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Caso Greenwald: a linha que separa a fonte do cúmplice
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A denúncia contra Glenn Greenwald pelo MPF, de envolvimento no crime cometido pelos hackers de inúmeras autoridades brasileiras, gerou forte reação e muita polêmica. Vários, da extrema esquerda ao centro, estão falando em "ataque à liberdade de imprensa". Mas é disso mesmo que se trata?

Para quem leu a denúncia, há margem para dúvidas legítimas. Em primeiro lugar, o fato de o jornalista do The Intercept não estar sendo investigado não quer dizer nada. Ele não era investigado por uma decisão de Gilmar Mendes (sempre ele), mas o Ministério Público não ignorou a decisão: teve acesso a uma conversa suspeita dele ao investigar o criminoso conhecido como Vermelho.

Na conversa em si, fica nítida a impressão de que o jornalista militante está ciente dos crimes ainda em andamento, e chega a dar recomendações ao bandido, para que apague as mensagens. É essa a parte delicada, que permite a interpretação de cumplicidade.

A extrema esquerda envolvida nesse caso, em todo o processo que levou os hackers ao The Intercept, era simpática ao teor das mensagens obtidas de forma criminosa. Como a extrema esquerda nunca mediu esforços em seus objetivos, e costuma justificar quaisquer meios para seus "nobres" fins, não é uma suspeita absurda achar que houve participação ativa no crime. Mas claro: é preciso ter provas.

E isso só uma investigação profunda pode dizer. Mas Gilmar Mendes impediu que a coisa fosse nessa direção, mesmo ciente de que os hackers demonstraram sinais de enriquecimento ilícito (de onde veio a grana?). E Greenwald não pretende recorrer ao STF agora, já que é Fux o ministro de plantão. Ele prefere aguardar... Gilmar Mendes!

A procuradora Thaméa Danelon, que atuou na Lava Jato, comentou o óbvio, que vem sendo ignorado por Tabatas e companhia:

O deputado Paulo Eduardo Martins também demarcou a linha divisória relevante aqui:

A deputada Janaina Paschoal saiu em defesa da denúncia do MPF, indicando as páginas que sustentariam a acusação:

Enfim, pode ser o caso de que o MPF se excedeu ou agiu de forma politizada? Pode, sem dúvida. Mas também pode ser o caso de que há embasamento para se investigar e denunciar o jornalista de esquerda, não por ele ser de esquerda, mas por ele ter potencialmente participado do crime em si. Sigilo de fonte é uma coisa; cumplicidade é outra, bem diferente. Muitos estão misturando as duas de forma deliberada, para pintar um quadro de ameaça terrível ao trabalho jornalístico no país.

É tentador, e oportunistas como Bernie Sanders já mergulharam nessa direção. Mas é cedo demais para afirmações tão definitivas, sem definir bem os conceitos envolvidos. Jornalista não tem salvo-conduto para cometer crimes. Resta saber qual o papel de Greenwald nesse caso do VazaJato, uma vez que sua ação posterior não teve nada de jornalismo, e tudo de militância, ao divulgar trechos seletivos, em doses homeopáticas, e sem aceitar qualquer perícia no material. Comentei sobre o caso no Jornal da Manhã hoje:

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