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A Revolução Verde x A revolução dos "verdes"
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Finalmente comecei a ler The Rational Optmist, de Matt Ridley, que vários amigos já tinham recomendado. Estou na metade, e é muito interessante realmente. A tese principal não é grande novidade: trata-se de um resgate de Adam Smith atualizado. O autor sustenta que foi o comércio que permitiu o avanço da civilização.

As trocas e a constante especialização do trabalho fizeram com que o ganho de produtividade possibilitasse o aumento exponencial da quantidade de seres humanos vivos, e com melhor qualidade de vida (sim, a visão idílica e romântica da vida no campo antes da revolução industrial não passa de um mito).

Mas depois faço uma resenha geral do livro, se for o caso. Aqui, pretendo focar apenas em uma pequena parte sobre a Revolução Verde, que salvou milhões de indianos na década de 1970. Compreender o que tornou esse “milagre” possível já é suficiente para evitar muita desgraça à frente.

Antes, o contexto. Os malthusianos ainda eram predominantes no século 20, e durante os períodos de fome asiática na década de 1960, seu pessimismo era avassalador. As colheitas fracassavam com as secas, e as pessoas morriam de fome em quantidades crescentes.

O governo indiano, influenciado pelas ideias socialistas, colocou a agricultura no topo de suas prioridades, mas eram os monopólios estatais que iriam cuidar da tarefa árdua de alimentar tantas bocas famintas. O resultado não vinha. As 5 milhões de toneladas de alimento que os Estados Unidos mandavam como ajuda humanitária evitavam uma catástrofe, mas não tinham como durar para sempre.

Na equipe do General Douglas MacArthur no Japão após a Segunda Guerra havia um cientista agrícola chamado Cecil Salmon. Foi quem descobriu um tipo de trigo que crescia menos do que outros. Coletou algumas sementes e mandou para os Estados Unidos, onde o cientista Orville Vogel, em Oregon, recebeu-as em 1949. À época, os fertilizantes não permitiam ganhos de produtividade, pois faziam a plantação crescer demais, e o pé de trigo caía.

Após cruzamentos entre algumas sementes e as que Salmon enviou, Vogel foi capaz de produzir variedades mais curtas de plantas. Em 1952, um cientista que trabalhava no México chamado Norman Borlaug visitou Vogel, e levou algumas amostras de volta ao México. Em poucos anos ele já conseguira triplicar a produção de trigo local. Em 1963, quase toda plantação de trigo no país já era com base nas sementes de Borlaug, e a produção nacional era 6 vezes maior do que quando o cientista chegou ao país pela primeira vez.

Por várias vezes Borlaug tentou exportar sua descoberta para países como Paquistão e Índia, mas encontrara forte resistência do governo e dos monopolistas locais. Espalhavam rumores de que aquelas sementes causavam doenças (soa familiar aos transgênicos atualmente?). O governo indiano não queria fertilizantes importados, pois pretendia estimular a indústria doméstica.

Após muita persistência, Berlaug conseguiu furar barreiras. Em 1968, com várias sementes mexicanas entrando na Índia, a colheis foi extraordinária. Faltava infraestrutura para dar conta de tanta produção! Em alguns locais os grãos tiveram que ser estocados em escolas, pois faltavam silos para armazenamento.

Em março deste ano, a Índia criou um selo postal para celebrar a revolução do trigo. Foi no mesmo ano em que o ambientalista Paul Ehrlich lançou seu famoso livro The Population Bomb, alegando que milhões morreriam de fome e que era uma fantasia achar que a Índia seria capaz de alimentar tanta gente. Como disse Ridley, “sua previsão se mostrou errada antes da tinta [do livro] secar”.

Em 1974, a Índia já era exportadora de trigo. A produção tinha triplicado. Berlaug havia iniciado a Revolução Verde, e seria laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 1970. Tudo graças ao comércio, ao conhecimento disperso em cada indivíduo, às forças do mercado não coordenadas pelo estado.

A Revolução Verde depende do capitalismo de livre mercado, e faz verdadeiros milagres. Já a revolução dos “verdes” (melancias, na verdade, pois são verdes apenas por fora, e vermelhos por dentro), sempre condenando o próprio capitalismo e o progresso tecnológico, assim como as trocas voluntárias em nível global (globalização), produz apenas retrocesso e fome.

Os malthusianos pessimistas costumam sempre errar. Mas, para tanto, é necessário que o mercado possa funcionar sem tantos entraves e obstáculos criados pelos governos. Pois se depender dos governos, Malthus terá sua revanche, não resta dúvida…

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