Fonte: Zero Hora| Foto:

Quem acompanha o blog sabe que tenho várias ressalvas com Jair Bolsonaro, cujo papel de deputado anticomunista eu julgo fundamental para o país, mas que para cargo majoritário executivo não me atrai tanto assim. Os motivos não são o foco desse texto.

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Muitos seguidores de Bolsonaro gostam de compará-lo a Donald Trump. Acho a comparação um tanto forçada, a começar pelo fato de que um é empreendedor de sucesso, e o outro é político há décadas, inclusive com filhos também políticos.

Mas em uma coisa a comparação é bastante válida: o ódio que ambos despertam na esquerda “progressista”, nos “intelectuais”, nos “bien pensantes”, no beaufitul people, na turma de Hollywood e do Projaquistão. Quando Trump ganhou – e eu também tenho ressalvas com ele – o lado mais divertido foi ver o pânico dessa turminha ridícula, o chororô desses arrogantes afetados, o desespero da galera da bolha politicamente correta. Confesso: que delícia!

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Como não cair na gargalhada vendo um Arnaldo Jabor, por exemplo, arrancando os poucos cabelos que lhe restam e pedindo até o assassinato do presidente eleito americano?! Como não chorar de rir com Caio Blinder desorientado, mais perdido do que cego em tiroteio? Como não achar engraçado Guga Chacra mais descabelado do que o normal? Como não considerar hilário o tom de ameaça hipócrita dos que iam fugir dos Estados Unidos se Trump vencesse, e depois se calaram?

Pois bem: essa mesma turma terá a mesma reação se Bolsonaro for eleito em 2018. E esse é um bom motivo para torcer por esse resultado: seria muito engraçado, muito divertido, uma vez mais. A imprensa “Fake News” ficaria em polvorosa, alegando o fim do mundo, ou ao menos do Brasil (que quase acabou mesmo com o PT que ela defende no poder). João Luiz Mauad, do Instituto Liberal, dá o mesmo argumento com base na coluna de hoje de Tati Bernardi:

De fato, para quem já adotou o voto útil e, de nariz tampado, votou em José Serra, um socialista, não pode achar tão ruim assim votar em Bolsonaro. Sobre o artigo de Tati Bernardi, uma verborragia de dar dó, é apenas uma palhinha da diversão que teríamos pela frente no caso de uma vitória do capitão. Eis um trecho:

Você, que chorou quando Trump ganhou, que ama ver os milionários fraudulentos deixando suas mansões para dormir em cubículos e defecar em buracos, que espia no Facebook pra ver se aquele desgraçado da escola que esnobava todo mundo já está falido e com cara de gordura no fígado. Você, que trabalha feito um condenado e controla o ímpeto de bater nos conhecidos que tiram “anos sabáticos pra viver a vida” e viajam o mundo ou apenas dormem com o dinheiro do papy (e, pra piorar, ainda têm a petulância de encher as redes sociais com dedos na cara fofos e ecológicos e militantes do bem). […] você vai ter que votar no Doria. Pra não eleger um demônio, você vai ter que votar no Diabo. Já pensou nisso? Colocar roupa, sapato, ir até uma zona eleitoral, esperar na fila… e votar no Doria? O que seus antigos amigos da faculdade, com 67 pulseiras de pano no braço, diriam disso? O professor de filosofia meio bonitão que todo mundo amava… e se ele souber que você cometeu esse crime contra tudo o que sempre defendeu (desde uma época tão saudosa e ingênua, na qual acreditava em lideres carismáticos e inspiradores)?

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Sim, a chance de um dos dias mais tristes para a nossa pretensa ideologia chegar é grande. Para salvar o país do capitão macabro da decência, você vai engolir coxinha gourmetizada. 

[…]

O mundo inteiro vai continuar sendo o Brasil: os Bolsonaros e os Dorias foram ganhando forças estratosféricas enquanto a gente, na bolha Vila Madalena, tinha a impressão de ter evoluído. Estamos em 2017 e ainda existe passeata contra negros? Espancam gays? Deixam mulheres morrer por não permitir o aborto? Votam no Bolsonaro? E recebem zilhões de likes pela internet. 

Sim, Tati, você definitivamente vive numa bolha. Uma bolha “progressista” de pura hipocrisia, de muito rancor e ressentimento (que exalam por cada linha) mascarados de “tolerância” e “amor ao próximo”. Uma bolha de afetação da bondade de quem, no fundo, morre de inveja de empreendedores de sucesso. Uma bolha que fala em igualdade enquanto vive alimentando as desigualdades, inclusive legais, julgando que alguns corruptos estão acima das leis porque são de esquerda.

Os “zilhões” de likes pela internet deveriam sinalizar que o povo, aquela ilustre abstração que vocês esquerdistas dizem amar e representar, não quer saber tanto assim da pauta “progressista”, do aborto, das cotas raciais que segregam a população, da legalização das drogas ou da “identidade de gênero”. O povo quer segurança! O povo quer resgatar valores morais que sua turminha engajada destruiu! O povo quer emprego, saneamento, transporte, saúde e educação, não essa doutrinação ideológica bancada pelo PSOL e companhia.

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Saia da bolha, Tati, e venha conhecer o mundo real aqui fora, venha ter contato com alguém do povo, com gente de carne e osso, que frequenta o culto ou a missa aos domingos, que não vai de bike para o trabalho porque mora longe e pega 2 ou 3 ônibus para completar o trajeto, espremido como sardinha em lata no busão. Venha falar com gente que perdeu familiares mortos pelos marginais que seu pessoal chama de “vítimas da sociedade”. Venha verificar como vivem as pessoas reais fora do Projaquistão, da GNT. Você irá se surpreender.

Esse estereótipo que vocês da bolha criaram, como se essa gente fizesse “passeata contra negros” (?) ou “espancasse gays”, é a maior prova de sua alienação, de suas fantasias perversas, de sua projeção freudiana, talvez. Fure essa bolha e converse por 10 minutos com algum seguidor de Bolsonaro, Tati. Faça isso. Não vai doer. Mas vai exigir coragem para enterrar anos de lavagem cerebral, de ideologia acima dos fatos, de esteticismo que transforma a narrativa na coisa mais importante do mundo.

É por imaginar a reação de gente como a Tati Bernardi – e eles pululam na imprensa – que chego a quase torcer pela vitória de Bolsonaro. Seria impagável ver o chilique histérico dessa turminha…

Rodrigo Constantino