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Será que vamos conseguir sair desse atoleiro?
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O governo provisório de Michel Temer começou bem na área mais sensível, que é a economia. Com equipe técnica, com nomes de respeito como Henrique Meirelles (Fazenda), Ilan Goldfajn (Bacen), Maria Silva Bastos (BNDES), Pedro Parente (Petrobras) e Mansueto Almeida (assessoria econômica), entre outros, Temer mostra que está falando sério quando diz que pretende colocar a economia novamente nos trilhos.

Sua equipe já deu sinais de que compreende a urgência do momento e tem o diagnóstico acurado dos principais desafios, como a reforma previdenciária. Tudo isso, portanto, nos leva a preservar algum grau de otimismo. Um otimismo cauteloso, como descrevi em meu bate-papo com Leandro Ruschel. Mas não dá para cantar vitória antes do tempo. Simplesmente porque o estrago causado pelo PT é gigantesco, assim como os desafios pela frente. Nesse trecho deixo claro que o petismo lançou uma bomba-atômica sobre o país:

Por isso o Ibovespa ainda está perto da faixa dos 50 mil pontos e o dólar próximo a R$ 3,50. Não dá para se abraçar aos ativos brasileiros, comprar o “kit Brasil”, achando que o pior já passou e que teremos boas notícias daqui por diante. A herança maldita vai nos assombrar por muito tempo ainda. Rogério Werneck, em sua coluna de hoje, resumiu muito bem o cenário nacional:

Tendo em vista a devastação do quadro fiscal, ninguém espera, em sã consciência, que o reparo possa ser feito num par de anos. O que, sim, talvez se possa esperar é que o governo seja capaz de promover um choque de confiança decisivo, que desencadeie um círculo virtuoso que, aos poucos, na esteira de melhora persistente das contas públicas, permita vislumbrar a restauração da sustentabilidade fiscal em prazo um pouco mais longo.

Trata-se de viabilizar uma sequência de medidas que possam dar sinais críveis de que a deterioração das contas públicas pode ser revertida. E de que o novo presidente está efetivamente empenhado na mudança do regime fiscal. O ideal seria que o governo pudesse anunciar essa sequência de medidas tão logo quanto possível, mesmo tendo em conta que muitas delas não poderão ser implementadas de imediato. Um plano de jogo claramente explicitado, que eliminasse temores de surpresas e improvisações, seria um grande avanço.

[…]

Temer pode ficar tentado a se animar com a lembrança de que Itamar Franco contava, de início, com um mandato ainda mais curto, de 27 meses. E de que ainda se deu ao luxo de dilapidar os primeiros sete, permitindo-se nomear nada menos que quatro ministros da Fazenda entre outubro de 1992 e maio de 1993. Foi nos 20 meses restantes que o Plano Real pôde ser concebido e implementado com grande sucesso. Mas é preciso ter em conta que as dificuldades de viabilização do Plano Real foram de natureza distinta. Não envolveram um esforço de reconstrução fiscal tão problemático como o que Temer agora tem pela frente.

Tampouco teve o governo Itamar de lidar com fatores de risco tão sérios como os que agora terão de ser enfrentados. Temer terá de governar sob o espectro da perda de mandato por decisão do Tribunal Superior Eleitoral. E terá de conviver com a probabilidade, nada desprezível, de que os desdobramentos da Lava-Jato e de operações similares acabem afetando as possibilidades da condução da política econômica, seja pelos efeitos diretos que poderão ter sobre o governo, seja pelos abalos que poderão provocar na bancada governista no Congresso.

“Fácil não será. Mas não há dúvida de que o quadro se tornou bem mais promissor”, conclui o professor, em análise que vai ao encontro do que penso também. Temer tem a chance de fazer a diferença, deixar sua marca na História. Parece disposto a isso. Colocou pessoas capazes na equipe para liderar o processo. Mas, mesmo assim, não há garantias, pois os obstáculos são simplesmente incríveis.

O quadro político continua frágil, o PT fará de tudo para impedir as mudanças necessárias, há o fator Lava-Jato, o risco de tropeços no Congresso, e tudo isso sem mencionar o cenário externo, com o Federal Reserve iniciando o processo de aumento da taxa de juros. Ou seja, tem muita coisa que pode dar errado no caminho.

Por isso Temer precisa de todo apoio possível. Pois mesmo dessa maneira, o Brasil pode continuar afundando no atoleiro criado pelo PT.

Rodrigo Constantino

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