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A “surpreendente” vitória de Wilson Witzel no Rio, o cisne negro e a força do bolsonarismo
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O PSL, partido nanico, tornou-se uma das maiores forças no Congresso após a eleição deste domingo. O fenômeno Bolsonaro só surpreendeu mesmo a turma que se “informa” apenas pela mídia mainstream. O tema é batido aqui no blog. Já aponto para essa bolha cognitiva faz tempo. Um texto escrito por Gustavo Almeida no Facebook explica bem o aspecto do “cisne negro”, com base no resultado “surpreendente” no Rio:

A surpreendente vitória de Wilson Witzel no primeiro turno – e que tem muito o aspecto de se confirmar no segundo – foi detectada ao longo dessa semana por alguns analistas com quem converso. Aliás, quem acompanha os posts do coordenador do plano de governo de Wilson, Bernardo Santoro, saiu mais bem informado do que quem lia jornais ou se informava por pesquisas – ele, assim como o jornalista Mario Marques, apontaram várias vezes o crescimento do candidato do PSC.

Para os jornais, terá sido o acontecimento mais bizarro dos últimos anos em uma eleição. Para quem já vinha acompanhando, foi algo corriqueiro. Para todos, porém, pode-se classificar como um Cisne Negro, que é como são chamados alguns acontecimentos e fenômenos pelo libanês Nassim Nicholas Taleb, autor do livro “A lógica do Cisne Negro” e de “Antifrágil”, duas obras imprescindíveis de interpretação da realidade. 

Em seu livro, Taleb explica que antes da Austrália ser descoberta, as pessoas do Velho Mundo acreditavam que cisnes eram de plumagem branca; era um conhecimento definitivo, baseado em observação e experiência. Quando se deparam, porém, com o primeiro cisne negro, tal conhecimento se torna inválido, a afirmação “cisnes são brancos” não pode mais ser feita. Afinal, surge um outlier (dados estatísticos que vão contra a constatação geral), que é o cisne negro.

Basicamente, na visão de Taleb, o Cisne Negro é um evento imprevisível, algo extraordinário, mas apenas para quem não mora na Austrália, ou seja, para quem não o previu. E logo depois do ocorrido, ele se torna “explicável”; tal como a queda das torres no dia 11 de setembro, um evento completamente absurdo e fora da curva mas que, horas depois, já tinha motivações e culpados definidos. 

No livro, Taleb descreve brilhantemente o “terceto da opacidade”, em trecho que reproduzo a seguir:
“A mente humana é afligida por três males quando entra em contato com a história, o que chamo de ‘terceto da opacidade’. São eles:

a) A ilusão da compreensão, ou como todos acham que sabem o que está acontecendo em um mundo que é mais complicado (ou aleatório) do que percebem.

b) A ilusão retrospectiva, ou como podemos abordar assuntos somente após os fatos, como se estivessem em um espelho retrovisor (a história parece mais clara e organizada nos livros de história do que na realidade empírica)

c) A supervalorização da informação factual e a deficiência de pessoas com conhecimentos profundos e muito estudo, particularmente quando criam categorias — ou ‘platonificam’.

O impacto do evento é maior quando ocorre com quem o sofre: um peru na véspera do Natal pode achar que está tudo bem – mas seu dono sabe que, pelo menos para o peru, as coisas devem acabar mal. 

O que aconteceu com as eleições do Rio? Um Cisne Negro que, depois de ocorrido (apesar de eu tê-lo previsto sexta-feira), passa a ter as explicações que elenco abaixo:

1) Muito cedo, ainda em abril, o ex-juiz começou a ser orientado para ter posições mais conservadoras que, no momento certo, pudessem ser alinhadas com os candidatos do PSL, partido de Jair Bolsonaro. O responsável por esta orientação foi o publicitário Alexandre Borges, especialista em Marketing Político com várias campanhas no currículo. É de Alexandre o slogan “Mudando o Rio com juízo”, que adere de forma magistral a um eleitorado que acredita em mudanças de forma serena e que quer mais rigor contra a corrupção.

2) Flávio Bolsonaro, eleito senador, apoiou Wilson publicamente em diversas ocasiões, e isso provocou certa transferência de votos. 

3) Quando a candidatura de Garotinho foi cassada, surgiu um nicho, um “espaço vazio”. Até então, o olhar dos eleitores era para três candidatos: Paes, Romário e Garotinho. Havia, com estes três – apesar da liderança de Paes e do recall positivo de sua prefeitura – certo “cansaço”, certo conformismo. “Ah, só tem estes três mesmo?”. A performance muito ruim de Romário nos debates aumentava o desalento. Muitos correram para Tarcisio Motta, que foi bem em todos os debates – mas num estado em que Segurança Pública é o tema que mais aflige (principalmente a população mais pobre, da periferia), é muito difícil o discurso do PSOL emplacar. 

4) Neste “espaço vazio” eis que, de repente, em algumas pesquisas, apareceu Wilson em quarto e depois em terceiro. Na sexta-feira, na pesquisa ESPONTÂNEA, Wilson já era o segundo, empatado com Romário. Com isso, ele pela primeira vez apareceu como opção REAL, VIÁVEL, para um eleitor que votava sem convicção (No Paes para tirar o Romário, no Romário para tirar o Paes, no Garotinho para tirar ambos). A “Onda Wilson” não foi captada pelos jornalões como merecia. 

5) Seu discurso anti-corrupção (colado na marca “juiz federal”), alinhado com um discurso mais duro na área de Segurança (ele promete extinguir a secretaria de Segurança e criar uma secretaria para cada polícia) chamou a atenção da população, mas não teria efeito se não fosse…um desconhecido, até então. Para Paes, Garotinho e Romário o discurso de mais rigor na segurança não teve “liga”.

Estes fatores seguramente contribuíram para esta que foi talvez a maior virada de todos os tempos em uma eleição para governador. E acredito que a situação de Paes é bem difícil, a virada parece complicada – não se sabe para onde irão os eleitores do PSOL, tende a votarem nulo, já que não teria coerência votarem em Paes (PSOL é oposição total ao MDB e ao DEM) e muito menos em Wilson (por estar na faixa conservadora do espectro político). Claro, muito vão pagar pela língua – em 2016, no segundo turno Freixo x Crivella, estes mesmos eleitores atacaram duramente os defensores do voto nulo. Acredito que Índio vá apoiar Wilson e Pedro Fernandes vá para o lado de Paes. Márcia Tiburi, pelo que vi, está brigando com setores que queriam sua renúncia antes do primeiro turno e deve se abster totalmente.

Romário, depois de receber o apoio de Garotinho, murchou e talvez se abstenha no segundo turno. Sai menor do que entrou – seu desempenho nos debates, repito, fez muito mal a sua carreira política.

O segundo turno será duro, mas eu aposto na vitória de Wilson Ex-Juiz Federal.

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