queixa-crime contra as críticas “difamatórias” do colunista da Folha, o que claramente se configura uma tentativa de intimidação ao direito básico de liberdade de expressão.

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As críticas que Schwartsman tem feito à gestão do BC são até leves, em minha opinião. Eu mesmo já acusei seu presidente Alexandre Tombini de ser uma marionete do Planalto algumas vezes, e cheguei a afirmar que não contrataria Guido Mantega nem como meu estagiário.

Em vez de apresentar queixa-crime contra quem critica a equipe econômica de Dilma, o certo seria chamar os “homens de branco” para internar num hospício aqueles que elogiam tanta incompetência. Mas sabemos que muitas vezes os elogios são diretamente proporcionais aos “afagos” recebidos.

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Enfim, o fato é que vários dos mais importantes economistas do país assinaram uma petição contra o BC por seu ato arbitrário e autoritário, e parece que a instituição, que pertence ao estado e não ao governo ou a algum partido, já recuou dessa maluquice. Vence a liberdade de expressão.

E Schwartsman, em sua coluna de hoje, dá o troco da melhor forma possível: usando a ironia para ridicularizar ainda mais – se isso for possível – esse bando de incompetentes que tem destruído nossa economia. Diz o autor:

Passei o fim de semana desnorteado. A presidente antecipou a demissão do ministro da Fazenda, que agora que desfruta da inédita condição de ex-ministro em atividade, com consequências funestas para a temperatura de seu cafezinho (pelo que me lembro, o café da Fazenda já era particularmente abominável; frio então…), assim como para qualquer iniciativa que ainda pretenda tomar no campo da política econômica.

Funestas serão também as implicações para minha vida de colunista. Desde que aceitei o convite para escrever uma vez por semana neste espaço, sempre me angustiei com o tema da coluna. Suores frios, insônia, o tique-taque implacável, o cursor piscando na tela em branco… Nestas horas, porém, sempre pude contar com a contribuição inestimável de Guido Mantega: quase toda semana ele me ofereceu, de forma mais que graciosa, ideias para meus artigos, ideias que, francamente, minha parca imaginação jamais atingiria.

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Em seguida, ele cita alguns exemplos das típicas trapalhadas de Mantega e sua turma, pois recordar é viver. É o retrato do estrago do país em poucos anos. Com ácida ironia, conclui:

Ao contrário da revista “The Economist”, que tempos atrás pediu de forma irônica a permanência do ministro, apelando à psicologia reversa, eu sou franco em meu apelo, ainda mais porque se trata, como se viu, de matéria do meu mais profundo interesse.

Acredito, inclusive, que seria caso de mantê-lo como ministro qualquer que seja o resultado da eleição. Não é que eu deseje o mal do país, mas poderíamos deixá-lo na mesma posição que hoje ocupa, isto é, sem qualquer relevância para a formulação ou execução da política econômica; apenas para nosso entretenimento.

Entendo perfeitamente o ponto: como alguém que chega a escrever até cinco textos diários no blog, a ausência de pauta é sempre uma angústia. Mas no Brasil, felizmente para os colunistas e infelizmente para o povo, pauta é o que não falta com tanto “gênio” no poder. O país afunda, mas ao menos o espetáculo de palhaçadas é garantido…

Rodrigo Constantino

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