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Blue Jasmine: Woody Allen é Woody Allen
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Woody Allen é um dos maiores cineastas vivos. Conseguir produzir tanto como ele, e com tanta qualidade, só pode ser coisa de gênio. Seu novo filme, “Blue Jasmine”, não está entre os melhores, em minha opinião; mas nem por isso deixa de ser um grande filme.

Mistura comédia com drama na medida certa, com aquela trilha sonora que lhe é tão característica. Temas que já foram abordados em filmes anteriores voltam com delicadeza e maestria. A escolha dos atores, sempre tão fundamental para o sucesso do filme, é um de seus pontos fortes. Cate Blanchett simplesmente arrebenta!

Desde meninas, duas irmãs adotadas traçam destinos bem diferentes. A mais feia e brega repete duas vezes: foi a genética. A bela e sofisticada nega, mas como pode negar de fato? Como deixar de reconhecer que alguma influência razoável sua beleza exerceu nos caminhos que percorreu na vida?

Casa-se com o bem-sucedido financista Hal, personagem de Alec Baldwin, uma espécie de Bernard Madoff que se mostra um pilantra golpista. Leva uma vida de luxo e futilidade, típica da esquerda caviar, com filantropia e jantares para a alta sociedade. Tudo isso enquanto seu marido a trai com várias mulheres diferentes.

Quando Hal vai preso e perde tudo, Jasmine precisa ir viver com sua irmã pobre e brega. Mas chega de primeira classe, pois é o que se espera de alguém como ela, mesmo que endividada. O contraste entre a vida de ambas é esfregado na cara do espectador, com cenas do passado luxuoso se entrelaçando com a vida de gueto atual.

Essa tática impede o típico sensacionalismo dos “intelectuais”, que adoram a miséria… de longe. Woody Allen não apelaria para isso. Já usou o hilário personagem de Roberto Benigni em “Para Roma com Amor” para deixar claro que, se pode ser um fardo ser rico e famoso, pode ser muito pior ser pobre no anonimato.

Outra: sua irmã, sempre apegada a perdedores brutamontes, só não seguiu seus passos porque não teve oportunidade. Woody Allen é cruel, pelo excesso de realismo, ao retratar que a irmã quase vai na mesma trilha, quando a chance bate à sua porta. Não foi porque a porta se fechou. Voltou para seu mundinho medíocre, para os braços do neandertal. O amor de cabana é lindo? Não nos filmes de Woody Allen…

Por fim (e não leia quem ainda não viu o filme e pretende fazê-lo), a traição. Não a traição do marido, amorosa e moral. Essa não chega a ser traição, pois Jasmine claramente fazia vista grossa, para não perder a vida de princesa que levava. Mas a traição dela mesmo. Quem entrega Hal para o FBI é a própria, ao escutar dele que está apaixonado por outra. Age por impulso. Impulso de fera ferida, mulher traída, o mais letal que existe.

Destrói a vida do marido, claro, mas leva junto a sua e a do enteado. Há controle racional para impedir isso? Tarde demais. Já foi feito, antes mesmo de se dar conta. Não importam as conseqüências. É o que nos fascina: dependendo do contexto, Freud tinha um ponto: não somos tão senhores em nossa própria morada como gostamos de acreditar. A vingança acaba destruindo a própria pessoa acima de tudo. Mas dá para evitá-la sempre?

Só podemos lamentar que há poucas mulheres traídas em Brasília dispostas a jogar tudo pro alto e denunciar seus maridos corruptos…

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