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Por Roberto Ellery, publicado pelo Instituto Liberal

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Em abril de 2014, fiz um artigo (link aqui) mostrando que o pessoal do mercado pecava por excesso de otimismo. Na época, o objetivo era desmistificar a tese de que o mercado era pessimista e fazia terrorismo econômico. A verdade é que os números do Boletim Focus, que resume as expectativas de mercado, mostravam o exato contrário: nos anos anteriores a 2014 o mercado estimava crescimento maior e inflação menor do que o crescimento e a inflação que de fato ocorreram.

Hoje volto ao otimismo de mercado, mas com outra perspectiva. Se em 2014 o otimismo do mercado era estranhamente percebido como pessimismo, em 2019 a correção do otimismo do mercado durante o ano é vista como sinal de aprofundamento da crise. Por certo a recuperação é lenta e está ameaçada, não há questionamentos aqui; meu ponto é que a redução das expectativas de crescimento do Focus não é um bom termômetro para isso. A verdade é que normalmente as expectativas de crescimento para baixo são corrigidas para baixo durante o ano. A figura abaixo mostra a expectativa de crescimento na última semana de janeiro e na última semana de junho entre 2001 e 2019.

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Com exceção do período 2006-08 e de 2010, em todos os anos a expectativa de crescimento em junho era menor do que em janeiro. É verdade que a queda deste ano ficou acima da média, mas isso se deve mais ao excesso de otimismo em janeiro do que à dinâmica da economia propriamente dita. Desde que a crise saiu do armário em 2014 até 2018, a economia brasileira encolheu em média 0,96% ao ano. Neste mesmo período, o maior crescimento foi de 1,1% em 2018. De onde o pessoal do mercado tirou a ideia que o crescimento em 2019 seria de 2,5%?

Terá sido empolgação com a vitória de Bolsonaro? Pode ser, mas, como eu já disse antes, esse padrão de superestimar o crescimento em janeiro não é atípico. Em onze dos dezoito anos decorridos entre 2001 e 2018, o crescimento previsto em janeiro foi maior que o crescimento ocorrido de fato. A figura abaixo mostra a expectativa de crescimento em janeiro e o crescimento ocorrido no período posterior à crise.