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Preocupar-se com o meio ambiente é absolutamente legítimo. Temer mudanças no habitat por conta da evolução urbana idem. O problema é quando isso vira bandeira ideológica ou seita religiosa, monopolizando tais fins nobres e impedindo um debate construtivo sobre o tema. Infelizmente, é o que muitos ambientalistas fazem.

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Para oferecer uma visão alternativa, o filósofo Roger Scruton escreveu o livro How to Think Seriously About the Planet, que traz uma abordagem conservadora sobre o assunto. Como ele mesmo diz, não se trata de uma solução detalhada para problemas específicos, e sim de uma perspectiva que fará com que tais problemas pareçam nossos de fato, que podem começar a ser resolvidos por atitudes locais.

O autor descarta as “soluções” radicais daqueles que sempre se imaginam no comando das coisas, no poder global, sem levar em conta outros valores, tais como as liberdades individuais. Para Scruton, os esquemas globais propostos pelos ambientalistas ignoram inúmeras peculiaridades de cada povo, assim como representam uma ameaça à democracia.

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Em vez de ativismo político, portanto, ele prega associações livres, nos moldes percebidos por Tocqueville como um diferencial do povo americano. O que ele deseja são instituições agindo em menor escala em vez de grandes campanhas mundiais que acabam tendo pouco impacto efetivo.

Tais associações atuariam sobre questões locais, tentando preservar certos aspectos da natureza não para “salvar o planeta”, um ideal nobre, porém utópico e perigoso, e sim para garantir um processo de mudanças locais mais suave, respeitando valores até mesmo estéticos das comunidades. Pode-se pensar nos grandes parques conservados nos Estados Unidos, como o Yosemite, que já visitei e, de fato, encantou-me.

Scruton respeita o livre mercado e o considera fundamental. Assim como julga necessário o império das leis, com algumas restrições legais que limitem o poder de estrago das grandes corporações. Os estudos mostram, contudo, que o livre mercado, com direitos de propriedade privada bem definidos e garantidos pelo império das leis, não apenas consome menos energia por produção comparável como também é mais adaptável às demandas por energia limpa.

Os conservadores, portanto, olham para o livre mercado como mecanismos sociais que se auto-corrigem, que podem absorver choques de fora, e também se ajustar às necessidades de seus membros. Se temos carros, objetos de luxo, comida barata e petróleo, é porque há demanda por tais produtos, e as indústrias apenas atendem a essa demanda por meio de uma “mão invisível”. É inócuo condenar a oferta e ignorar a demanda.

Segundo Scruton, tanto ambientalistas como conservadores estão em busca de algum motivo que proteja as sociedades e seus legados comuns da ação predatória da própria evolução global. Para ele, a causa comum é o território, que encontra sua expressão política mais forte no estado-nação. A contribuição conservadora ao pensamento ecológico seria, então, o desenvolvimento dessa ideia de um sentimento territorial, que contém a semente da soberania nele mesmo.

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O apego ao território e o desejo de mantê-lo protegido da erosão e do desperdício representam poderosos motivos para sacrifícios pessoais voluntários. Scruton descreve tal sentimento como oikophilia, que vem de oikos, ou da ideia de “amor ao lar”. Isso seria bem mais impactante do que “salvar o planeta”, algo extremamente abstrato.

As associações voluntárias locais existem para o propósito de seus membros, enquanto as grandes ONGs vivem por seus propósitos messiânicos, e olham para os membros apenas como fonte de recursos. Scruton se mostra bastante cético em relação a elas, e deposita sua esperança nas pequenas organizações locais.

Tais reflexões são apenas introdutórias, e eu mesmo tenho minhas ressalvas quanto a elas. Acho que o conservador tende a ser muito pessimista em relação ao futuro, e ter um apego muito forte ao campo, à vida na “natureza” intocada, ainda que idealizada muitas vezes (não falam em “inferno verde” à toa, como qualquer um que já entrou numa selva bem sabe).

Mas quando vemos o nível de poluição nas grandes cidades chinesas, por exemplo, ou o avanço descontrolado de arranha-céus que destroem toda paisagem mais bucólica em volta, tais preocupações se mostram legítimas. Há algum meio-termo possível? Há algum equilíbrio ideal?

Ao menos Scruton oferece um ponto de vista alternativo ao radicalismo holístico do ambientalismo tradicional, que tem servido apenas para concentrar mais poder e recursos em burocratas sem rosto e sem votos, numa espécie de “governo mundial” que pretende “salvar o planeta”, mas acaba destruindo comunidades locais e a própria democracia.

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Rodrigo Constantino