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Flamengo como microcosmos do Brasil: o país tem jeito!
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O Flamengo sempre contou com milhões de torcedores apaixonados. A "nação rubro-negra" tem uma fidelidade ímpar dessa torcida, que enchia estádios mesmo quando o time ia mal. Torcer, como fica claro, não basta.

Era preciso ajeitar a casa, organizar a bagunça, limpar a corrupção. Um sócio meu dos tempos do mercado financeiro foi escalado para essa missão. Uma das pessoas mais inteligentes e corretas que já conheci. Quando ele topou o desafio, eu brinquei: "Se vocês derem jeito no Flamengo, então o Brasil tem jeito!"

Afinal, aquilo ali era uma espécie de microcosmos do país. Tinha o "centrão" fisiológico, a turma corrupta, os que estavam interessados em manter os velhos esquemas. Anos depois, dou o braço a torcer: o Flamengo mudou, e muito. E para muito melhor, claro!

Voltei até a acompanhar meu time com mais empolgação, o que não fazia há tempo. Fiquei contente, portanto, ao ler a excelente coluna de Fernando Gabeira no GLOBO hoje, justamente sobre isso, fazendo essa mesma comparação entre Mengão e Brasil. Eis alguns trechos:

Lembro-me de ter escrito um artigo comparando o Flamengo e o Brasil. Dizia na época que ambos eram meio caóticos e não cumpriam a promessa de grandeza, apesar de todo o potencial. Pois bem, o Flamengo deu a volta por cima. O ensinamento dessa virada não deveria, creio eu, limitar-se a um aprendizado apenas no futebol.

O Flamengo começou por ajustar suas finanças, o que lhe deu condições de montar uma infra melhor e investir em grandes nomes. A chegada do técnico Jorge Jesus foi resultado dessa capacidade de investir. Sua filosofia de trabalho acabou dando um sentido maior a todo o esforço. O futebol brasileiro parecia entediante perto do europeu, jogado com intensidade do princípio ao fim da partida. Jesus quer que o time siga atacando até o final, independentemente de estar vencendo com folga. 

Nada se parece mais com o futebol brasileiro do que a burocracia. Muitas jogadas laterais, falta de objetividade, o tempo sentido como a algo a se matar e não uma oportunidade de fazer cada vez melhor.

De qualquer forma, Flamengo e Brasil eram para mim promessas não cumpridas. Ficou faltando o Brasil. Não se sabe ainda quando vai parar de jogar para o lado, perder seus preconceitos, unir talentos, enfim deixar de apenas ser um sonho para o futuro. Imersos no torpor dos trópicos, às vezes precisamos de gente de fora para enxergar o óbvio e, realmente, começar a jogar.

Os paralelos são óbvios: é preciso consertar a bagunça financeira, escalar gente séria para tocar o barco, priorizar a meritocracia, saber ousar e inovar, impor um ritmo frenético de mudanças, não esmorecer jamais. A "raça rubro-negra" sempre foi sua marca registrada, mas andava em falta. Vestir a camisa, suar, treinar com determinação, ter metas e correr atrás delas sem parar para descansar.

Ao ver o jogo deste domingo contra o CSA, isso ficou muito claro: parecia que o Flamengo estava disputando a final da Libertadores já! E os jogadores, assim como a torcida, celebravam a vitória como se fosse a final do campeonato. Cada vitória é importante. Cada passo leva a uma longa jornada vitoriosa.

O Flamengo é hoje, disparado, o melhor time do Brasil, como o presidente Bolsonaro reconhece. Deverá ser o campeão do Brasileirão e, se Deus quiser, da Libertadores. Jesus já é endeusado, faz milagres. Mas não foi um milagre do nada. Tem método, muito trabalho de bastidores, começou lá atrás, com uma equipe séria, talentosa e comprometida com o futuro do time. Não se trata de "one man show", mas sim de um grupo de pessoas com qualidades complementares, atuando de forma incansável em prol do conjunto. E está aí o resultado.

Sem ufanismo, pois não adianta só torcer; é preciso fazer. E claro que os invejosos vão arrumar bodes expiatórios para o sucesso relativo, vão falar em favoritismo de árbitros ou besteiras do tipo. Eis aí o principal obstáculo para o sucesso: a incapacidade de admirar quem é melhor.

O Flamengo soube, com humildade, aprender com os times europeus. Inspirou-se no que havia de melhor na praça, buscou copiar as lições que deram certo. Se o Flamengo teve jeito, então o Brasil também tem!

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