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A coluna de Nelson Motta hoje no GLOBO toca em um ponto importante, que foi resumido pelo filósofo Karl Popper assim: “Não devemos aceitar sem qualificação o princípio de tolerar os intolerantes senão corremos o risco de destruição de nós próprios e da própria atitude de tolerância.”

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Motta faz perguntas pertinentes: É tolerável que as liberdades da democracia sejam usadas para destruí-la? Desde quando o respeito à lei e ao Estado de Direito viraram coisa “de direita”? Não deveriam ser, e conheço muita gente na esquerda que concorda.

Mas a verdade precisa ser dita: aqueles que consideram seus “nobres” fins uma espécie de salvo-conduto para ignorar as leis costumam vir quase sempre da esquerda revolucionária. São pessoas que se julgam acima do bem e do mal, pois imbuídas de uma missão incrível. São os “ungidos”, e podem, então, partir para a violência para criar o “novo homem” e um “mundo melhor”.

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Essas pessoas adotam conceitos flexíveis de terrorismo. Este existe apenas quando o “lado de lá” adota certos métodos, nunca quando o “lado de cá” parte para o mesmo caminho. Como focam apenas nos fins, nas supostas intenções, esquecem de observar os meios escolhidos. Apelam para um duplo padrão, como Nelson Motta destaca:

Os antigos militantes da luta armada eram chamados de terroristas pela ditadura, mas se consideravam, mesmo quando faziam ações terroristas, combatentes da liberdade que lutavam por um Brasil socialista/comunista e estavam dispostos a matar e morrer por sua causa. Agora, sob pressão da sociedade democrática ameaçada pela violência nas ruas, eles terão que votar uma lei que define e criminaliza o terrorismo, como já fizeram todas as grandes democracias do mundo. Mas hoje são os black blocs e os anarquistas de aluguel que se dizem os guerreiros da liberdade contra o capitalismo.

A tentativa do PT de blindar os “movimentos sociais” da nova lei antiterrorismo comprova que essa turma ainda adota visão seletiva da coisa. Como Motta aponta, “Se um militante do MST ou dos quilombolas jogar uma bomba e matar um inocente ou um policial não pode ser penalizado como terrorista, como foi Cesare Battisti na Itália, tem um salvo conduto para ser processado por crime comum”.

Nem mesmo isso! Como vimos no caso de Cesare Battisti, o PT não endossou nem mesmo o crime comum, preferindo o considerar inocente. O sujeito mata civis em assaltos, mas como fez isso para financiar sua revolução comunista, então é absolvido perante o julgamento de seus pares. É o crime liberado com base na ideologia. Conclui Motta:

Para a ditadura nacionalista e triunfalista, qualquer crítica era um ataque ao Brasil de traidores da pátria, esquerdistas, derrotistas e sabotadores que torciam pelo quanto pior melhor. Hoje, apesar da plena liberdade de expressão e das garantias legais, no governo democrático o discurso é o mesmo: só trocaram os “nós” e os “eles”.

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Tolerar a intolerância dos fanáticos é o caminho da destruição. Eles estão tão seguros de sua superioridade moral que parecem dispostos a pisar em todas as leis e esmagar instituições republicanas para triunfar. Comecei com Popper, que resumiu brilhantemente o alerta, e fecho com ele novamente: “Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos argumentos.”

Rodrigo Constantino