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O clima que antecedeu a entrevista era o pior possível, como aquele antes das lutas de UFC em que os oponentes se xingam mutuamente. O historiador Marco Antonio Villa havia chamado o deputado Jair Bolsonaro de “embusteiro”, e este aceitou prontamente o desafio para uma entrevista na rádio Jovem Pan. Entrevista que ocorreu ao vivo nesta terça-feira.

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Villa começou falando de economia, perguntando a Bolsonaro qual a sua visão acerca da política econômica nos últimos anos. Bolsonaro passou a falar de ética e honestidade, colocando em xeque a imagem de Henrique Meirelles, que foi eleito deputado pelo PSDB, logo depois renunciou para assumir o Banco Central no governo Lula, e mais tarde foi para o Conselho da J&S, holding dos irmãos Batista, os mesmos que confessaram inúmeros crimes em sua delação agora.

Entendo Bolsonaro puxar a sardinha para o seu lado, já que sua imagem e sua eventual candidatura dependem muito da questão ética, diria que basicamente dela. Mas a pergunta era sobre economia! O que Bolsonaro acha da política econômica da última década, como melhorar a situação da economia? A falta de um mínimo de embasamento do deputado nessa área preocupa, claro. Ainda mais quando lembramos que o Brasil tem mais de 14 milhões de desempregados!

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Não importa muito a pergunta, Bolsonaro volta ao tema da corrupção. E também resgata sempre que possível o discurso do nióbio, que já deveria ter sido abandonado faz tempo. Bolsonaro tem um ponto a favor ao assumir que não domina o assunto, e que mais importante é ter honestidade e escalar o time certo. Mas falta base. Bolsonaro claramente não sabe muito o que dizer sobre economia. Jogou solto na resposta um “acordos bilaterais”, sem capacidade de desenvolver melhor a ideia.

Ao menos, justiça seja feita, mencionou Paraguai como exemplo, mas citando a carga tributária e a burocracia menores. Paraguai como exemplo a ser seguido é demais da conta, mas o deputado aponta na direção certa, ainda que de forma muito vaga, ao condenar nossos impostos e nossa burocracia. Ao tentar se aprofundar, porém, falando de energia e commodities, é um show de horror. Bolsonaro realmente precisa estudar economia, ou parar de falar do assunto.

Bolsonaro parece realmente alguém com boas intenções, que deseja resgatar valores morais e a ordem, mas se fia basicamente em slogans e frases prontas, numa tentativa de defender o regime militar que não se sustenta, o que é diferente de condenar a esquerda comunista da época, que não tinha nada de democrata. Bolsonaro vive do passado, da narrativa da década de 1960. Nesse aspecto, é o sinal trocado da esquerda radical.

Villa pegou Bolsonaro numa contradição ao dizer que prega privatizações, mas defende o regime militar na economia. Geisel foi o maior criador de estatais do país. Seu modelo econômico era parecido com o de Dilma. E Bolsonaro preferiu simplesmente alegar que eram outros tempos, que não havia a mesma corrupção. Privatização não depende de contexto: deve ser defendida sempre.

Enfim, a “entrevista” foi muito ruim para Bolsonaro. Villa certamente não é imparcial, não gosta de Bolsonaro, e queria colocá-lo contra a parede. Mas vamos combinar: essa é mesmo a função de um entrevistador. O Brasil não está mais acostumado a isso, pois na época do PT os “jornalistas” mais pareciam marqueteiros. Mas basta ver a Fox News por um dia para entender que os entrevistados são apertados com frequência.

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A verdade é que Bolsonaro não aguentou uma pergunta. Parte para o ataque, fica na defensiva, não consegue desenvolver seu raciocínio com desenvoltura. Eu entendo a importância que Bolsonaro tem para o momento do país, ao confrontar os corruptos, ao atacar com coragem a imoralidade dos “progressistas”, ao denunciar os comunistas que se fingem de moderados.

Mas foi terrível. Bolsonaro será engolido em debates se for candidato com essa falta de preparo. Se a direita depende de alguém assim, a direita está mal, muito mal. Bolsonaro toca em pontos certos sobre o estrago que essa esquerda causou ao Brasil, inclusive citando Paulo Freire na questão da educação. Mas é muito pouco, muito raso, ficar só batendo na tecla da honestidade e clamando por ordem.

Sim, precisamos urgentemente disso. Mas precisamos de muito mais. Aquilo que Bolsonaro, pelo visto, não tem como entregar…

Rodrigo Constantino

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