| Foto:

Saneamento é assunto muito sério. Afinal, sua falta ou má qualidade pode levar a inúmeras doenças, especialmente nas comunidades mais pobres. Mas governos não gostam muito de investir no setor, pois as obras não ficam tão evidentes quanto as de prédios ou pontes.

CARREGANDO :)

Além disso, é da natureza do estado como empresário a ineficiência na prestação do serviço e o desvio de recursos. Por essas e outras defendi em meu livro Privatize Já a solução de passar ao setor privado a tarefa de cuidar do tratamento de água e esgoto.

Um estudo recente do Trata Brasil, divulgado pelo GLOBO, mostra justamente como os locais que já transferiram a responsabilidade para a iniciativa privada lideram o ranking de qualidade de serviço:

Publicidade

Antes de contar com redes de abastecimento de água e de coleta de esgoto, o vigia Mario Eugenio Lopes, de 74 anos, morador de Jurujuba, em Niterói, nem olhava o valor da conta da Cedae: simplesmente a rasgava. Há pelo menos cinco anos, com o saneamento enfim implantado, ele diz fazer questão de pagar regularmente a tarifa a uma concessionária. A oito quilômetros dali, no bairro do Rocha, em São Gonçalo, a situação é outra. A pastora Maria Ivani de Sá move um processo contra a Cedae desde 2000 — sua igreja não tem rede de esgoto, mas as contas chegam religiosamente em dia.

Os casos mostram o descompasso entre cidades vizinhas quando o assunto é saneamento, tema abordado na série de reportagens “Vinte anos de descaso’’, que, publicada pelo GLOBO no mês passado, mostrou o fracasso de projetos de despoluição da Baía de Guanabara. Dos dez municípios do estado que constam no último ranking da ONG Instituto Trata Brasil — que avalia o saneamento nas cem cidades mais populosas do país —, cinco estão entre os piores colocados da lista. Esses cinco — Belford Roxo, São Gonçalo, Duque de Caxias, São João de Meriti e Nova Iguaçu — têm serviços de saneamento operados pela Cedae e despejam esgoto na baía. Na ponta oposta, Niterói aparece na 14ª posição, muito à frente da capital fluminense, que amarga um modesto 56ª lugar. Na terra de Araribóia, a responsabilidade pelo saneamento é, há quase 15 anos, da concessionária Águas de Niterói.

Entre técnicos, o debate sobre a privatização do saneamento ganha força. Para o presidente-executivo do Trata Brasil, o químico Édison Carlos, não há melhoria de saneamento sem investimentos, o que explica, por exemplo, a diferença de desempenho entre Niterói e São Gonçalo.

— Normalmente, quando é executado pela iniciativa privada, o serviço tem garantias por força de contrato. Há metas e compromissos a cumprir. Em geral, há uma agência reguladora, que é outra vantagem — observa o químico.

Para o biólogo Mário Moscatelli, os dados do Trata Brasil mostram que o modelo de gestão pública estadual do saneamento não funciona mais.

Publicidade

— A iniciativa privada sofre fiscalização e não tem influência política. Já uma empresa do governo se coloca acima do bem e do mal — diz Moscatelli.

Diante desse quadro e dessas evidências, só resta mesmo uma solução para melhorar a vida de milhões de brasileiros: jogar o “raio privatizador” nas estatais. *

* O candidato Paulo Batista, que concorre para deputado estadual em SP, tem adotado uma postura brincalhona e até caricata, assumindo o codinome de “raio privatizador” para chamar a atenção e levar sua mensagem contra a incompetência estatal aos eleitores paulistas. Brincadeiras à parte, o tema é muito sério e merece bem mais atenção por parte do público em geral.

Rodrigo Constantino