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Votaria em Bolsonaro, mas não para presidente. Ou: “Cada macaco no seu galho”
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Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal

Vou fazer aqui uma confidência. Já votei duas vezes em Jair Bolsonaro para deputado federal. Nos últimos anos, acho que ele foi o único candidato que consegui emplacar em qualquer cargo eletivo. Votei nele porque o considero um nome necessário no Congresso Nacional, onde, acredito, deveria haver representantes de todos os estratos ideológicos do país. Ademais, Bolsonaro sempre fez muito bem o papel de combatente contra as ideias da extrema esquerda, muito bem representadas por figuras como Luciana Genro, Jean Willis, Maria do Rosário et caterva.

Depois da última eleição, em que obteve a maior votação individual de um candidato a deputado no Rio de Janeiro, as pretensões políticas de Bolsonaro parecem ter-se inflado bastante. Hoje, ele percorre o país tentando viabilizar uma candidatura a presidente da república, já tendo inclusive trocado de partido com esse intuito.

Como afirmei acima, malgrado o considere uma figura importante no cenário legislativo nacional, penso que Jair Bolsonaro jamais será um bom presidente – ou sequer um bom candidato a presidente. Não falo nem das suas posturas antiliberais em relação a direitos civis, como casamento gay ou liberação de drogas, mas de política econômica mesmo. Recentemente, o deputado concedeu uma entrevista ao jornal Valor, numa das raríssimas vezes em que falou sobre o tema.

Naquela matéria, em que, entre outras coisas, ele parece gostar de ser comparado a Donald Trump, fica claro que, a exemplo deste, apesar de ser apresentado ao público como um homem de ideias econômicas liberais, o deputado está muito longe disso, estando mais para um intervencionista centralizador, como seus ídolos militares que governaram o país durante a revolução de 1964, período que ele não se cansa de elogiar.

De acordo com o jornal Valor, “Bolsonaro defende princípios da plena liberdade à iniciativa privada – “A classe empresarial são uns heróis rotulados de forma pejorativa como opressores” – que convivem com um ideário vagamente nacionalista. Opinar sobre a independência do Banco Central provoca o momento em que, num giro de 180º, seu pensamento encosta no que defende a esquerda. “Daí eles decidem a taxa de juros de acordo com os interesses dos colegas do mercado financeiro? Então, é melhor o pessoal do Banco Central governar o país como se uma junta fosse”, diz.

Ainda segundo o jornal, “Sua visão [econômica] está voltada para típicas preocupações da época dos militares no poder, como a soberania e exploração de recursos naturais, ou a ideia geopolítica de Brasil potência alinhada aos Estados Unidos.” Não por acaso, foi na época do Governo do General Geisel que se criou o maior número de estatais no país. Não por acaso também, aquele governo tem servido de inspiração à madame Dilma.

Ao falar sobre um dos temas mais caros aos liberais – privatização -, “o deputado se diz contra a do Banco do Brasil – pois prejudicaria o produtor rural – e tem dúvidas em relação à da Petrobras, a qual primeiramente deve ser “despetizada”. “Depois vê se passa à iniciativa privada. Não estou com o conhecimento minucioso dos problemas nacionais”, diz ele, com incomum sinceridade para um candidato a presidente.

Além de tudo isso, Bolsonaro já deu mostras de que conserva um viés altamente nacionalista, típico da educação militar, dando a entender que, também em temas como comércio exterior e imigração, sua visão não difere muito da visão do histriônico Donald Trump, não por acaso um personagem a quem ele não liga de ser comparado.

Em resumo, Jair Bolsonaro tem desempenhado com maestria o papel de anticomunista e, por isso mesmo, tem feito tanto sucesso entre certos setores da direita. Esta função está longe de ser desimportante, e penso mesmo que deveríamos ter mais gente no congresso fazendo companhia a ele. Mas sua pretensão de tentar a presidência da república me deixa de cabelo em pé. Depois de anos petismo, tudo que não precisamos no momento é de mais intervencionismo e centralização na economia.

Nota do blog: Tinha lido essa entrevista e achei que o jornalista quis prejudicar Bolsonaro. Mas sem dúvida o próprio não ajudou em alguns momentos, como quando defendeu uma Opep para o nióbio brasileiro, o que é simplesmente absurdo. Já defendi no passado a mesma posição de Mauad, alegando que Bolsonaro é “o exército de um homem só” no Congresso, necessário, portanto, mas que era preciso ter cuidado na hora de apoiá-lo para cargo majoritário. Continuo com visão parecida, apesar de reconhecer a nítida evolução de Bolsonaro em vários aspectos, inclusive na economia (meu curso “As bases da economia” já foi enviado como cortesia ao deputado, e espero que possa ajudá-lo a caminhar mais ainda rumo ao liberalismo). Dito isso, é preciso perguntar: não votaria nele para presidente contra quem? Afinal, tudo em política é relativo. Se for José Serra, um dos mais esquerdistas dos tucanos, será que Bolsonaro não seria melhor? Contra Aécio Neves há dúvidas, admito. Por fim, Mauad ataca Bolsonaro pelos motivos errados, em minha opinião, ao mencionar bandeiras “progressistas” como se fossem liberais. A agenda dos movimentos LGBT, por exemplo, pode e deve ser atacada por liberais, e isso Bolsonaro tem feito muito bem, apontado para os absurdos que essa turminha tem feito na educação de nossas crianças, por exemplo. O mundo precisa de mais gente defendendo certos valores tradicionais. Por isso mesmo em meu novo curso, “Civilização em declínio: salvando o liberalismo dos ‘liberais'”, tentarei mostrar que alguns liberais têm feito o jogo da esquerda sem nem se dar conta, e que uma aproximação entre liberais e conservadores se faz necessária hoje. Bolsonaro ainda precisa melhorar em vários pontos. Mas, ao contrário de Mauad, eu votaria nele para presidente sim, se as alternativas fossem esses 30 tons de vermelho “progressista”.

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