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Trump espalha nervosismo em mercados com nova rodada de guerra comercial com a China
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O presidente Donald Trump disse neste domingo que aumentará as tarifas sobre as importações chinesas na sexta-feira, inesperadamente estabelecendo o que parece ser um novo prazo para produzir um acordo abrangente ou desencadear uma escalada da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China.

Poucos dias antes de os negociadores chineses chegarem a Washington, o presidente ameaçou aumentar as tarifas de US$ 200 bilhões de produtos chineses de 10% para 25% na sexta-feira e cobrar uma nova taxa de 25% sobre todas as importações chinesas em breve.

Em um par de tuítes, Trump acusou a China de tentar “renegociar” os termos de um acordo que os negociadores vêm concluindo há cinco meses, na tentativa de acabar com a guerra comercial entre os dois países.

O mercado sentiu o golpe e o índice futuro do S&P 500 já caía quase 2% na abertura. Os investidores temem uma escalada do protecionismo comercial no mundo, com razão. A globalização tem sido responsável pelo avanço de várias nações ao longo do tempo.

É um jogo, em geral, de ganha-ganha, como o próprio livre mercado. Não resta dúvida de que a China manipula sua taxa de câmbio e concede muitos subsídios, mas Trump adota uma mentalidade mercantilista que fica evidente nessa mensagem publicada hoje:

Para o presidente americano, déficit comercial com um país específico é sinônimo de perda, o que é besteira e ignorância do ponto de vista econômico. Não chega a ser novidade. No livro que li de Trump esse ranço mercantilista exalava a cada página, em meio a mensagens mais liberais. Cheguei a escrever um texto no começo de sua gestão apontando para essa visão mercantilista como seu calcanhar de Aquiles. Eis um trecho:

A maioria das acusações direcionadas ao presidente eleito, portanto, deriva de preconceitos e de uma visão equivocada de mundo, que confunde globalização com “globalismo”, tolerância com a “marcha das minorias oprimidas” e diversidade com multiculturalismo. O povo cansou da retórica vazia do Partido Democrata e quer resultados concretos.

Mas, se os rótulos de “ultraconservador” ou “xenófobo” soam vazios, há uma crítica que de fato merece maior atenção: aquela que diz respeito ao protecionismo comercial do magnata. Ele de fato adota uma visão mercantilista da economia, na qual importar é ruim e exportar é bom. Trata-se de um equívoco já refutado por Adam Smith no século 18.

Existem dois possíveis argumentos para a postura de Trump com a China: 1) seria uma estratégia arriscada de negociação para obter um mercado global mais livre, aquilo que Trump vem chamando de “fair trade” em vez de “free trade”; 2) a decisão seria geopolítica pelo receio do avanço chinês no mundo, mesmo reconhecendo o custo econômico da decisão.

Não descarto nenhuma das duas hipóteses, mas as coisas precisam ser chamadas por seus nomes. O que não dá é para aplaudir a guerra comercial do ponto de vista econômico, ou seja, como se efetivamente fosse positivo para a América encarecer os produtos chineses por meio de tarifas. Isso é absurdo, simplesmente absurdo.

Há uma turma que costuma adotar visão tribal ou de time de futebol em política, e vai aplaudir sempre o “seu lado”, pois ele precisa estar sempre certo. São aqueles incapazes de tecer uma só crítica ao seu político de estimação. Isso é ridículo. Um analista independente precisa avaliar caso a caso, elogiar quando enxerga acertos e criticar quando vê erros.

O protecionismo de Trump é seu grande ponto fraco e coloca a economia global em risco. A tensão nos mercados é o sinal de alerta para o perigo em curso. Se essa guerra comercial sair de controle, não será só a China que vai perder, mas sim o mundo todo, incluindo a América, cuja economia vai bem até aqui, com o menor nível de desemprego dos últimos 40 anos.

Tudo isso pode se perder se Estados Unidos e China realmente mergulharem numa batalha protecionista. Espera-se que o bom senso possa prevalecer e que seja apenas retórica do presidente americano para extrair mais, e não menos liberdade nos mercados globais.

Rodrigo Constantino

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