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Sou apaixonado por livros, como deixei claro nessa palestra em evento literário no Ibmec. Compro mais do que consigo ler, e após lotar as estantes da casa, tive que aderir ao Kindle (e não é que gostei?). Considero a leitura um pilar fundamental para a civilização. Ler faz bem à saúde mental.

Mas claro, não qualquer livro. Lamento a profusão de lixo vendido como literatura, ainda que a leitura pop faça parte da vida, como entretenimento (e ainda assim é melhor do que muita alternativa). Considero que os clássicos não se tornam clássicos à toa: merecem atenção especial.

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Dito isso, não posso concordar com os pontos de Ednilson Xavier, presidente da Associação Nacional das Livrarias, em artigo hoje no GLOBO. Acredito que tem as melhores intenções, mas os meios pregados não me agradam de forma alguma. Diz ele:

O mercado encontra-se concentrado e apenas as grandes superfícies são beneficiadas – algumas, inclusive, nada têm a ver com livros e entraram nessa batalha para fisgar o consumidor – e as livrarias independentes são excluídas desse cenário, restando a elas somente o papel de “divulgadoras”. Não somos contrários a que o leitor compre pelo menor preço, mas sim contra a guerra e banalização do preço do livro que se estabeleceu em nosso mercado.

[…]

Será que somente grandes centros têm direito ao acesso ao livro e à leitura? A quem favorece esta concentração do mercado? Este formato permite, de fato, o acesso ao livro e à leitura, para nos tornarmos uma nação de leitores? Não temos dúvida de que esta concentração varejista ameaça a liberdade de expressão, a criação e fruição da leitura, causando o fechamento de pequenas e médias livrarias, prejudicando a geração de emprego, o empreendedorismo e a própria arrecadação de receita aos cofres públicos.

Precisamos de um pacto nacional que garanta a distribuição mais igualitária até os mais longínquos pontos de vendas de nosso país; que alinhe o papel de cada um na cadeia do livro, com o reconhecimento de que a presença de livrarias, neste cenário, pode contribuir para formação de leitores.

Necessitamos de uma política de estado que reconheça esse papel social da livraria como difusora do conhecimento, garantindo a bibliodiversidade, extinguindo este comportamento antiético, ilegal e predatório de algumas editoras, danoso à saúde de todo o segmento do livro.

O que fica bem claro é que o autor está demandando subsídios estatais e medidas protecionistas contra o livre mercado. Ele não é contra o leitor pagar menos pelo livro, mas é contra as grandes cadeias de livrarias que conseguem reduzir os preços dos livros. Parece contraditório. E é.

Há ainda um apelo um tanto socialista, e uma confusão de termos. Não é porque as grandes lojas atuam mais nos centros urbanos que o interior não tem “direito” a comprar livros também. Ora, ninguém impede uma empresa de abrir uma livraria nesses locais distantes. Mas claro que o preço não será o mesmo. A logística é diferente, a demanda, tudo.

Diga-se de passagem, quem mais fez para reduzir essa diferença foi a tecnologia capitalista. Na Amazon você compra o mesmo livro pelo mesmo preço no mundo todo! E chega na hora no seu Kindle. Não é fantástico? Se o mais importante é fomentar o hábito da leitura, ninguém fez mais do que a Jeff Bezos. E sem pedir um tostão ao governo!

Livrarias menores, sem os ganhos de escala, vão ter dificuldade de sobreviver mesmo. Se até a Barnes & Noble enfrentou sérias dificuldades financeiras, claro que a vida para as livrarias não será fácil no mundo moderno. Mas sempre haverá demanda para ofertas de nicho.

O que não dá é para pedir ajuda ao governo para dificultar a livre concorrência em nome de uma causa nobre, da cultura e coisa do tipo. Eu torço muito para que as livrarias sobrevivam. Mas elas terão que conseguir isso por conta própria. Caso contrário, quem será prejudicado é o próprio leitor. E isso não é justo.