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"Somos todos marxistas", diz Delfim Netto. Eu não!
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É tóis! É tóis!

“Insanidade é fazer tudo do mesmo jeito e esperar resultados diferentes”. (Einstein)

Em sua coluna de hoje, Delfim Netto, uma espécie de Sarney da economia (há décadas em torno do “puder”), tentou resgatar ninguém menos do que Karl Marx. Tentou resgatar parte dele, é verdade, a parte teórica, separando-a da parte revolucionária, que merece, segundo Delfim, todas as críticas por ter virado uma “igreja” de fanáticos. Diz ele:

Os dois gigantes que estavam em Marx, o teórico e o revolucionário vão pouco a pouco tomando distância entre si. De sua imensa obra teórica ficarão sólidos resíduos, incorporados definitivamente à consciência da humanidade e que irão perdendo a sua identidade por submergirem no que se supõe ser o estoque das “verdades” que conhecemos.

A sua obra revolucionária, ao contrário, continua a empalidecer porque a experiência mostrou que o “marxismo” implementado distingue-se muito pouco da “ditadura dos intelectuais proletarizados”, como queria Bakunin.

Quais sólidos resíduos seriam esses? O autor não diz. Temos de aceitar assim, por imposição, por apelo à autoridade. A experiência mostrou, de fato, que sua obra revolucionária leva, quando colocada em prática, a uma ditadura dos “proletários”, ou daqueles que falam em seu nome. Curiosamente, Delfim parece crer que tal resultado não tem ligação alguma com suas teorias. Ledo engano!

Como vários teóricos mostraram, especialmente os economistas austríacos, a teoria marxista colocada em prática levaria inexoravelmente ao resultado catastrófico que vimos por todo lugar. Não foi coincidência, mero acaso ou falta de sorte. Não foi uma má interpretação de sua obra. Foi o resultado lógico de premissas absolutamente equivocadas.

Não é possível separar o Marx teórico do revolucionário: sua teoria serviu de arcabouço para a revolução que defendeu, e sua honestidade intelectual foi turvada pelo desejo revolucionário. Quando um fato ia contra sua teoria, era o fato que saía perdendo e acabava ignorado. Delfim parece compreender parte do problema, mas não sua essência:

A obra de Marx só não conheceu a mais completa absorção pela corrente do pensamento universal porque, depois de 1917, foi falsificada e transformada na religião oficial do Império soviético. Em lugar da sociedade sem classes, eles construíram um mundo fantástico de opressão e de obscurantismo, como só intelectuais sabem fazer. A experiência mostrou que a vontade de poder, o desejo de submeter o outro homem, está no próprio homem e que ele só pode ser controlado por um regime autenticamente político.

Os soviéticos não chegaram a falsificar Marx. Não foi preciso. A sua teoria caiu como uma luva para os interesses leninistas. O desejo de poder presente na natureza humana só pode ser contido por um modelo de descentralização de poder, como ocorre no capitalismo de livre mercado, e o contrário do que pregam os marxistas, inclusive o próprio Marx.

Não há incoerência maior do que pregar uma “ditadura do proletário” como fase intermediária para o comunismo, uma sociedade sem a necessidade de um estado. Concentrar todo o poder estatal em uma classe ou um grupo qualquer, para depois defender sua abolição voluntária é uma piada de muito mau gosto, que só marxistas podem levar a sério. Delfim conclui:

A miséria humana não é produto da propriedade privada, pelo menos não exclusivamente. Os “intelectuais proletarizados” nunca entenderam, de fato, as dificuldades que cercam a organização de uma economia moderna. É por isso que o mundo comunista se dissolveu. A “Igreja” faliu. Agora qualquer um de nós pode ser “marxista”, sem medo de ser feliz! 

A miséria humana não é produto da propriedade privada, “pelo menos não exclusivamente”? Delfim faz uma concessão absurda aos marxistas para poder acusá-los de seita fracassada em seguida. A propriedade privada não é culpada pela miséria; é sua salvação! Não é que ela produza parte da miséria; ela produz a riqueza que elimina a miséria!

A história da civilização ocidental é em boa parte a história das maravilhas produzidas pela propriedade privada em um ambiente de livre mercado. Ignorar isso é ignorar a essência do capitalismo e suas vantagens, observadas já por Adam Smith em 1776. A riqueza das nações depende da propriedade privada e do livre comércio.

Ou Delfim não tem coragem de afirmar o óbvio, ou não concorda com isso e está simplesmente errado, como os marxistas revolucionários que condena. Pensando ter separado o joio do trigo, Delfim acredita que podemos todos nos considerar marxistas hoje, sem medo de ser feliz. Fale por si só. Eu não sou marxista em nada!

Tanto o Marx teórico como o revolucionário estavam equivocados ao extremo. Resgatar qualquer um desses marxismos é insistir em um erro responsável pela miséria, escravidão e morte de milhões de inocentes.

Rodrigo Constantino

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