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A vaidade dos “combatentes do bem”
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O filósofo Luiz Felipe Pondé, autor da orelha de Esquerda Caviar, mostra em seu artigo de hoje na Folha que a vaidade pode estar por trás desses “combatentes do bem”, que quebram tudo pois estão certos de sua retidão moral e da justiça de seus atos. Tem tudo a ver com a tese do meu livro. Vejam alguns trechos:

O Brasil, que sempre foi violento, agora tem uma nova forma de violência, aquela “do bem”. E, aparentemente, quase todo mundo supostamente “inteligente” assume que é chegada a hora de quebrar tudo. Nada de novo no fronte: os seres humanos sempre gostaram da violência e alguns inventam justificativas bonitas pra serem violentos.

Impressiona-me a face de muitos desses ativistas que encheram a mídia nas ultimas semanas. Olhar duro, sem piedade, movido pela certeza moral de que são representantes “do bem”. Por viver a milhares de anos-luz de qualquer possibilidade de me achar alguém “do bem”, desconfio profundamente de qualquer pessoa que se acha “do bem”. Quando o país é tomado por arautos do “bem social”, suspeito de que chegue a hora em que a única saída seja fugir.

[…]

A certeza acerca da sua retidão moral é sempre uma mistificação de si mesmo. Os jansenistas sempre disseram que os que se julgam virtuosos são na verdade vaidosos. Suspeito que o que vi nos olhos desses ativistas nessas últimas semanas era a boa e velha vaidade.

Mas hoje, como saiu de moda usar os pecados como ferramentas de análise do ser humano e passamos a acreditar em mitos como dialética, povo e outros quebrantos, a vaidade deixou de ser critério para analisarmos os olhos dos vaidosos. Melhor para eles, porque assim podem ser vaidosos sem que ninguém os perceba. Vivemos na época mais vaidosa da história.

“A verdade não é primeira: ela é uma desilusão; ela é sempre uma desmistificação que supõe a mistificação que a funda e que ela (a desmistificação) desnuda”, afirma Pascal Quignard no prefácio do livro de Esprit. Eis a ideia de moral no jansenismo: a verdade moral é sempre negativa, sempre ilumina a sombra que se esconde por trás daquele que se julga justo.

Que Deus tenha piedade de nós num mundo tomado por pessoas que se julgam retas.

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