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Por Roberto Ellery, publicado pelo Instituto Liberal

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O texto abaixo é inspirado em uma apresentação que preparei para a equipe do senador Álvaro Dias e serviu de base para algumas palestras que fiz nos últimos meses. Na apresentação, aponto três grandes desafios para a economia brasileira e faço algumas propostas para enfrentar esses desafios. No presente texto vou me limitar aos desafios; deixo as propostas para um próximo artigo. São três os desafios que vou discutir: o da produtividade, o do investimento e o ajuste fiscal. Em ordem de importância, creio que os desafios seguem a lista, mas em ordem de urgência a lista está de trás para frente.

O primeiro desafio, que eu chamo de desafio de longo prazo, é a questão da produtividade. Como já disse Paul Krugman produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo. No longo prazo a produtividade é o motor do crescimento e, verdade seja dita, esse nosso motor anda mal das pernas há cerca de quarenta anos. A figura abaixo mostra o crescimento da produtividade na Coreia do Sul, nos Estados Unidos e no Brasil. Sei que Coreia do Sul é meio apelação, mas a figura ilustra o que é um caso de sucesso, o mínimo a se esperar de um país que pretende ficar rico, e o desastre brasileiro. O crescimento da produtividade acima do ocorrido nos EUA permitiu à Coreia do Sul se aproximar das economias desenvolvidas. Um crescimento semelhante ao dos EUA não garante uma aproximação, mas pelo menos impede o distanciamento. No mais, é razoável supor que uma economia emergente saudável tenha ganhos de produtividade acima dos EUA, visto que, grosso modo, os americanos precisam inovar para ficarem mais eficientes e os países emergentes podem inovar ou adaptar tecnologias existentes. Como mostra a figura abaixo, o Brasil não atende ao teste básico e tem um crescimento da produtividade menor que os EUA. Pior> após a subida na década de 1970, a produtividade no Brasil caiu e ficou praticamente estagnada nos níveis de 1970.

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O próximo desafio, o desafio do médio prazo, é o do investimento. A figura abaixo mostra a taxa de investimento nos países da renda média alta. Repare que apenas a Argentina tem uma taxa de investimento menor que a nossa. Esse é um problema sério: o investimento aumenta a capacidade de produção da economia, viabiliza a entrada de novas tecnologias embutidas em máquinas mais modernas e, para os que gostam de olhar para demanda, o investimento é parte da demanda agregada. Em tese, é possível crescer apenas com ganhos de produtividade; na prática, sem um aumento da taxa de investimento, isso dificilmente vai acontecer.

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Investimos mal. Construímos estádios que não têm uso, fizemos refinarias que não ficam prontas, grandes obras que não acabam, hidroelétricas de alto impacto ambiental e questionável eficiência econômica e energética, financiamos investimentos no Grupo X e na Oi, fizemos estaleiros, e, para fechar a lista com chave de ouro, investimos no Comperj. Alguém colocaria o próprio dinheiro nesses projetos? Duvido muito, mas com ajuda do governo o negócio ruim passa a ser bom (para poucos) e tudo passa a valer. Todo esse investimento poderia ter sido destinado a projetos mais relevantes tanto do ponto de vista social como econômico. Entre 2003 e 2016, apenas os subsídios implícitos nos empréstimos do Tesouro ao BNDES custaram cerca de R$ 150 bilhões (em valores de 2016). Qual teria sido o impacto de todo esse dinheiro se tivesse ido para saneamento básico? Quantos pequenos empreendedores apostaram suas economias em empresas na área do Comperj, apostando em uma demanda que nunca veio? Quantos se mudaram em busca dos empregos que não chegaram? Qual o custo social e econômico de tudo isso? Esses investimentos ruins pioraram muito a alocação de capital no Brasil e dificultaram o crescimento da produtividade. Para investir mal, às vezes é melhor não investir.

Mais uma vez, a solução para o problema não é fácil. Os empregos destruídos na crise de fato nunca existiram, eram uma miragem sustentada com centenas de bilhões de reais dos pagadores de impostos. O tempo para que surtam efeito as mudanças necessárias para criar novos empregos em setores saudáveis, não ilusórios, é longo; é preciso que empresas que só existem por conta dos estímulos fechem e outras com vida própria cresçam, O processo além de longo é dolorido, mas é necessário para a construção de uma economia saudável. Para que os bons projetos virem empresas, é necessário um aparato legal que minimize incertezas. O governo não precisa adicionar incertezas regulatórias às incertezas existentes no mercado. Não falo aqui de eliminar todas as regulações, sou mais modesto, peço apenas regras estáveis e tão claras quanto possível. A construção e a aprovação desse novo marco regulatório leva tempo, assim como levará tempo para que faça efeito. Mais uma vez, não vejo soluções de curto prazo.

O último e mais urgente desafio é o fiscal, o desafio do curto prazo. A figura abaixo mostra a projeção da dívida bruta do governo como proporção do PIB feita pelo FMI. Se seguirmos esse caminho vamos chegar a 2022 com uma dívida bruta acima de 95% do PIB e isso é inconcebível para um país emergente.

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Desta forma, considerando que um ajuste fortemente ancorado em novos impostos pode minar o apoio do eleitor ao governo e que um ajuste com base nos gastos é lento e requer reformas difíceis, não vejo solução de curto prazo nem mesmo para o mais urgente dos problemas. Posso estar enganado? Deus queira que eu esteja, mas se eu estiver certo vamos ter um período pesado pela frente. A campanha precisava de alguém com a grandeza de prometer trabalho e lágrimas até a superação final da crise; no lugar disso tivemos semeadores de ilusões.