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A fala sobre a lentidão da democracia publicada por Carlos Bolsonaro continua gerando repercussão. Ele, seu irmão Eduardo e os bolsonaristas sempre fiéis insistem que a imprensa e os políticos que se manifestaram contra são analfabetos incapazes de interpretar um texto simples, ou então canalhas, termo inclusive usado pelo próprio Carlos.

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Na lista de analfabetos ou canalhas já temos, além de praticamente todos os jornalistas, o presidente do Senado, o vice-presidente da República, o presidente da Câmara e o governador de São Paulo, entre outros. Não há a menor possibilidade de um mea culpa por parte de Carluxo, de um pedido de desculpas se foi “mal-compreendido”, pois não se expressou muito bem. Nada disso. Canalhas!

O vereador licenciado não parece perceber que toda fala depende de quem fala e do contexto. Eduardo, o irmão mais novo, saiu em sua defesa citando até Churchill, ignorando o óbvio: Carluxo não é um estadista, não é Churchill, mas sim Carluxo, o pitbull das redes sociais, que adora xingar desafetos e críticos, e que flerta com caminhos autoritários.

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A família toda, aliás, nunca demonstrou forte apreço pelos valores democráticos. Foi tema do editorial do Estadão de hoje, intitulado de forma bem direta “Flerte com o golpismo”:

Trata-se, é evidente, de uma gravíssima sinalização para a ruptura das regras do Estado Democrático de Direito – um golpe – como único caminho para chegar à tal “transformação” do País na velocidade “almejada”, seja lá o que isso signifique.

No Palácio do Planalto, dois auxiliares do presidente disseram ao Estado que “o que Carlos fala não se escreve”. Um ministro de Estado classificou a postagem do vereador como “uma maluquice”. É um erro fazer pouco-caso de tão vil afirmação. É um erro banalizar o absurdo. Todas as vozes em favor da lei, da liberdade e da democracia devem se levantar em horas como essa. 

Faz-se urgente e necessária a manifestação do presidente da República. Jair Bolsonaro precisa dizer claramente aos brasileiros o que pensa sobre a declaração de seu filho.

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A família Bolsonaro nunca foi particularmente conhecida por sua defesa da liberdade e dos valores democráticos. Por essa razão, é imprescindível que o patriarca, ainda no hospital, faça os devidos reparos ao filho para que não pairem dúvidas sobre o destino que pretende dar a seu governo.

Muitos tentam diminuir a relevância do caso, pois Carlos é apenas um vereador, ou filho do presidente. Piada! Ele já foi considerado pelo pai como o mais importante para sua vitória! Ele quase foi ministro do governo, cuidando justamente da comunicação. Bolsonaro apoia o estilo Carluxo de ser, essa postura liberticida e revolucionária das redes sociais. E por isso seu silêncio é preocupante, e também ensurdecedor.

Fabio, o “colecionador”, provocou com ironia em sua página: “O Carluxo levou pito do Mourão, do Alcolumbre, do Bolinha, do Doria, de todo mundo; mas eu tava aqui procurando a bronca q o Jair deu nele, mas não achei. Vai ver ele passou o dia inteiro assistindo Chaves e nem ficou sabendo. Ou então não tem wifi no hospital, né? Hospital público é foda”.

O fato é que Bolsonaro deve uma resposta pública. Não é brincadeira o que foi dito, por quem foi dito da forma que foi dita, até porque pela reação de boa parte da militância, o efeito foi mesmo o esperado: passaram a detonar nossa democracia, vista como de fachada, inexistente, o que é um convite para ações revolucionárias contra as instituições.

Debatemos no 3em1 desta terça a postagem de Carlos, e o tom de condenação foi unânime:

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Por fim, O Antagonista avisa que Carlos será convocado para a CPI das Fake News. Será esse o motivo da licença pedida pelo vereador? Algumas páginas “reaças” já sumiram das redes sociais. A revolta bolsonarista com a CPI das Fake News foi pra lá de suspeita, mascarada por preocupação com a liberdade.

Mas quem conhece a turma nas redes sociais, quem já ousou criticar o presidente e experimentou uma palhinha do modus operandi da manada, tem todo motivo do mundo para desconfiar de que há, sim, um exército virtual sob o comando de Carluxo. A conferir…

Rodrigo Constantino