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Ceticismo liberal deve se estender à imprensa e aos “especialistas”
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O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente. O alerta de Lord Acton é um mantra do liberalismo. Todo liberal que se preza é desconfiado com o poder, alimenta um ceticismo saudável em relação a todos os políticos. Liberais não enxergam deuses na política, salvadores da Pátria.

Ocorre que, quando se trata de Bolsonaro, isso é um espantalho criado por pseudoliberais, que são na verdade tucanos disfarçados. Talvez uma minoria apoie o presidente atual com esse nível de "endeusamento", levando a sério o lance de "mito". A imensa maioria simplesmente reconhece várias virtudes em seu governo, admite um ministério mais técnico, uma agenda reformista importante, e os 900 dias de governo sem escândalos de corrupção.

Essa gente também olha para as alternativas com profundo temor, sabe que tucanos têm feito, em conluio com a mídia, um jogo sujo que na prática ajuda na possível volta de Lula, o maior corrupto de todos, e com uma agenda socialista. Ou seja, o reconhecimento dos acertos do atual governo e o medo legítimo do destino venezuelano com a volta do Foro de SP fazem com que muitos liberais se recusem a fazer o papel de idiota útil de comunista. É senso de prioridades e de proporções.

Agora essa oposição está eufórica pois, na CPI circense, surgiu um picareta com denúncias graves calcadas somente em sua palavra, que vale tanto quanto uma nota de três reais. Aí vem a Folha e joga a manchete de que o "governo" teria pedido um dólar por dose de vacina como propina. Aviso desnecessário: TUDO deve ser investigado! E se houve corrupção, os responsáveis devem ser punidos.

O governo já afastou o diretor do Ministério da Saúde, Roberto Dias, que teria negociado tal propina, segundo a denúncia. Prudência. Mas resta perguntar: o que aconteceu com o ceticismo liberal? A denúncia vem de um suposto vendedor que negociava a vacina da AstraZeneca, mas a empresa já confirmou que não trabalha com intermediários. Há provas da denúncia ou só o gogó? A Folha faz oposição escancarada ao governo, e isso também não deveria ser levado em conta?

Todo liberal, como eu disse, deve ser cético com políticos no poder. Mas o que dizer de quem compra a valor de face o que diz nossa imprensa, veículos como Folha, Globo, Estadão e Antagonista? Tem que ser muito bobão mesmo! Ou desejar tanto derrubar Bolsonaro que vale tudo nesse processo, até abandonar o saudável ceticismo, inclusive acerca do trabalho de uma mídia partidária e enviesada.

Política é a arte do possível, um concurso de feiura. Os liberais clássicos entendem isso e não alimentam esperanças tolas. Sabem, por exemplo, que a aproximação do governo com o centrão é arriscada, ainda que necessária. É isso ou o fim de qualquer governabilidade, na melhor das hipóteses, ou impeachment, na mais provável delas. O Parlamento foi eleito, afinal de contas. Os "românticos" nunca oferecem alternativas realistas.

Liberais não são céticos, portanto, só com governos, mas também com a imprensa, com os "especialistas", com as entidades supranacionais etc. Onde foi parar tal ceticismo? João Luiz Mauad, colaborador do Instituto Liberal, tocou na ferida:

Para alguns, sou tão ou mais genocida que o próprio Bolsonaro, por ser contra o lockdown, a favor da liberdade quanto à escolha da vacina (ou mesmo se devemos tomá-la) e até por defender a liberdade de as pessoas fazerem o tratamento que quiserem e bem entenderem. Não me ofendo com a alcunha de bolsonarista, mas me preocupo muito com os rumos que o debate público tomou em Pindorama, e como alguns têm sido usados, sem nem mesmo desconfiar, por forças poderosas, cujos interesses são antagônicos aos nossos. Uma pandemia é um assunto sério. Mas faríamos bem em lembrar que as burocracias têm seus próprios interesses, independentemente do interesse público, que seria sua função primordial. Elas estão sempre empenhadas em alimentar as narrativas que justifiquem sua existência.

E, enquanto tudo isso está acontecendo, as vozes mais “responsáveis” na mídia se dedicam a transformar toda ambiguidade factual relacionada à doença em uma batalha política. Por exemplo, quando Bolsonaro, com seu jeito tosco, repete o que ouviu sobre médicos experimentando um medicamento de baixo risco para malária para tratar Covid, todo o aparato entra em ação para despejar opróbrio não só sobre uma substância química, mas também contra qualquer tentativa de tratamento. E chama isso de Ciência. Por outro lado, as vacinas, vistas como anti-bolsonaristas, são tratadas pela mídia como a versão moderna do Emplasto de Brás Cubas.

Mauad conclui: "O liberalismo começou como uma doutrina de ceticismo político dirigido aos governantes, baseada no truísmo de que o poder corrompe e sempre adota uma postura virtuosa. Se quisermos reviver o espírito do liberalismo, será necessária uma postura igualmente cética de olhar o universo científico, baseada principalmente no reconhecimento de que o apelo à Ciência tornou-se o idioma básico para o exercício do autoritarismo".

Sobre as recentes denúncias da Comissão Picareta de Inquérito, Mauad também desabafou:

Alguns leitores ficaram bravos comigo por causa do meu obstinado ceticismo em relação às "descobertas" da CPI da Covid. Primeiro, quando eu mostrei que nunca houve o tal ágio de 1.000% na compra da vacina indiana, apesar da unanimidade midiática. Agora, porque mostrei que não foi apenas o deputado Ricardo Barros quem propôs emendas na lei das vacinas para facilitar a importação da Covaxin - mas também os cabeças da famigerada CPI: Aziz e Randolfe, além do irmão de Renan.Vou repetir o que já disse outras vezes: se houver comprovação de ilicitudes, que os responsáveis sejam punidos com rigor, inclusive o presidente da República. O que não dá é para confiar nesses três patetas que comandam a CPI de olhos fechados, como vêm fazendo a mídia e aqueles que querem um impeachment a qualquer custo. Não contem comigo pra isso. O impeachment é um remédio extremamente amargo e doloroso para o país. Portanto, é preciso muito mais do que fumaça, espuma e vontade de uma meia dúzia. Enquanto mão houver provas robustas, a conduta de todos os cidadãos deveria ser o ceticismo e a busca da verdade, não o oba-oba irresponsável.

Perfeito! Folgo em saber que ainda existem liberais sérios nesse país. Pois se depender de oportunistas como aqueles do MBL ou do Partido Novo, dominado por um projeto pessoal de poder do seu principal fundador e dono da grana, estamos perdidos! O liberalismo não fecha os olhos para os poderosos - tampouco para as manipulações da mídia em nome da ciência ou para o jogo sujo de bastidores na disputa pelo poder.

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