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Por Roberto Ellery, publicado pelo Instituto Liberal

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Um dos problemas de debater gasto público é a ordem de grandeza desses gastos. São números muito grandes e de difícil comparação com nossa experiência no dia a dia. Gastar R$ 520 mil com diárias e passagens em seis meses como fez Dilma Roussef este ano (link aqui) impressiona grande parte dos brasileiros que não faz R$ 520 mil em dez anos de trabalho, mas quando comparamos com os R$ 2,4 bilhões gastos com funções legislativas entre janeiro e maio deste ano os R$ 520 mil desaparecem.

Da mesma forma os R$ 2,4 bilhões parecem pequenos quando comparados com R$ 253 bilhões gastos em previdência social no mesmo período. O uso dessas grandezas astronômicas para confundir o público e fugir do debate sobre a necessidade de controle do gasto público ficou marcado na expressão “Dá bilhão?” que foi usada por Ciro Gomes, folclórico candidato presidencial, em tentativa tosca de se contrapor a Rodrigo Constantino quando este último apontava para necessidade de cortes de gastos.

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Tal problema aparece quando falamos dos subsídios do BNDES. Afinal R$ 40 bilhões é muito ou pouco? Comparado ao quê? Para ilustrar o tamanho do gasto com subsídios peguei o gasto por função conforme divulgado pela Secretaria do Tesouro Nacional (link aqui) e adicionei o gasto com subsídios totais também divulgado pela Secretaria do Tesouro Nacional (mais sobre esses dados e conceitos ver aqui e aqui). Usei o ano de 2016 por ser o último ano completo, seria mais adequado fazer uma média de três ou quatro anos, mas isso ficará para o próximo artigo.

A figura abaixo mostra os gastos por função e foram excluídos o gasto com previdência que, por ser muito alto, distorceria a figura e os gastos da função “Encargos Especiais” pois tais gastos não estão associados a um bem ou serviço específico (ver aqui).

Os subsídios do BNDES não constam na tabela de gasto por função, vale lembrar que parte desses subsídios são implícitos e estão diluídos na conta de juros. Repare que apenas saúde, educação, assistência social, trabalho e defesa nacional custaram mais que os subsídios do BNDES. O gasto com subsídios destinados aos empresários amigos foram mais de cinco vezes o gasto federal com segurança e quase sete vezes maior que o gasto com ciência e tecnologia. Transporte e agricultura somados não chegam nem a metade do gasto com subsídios.

Em qualquer das funções listadas os recursos usados para subsidiar os clientes do BNDES teriam um impacto significativo. Para quem está preocupado com educação e inovação seria possível resolver a crise das universidades e institutos federais e ainda sobrariam recursos para a ciência e tecnologia. Para quem está preocupado com segurança seria possível turbinar a Polícia Federal permitindo um combate mais efetivo à corrupção e outros crimes federais. Para quem está preocupado com o social seria possível mais que dobrar o Bolsa Família ou turbinar outros programas sociais. Mesmo na saúde a chegada de um volume de recursos de quase 40% do recurso recebido teria um impacto significativo.

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Até aqui considerei apenas outros usos dos recursos pelo setor público, sendo um liberal e estando mais preocupado com famílias e empresas do que com governo eu deixaria o dinheiro com quem de direito, ou seja, reduziria o que o governo toma do pagador de impostos.

Para esta discussão não importa o que seria feito com o dinheiro, o que importa é que o valor dos subsídios é significativo e teria forte impacto em outras áreas. E se a sociedade decidisse colocar estes quase R$ 40 bilhões em subsídios? Não seria uma escolha válida? Para mim não, mas minha opinião não importa, se for desejo da sociedade, representadas pelos congressistas, que tais recursos sejam usados para subsidiar os muito ricos que os R$ 40 bilhões sejam incluídos no orçamento com esta finalidade.

É sobre isso que trata a Medida Provisória que cria a TLP. Se o Congresso decidir que devemos gastar R$ 100 bilhões por ano com subsídios assim será, eu continuarei reclamando, é meu direito. Não votarei em deputado ou senadores que aprovem um orçamento com tanto dinheiro para subsídios nem muito menos em um presidente que envie tal orçamento, mas se o orçamento foi aprovado é porque outros brasileiros votaram. O importante é que tais subsídios estejam claros no orçamento. O importante é que eu possa dizer a meus colegas de academia que estão preocupados com a redução nas verbas para ciência e tecnologia que podemos sextuplicar tais recursos sem aumentar o gasto total do governo. O importante é que eu possa dizer a meus amigos preocupados com segurança que podemos quintuplicar os recursos federais para segurança apenas tirando dos subsídios aos JBS da vida. O importante é que possa dizer a meus amigos preocupados com o social que podemos duplicar o Bolsa Família apenas reduzindo subsídios dados aos muito ricos.

Se eles vão me ouvir ou concordar comigo? Tomando a experiência em outros debates eu creio que não, mas é por demais injusto me negar a possibilidade de pelo menos fazer um artigo questionando a lei orçamentária e perguntando porque os recursos destinados a subsídios não ficam com o pagador de impostos ou são destinados a outros fins.