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Boa parte da esquerda tem muita sede pelo poder e demonstra uma ambição desmedida, até porque sua missão é nada menos do que “refundar o mundo”, já que Deus teria falhado em sua obra. Essa transformação da política em seita religiosa faz com que os fins “nobres” justifiquem quaisquer meios. Marxistas consideram ética coisa de burguês.

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E quando não é esse fanatismo ideológico, é a busca mesquinha de interesses pessoais, ou seja, a oferta de tetas estatais suculentas e irresistíveis para gente medíocre que, no livre mercado, jamais teria uma condição de vida similar àquela encontrada em cargos públicos ou ONGs e sindicatos que vivem de verbas públicas.

Já liberais e conservadores são céticos por natureza, querem diminuir o escopo do estado, descentralizar o poder, e costumam colocar princípios acima de interesses de curto prazo, até mesmo quando envolve chegar ao poder para realizar parte de sua missão. Não estão dispostos a vencer a qualquer custo, em outras palavras.

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Essas diferenças tornam a disputa um tanto desigual. A esquerda se une, ignora aspectos éticos e morais, mente descaradamente, reverencia canalhas e demoniza adversários sérios. Em linguagem esportiva, dá chute na canela e dedada no olho de seus inimigos, que devem ser massacrados à revelia das regras do jogo. O gol de mão de Maradona é festejado pela esquerda, e condenado como indecente por liberais e conservadores.

Essa introdução foi para chegar nos ataques recebidos por Bolsonaro à direita. Participo de uma rede liberal de debates, e a maioria detona o pré-candidato sem dó nem piedade. Apresentam argumentos razoáveis, sem dúvida. Temem o ranço militarista do capitão, desconfiam de sua guinada liberal recente, que soa oportunista, e mesmo afirmando que votariam nele contra qualquer esquerdista radical, tendem a criticá-lo mais até do que a própria esquerda.

Um dos participantes, um liberal mais pragmático, trouxe a seguinte reflexão com base nisso:

A turma de lá nunca mostrou quaisquer pruridos em ungir o Lula, um ignorante, desprovido de caráter, como seu representante político. Se era ele que tinha os votos, entao vamos tapar o nariz e apoiá-lo. Atingir o poder era o mais importante.

O mesmo aconteceu com Dilma Rousseff, ex-guerrilheira comunista, grossa como ela só, mente confusa e sem qualquer experiencia política, exceto a gestão desastrosa do setor de Energia. Criaram para ela uma imagem fictícia de grande gestora e o fato de ser mulher também ajudou para que chegasse no posto mais alto do Olimpo, com todo o apoio da esquerda intelectual atuante na Academia e na Imprensa.

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Agora, temos um candidato da direita, o Bolsonaro, cidadão honesto, mais preparado que o Lula e não mais grosso que a Dilma, com relativas chances de chegar na Presidência. Está apresentando um projeto liberal para a Economia, a ser comandado pelo Paulo Guedes (filhote intelectual de Campos, Hayek, Friedman e Popper) e tem ideias bem conservadoras para os costumes e para a seguranca pública, áreas onde reconhecemos que a esquerda foi longe demais em sua postura dita liberal.

E o que acontece? Só porrada! É como se existisse alguém disponível como um Roberto Campos, cheio de votos, para satisfazer nossas exigências. Ora, meus caros, estamos no Brasil e não na Suíça ou em países escandinavos. O padrão de político que impressiona o nosso eleitor médio é tosco mesmo. Se não quisermos sujar um pouco nossos punhos, vamos é permanecer na merda, com mais do mesmo. Pensem nisso e, se não quiserem explicitar apoio, que pelo menos não atrapalhem, aguardando um segundo turno para combater os adversários de sempre.

São pontos razoáveis para reflexão. Até que ponto a direita, calcada em princípios, deve ir para conquistar parcialmente seus objetivos? Até onde o apego aos valores deve falar mais alto que o pragmatismo? Podemos pensar no caso americano: Trump não era o melhor nome republicano, e Mitt Romney era alguém bem mais razoável e preparado. Mas foi Trump que venceu a esquerda. E tem feito coisas importantes para desarmar a hegemonia esquerdista global.

Cada um terá um limite de até onde ir no pragmatismo. Os mais idealistas vão logo se recusar a ceder, e do conforto de sua Torre de Marfim esperar que outros sujem as mãos para não viverem sob um regime bolivariano. Já os mais pragmáticos farão vista grossa a qualquer defeito do “mito”, atuarão como seus soldados, alguns até de forma bem fanática, e atacarão qualquer crítico como se fosse um inimigo mortal.

É possível ficar em algum lugar no meio do caminho? É viável rechaçar a militância aguerrida, mas reconhecer que ela tem seu papel e que a esquerda sempre lançou mão desse mecanismo? É factível aderir parcialmente aos métodos esquerdistas sem se transformar no monstro que pretendemos derrotar?

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Confesso não ter as respostas, ao menos não com a convicção que gostaria. Mas estou inclinado a ceder mais ao lado pragmático, especialmente quando estamos diante de uma situação de vida ou morte, ou seja, estamos falando da possibilidade de volta do PT e Lula ao poder! Não se brinca com uma coisa dessas, ainda mais quando se sabe o resultado: basta olhar para a Venezuela ao lado.

Meus leitores sabem que critico o que vejo de errado em Bolsonaro. Mas não faço questão de bancar o “isentão”, que precisa criticá-lo quase tanto ou mais do que Lula para demonstrar “moderação”. Não quero ser moderado se o risco é a volta de Lula e do PT. Quero radicalizar contra essa corja vermelha. E quero saber: quem realmente tem mais chances de vencer contra esses comunistas?

Meu lado de liberal idealista olha para o longo prazo e faz com que eu defenda valores e princípios acima dos interesses eleitorais; meu lado de cidadão olha para as próximas eleições e quer a extrema-esquerda longe do poder. Um quer que o liberalismo vença, ainda que no futuro; o outro quer que o comunismo seja derrotado, e já, pois caso contrário é morte certa. A luta interna não é trivial, e acredito existir espaço para ambos, cada um em sua missão distinta.

Rodrigo Constantino